Estradas de Ferro do Brasil
Centro-Oeste e Planalto Central
Flavio R. Cavalcanti - 29 Out. 2013
O longo planejamento de uma capital no planalto central do Brasil envolvendo, de fato, o planejamento do próprio espaço geográfico da Nação deixou enorme documentação sobre planos ferroviários e suas repercussões no âmbito das mais diversas ferrovias, em todas as regiões do país.
Porém, se nos deixarmos hipnotizar pela historiografia produzida pelos grupos controladores de cada ferrovia específica, o panorama nacional acaba jogado para escanteio.
Nos acostumamos a ver na historiografia tradicional, em grande parte produzida e financiada por grupos regionais, um universo mental sem qualquer interesse na formação de uma rede nacional de circulação interior, voltada para a integração das regiões e para a formação de um mercado interno de âmbito nacional.
Resgatar essa história ausente da historiografia ferroviária conhecida não é tarefa simples, nem rápida.
Esta é uma das tarefas primordiais de qualquer História do Centro-Oeste, do planalto central, e de suas ferrovias bem, como, das ferrovias associadas à região, ainda que jamais o confessassem.
Estas são algumas ferrovias envolvidas na construção de Brasília e no(s) planejamento(s) de um espaço geográfico nacional, unificado:
EFOM
/
RMV
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EFG
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VFCO
VF Centro-Oeste
Este grupo de ferrovias teve três fases essenciais, sob apenas dois nomes:
1 - Inicialmente, a
EFOM
regional, destinada a preencher localmente um vácuo deixado pela distorção dos objetivos nacionais, amplamente conhecidos (embora, não citados oficialmente) da
EFDPII
de ligar a Côrte (Rio de Janeiro) ao Oeste de Minas (na verdade, o Sul, avançando para o Oeste), atingir o planalto central, e integrar o Mato Grosso ao país, alcançando a fronteira da Bolívia.
2 - Numa segunda fase, uma ferrovia, ainda chamada
EFOM
já não apenas regional, para ligar o Rio de Janeiro ao planalto central de Goiás, nos primeiros meses da República.
Dentro da historiografia ferroviária, destaco um único autor, que distinguiu esta realidade tão simples, em meio ao palheiro das versões ideologicamente produzidas para ocultá-la Sergio Martyre, em seu livreto de 1975.
3 - Uma ferrovia
RMV
de volta aos objetivos regionais, de atendimento ao Oeste + Sul de Minas, agora, sim, sob um novo nome, estritamente local, apesar de federalizada, pelo menos quanto ao suporte legal, político e econômico. Por coincidência, um suporte federal nitidamente voltado para as questões nacionais ao contrário do que se pode constatar ao longo da República Velha.
Somente em um último instante, já sob os governos militares, e num último estertor dos sonhos e utopias que ainda sobreviviam na criação
RFFSA
pelo governo JK, adotou o nome, altamente significativo, de
VFCO
englobando a
EFG
que era sua extensão histórica natural.
EFG
Estrada de Ferro Goiás
De todas as ferrovias relacionadas à formação de uma rede interior para integração das regiões do Brasil em uma Nação unificada, nenhuma opõe tamanhas dificuldades à escrita de sua história, sem começar pela reposição dessa realidade, quanto a Estrada de Ferro Goiás.
Parafusos à parte...
É impossível dizer-se qualquer coisa séria sobre as origens da EF Goiás, sem dizer alguma coisa séria sobre as origens da Estrada de Ferro Tocantins e vice-versa.
Aí termina toda a historiografia de ambas as ferrovias antes de começar.
EFT
EF Tocantins
A Estrada de Ferro Tocantins foi concedida com o propósito específico de ligar o Norte do Brasil ao planalto central de Goiás, onde se previa, não apenas uma nova capital para o país, como o entroncamento central de um sistema ferroviário de integração de todas as regiões.
EFDPII
/
EFCB
EF D. Pedro II / EF Central do Brasil
Desde antes da criação oficial da EF D. Pedo II, e antes, mesmo, de Mauá iniciar a primeira ferrovia do Brasil, a palavra Central já significava que o objetivo da
EFDPII
era atingir o planalto central do Brasil e seguir adiante, até a fronteira da Bolívia.
A tese de que a
EFDPII
sob Ottoni, seu primeiro impulsionador prático e teórico tivesse o minimo interesse no projeto de Mauá, de alcançar Pirapora via Juiz de Fora, é uma versão que interessou, especificamente, a Mauá e a Mariano Procópio Ferreira Lage.
Este objetivo se manteve, mesmo quando oficialmente descartado, e ressurgiu inúmeras vezes, de modo mais ou menos dissimulado, ao longo de inúmeros escritos de engenheiros da velha
EFDPII
imperial e da renovada
EFCB
republicana.
CMEF
Cia. Mogiana de Estradas de Ferro
Toda história da linha de concessão geral (federal, na República) da Mogiana ligou-se, desde a origem, ao atendimento de um plano nacional de ferrovias para integração de todas as regiões do país, centralizado no planalto central goiano.
Leia-se Estrada de Ferro Goiás e Estrada de Ferro Tocantins, ambas sabotadas pelo comportamento adotado pela Mogiana.
Ainda que se goste de cultivar uma lenda de férrea competição entre ferrovias paulistas, fato é que todas elas submeteram-se, de bom grado, a um planejamento global ditado por Antonio da Silva Prado pelo qual, à Mogiana cabia interceptar (também) o avanço para Oeste de outras ferrovias (não paulistas), no Triângulo Mineiro e Goiás, a pretexto de pretender, um dia, fazer a ligação com o Norte, pelo rio Araguaia.
CPEF
Cia. Paulista de Estradas de Ferro
A Cia. Paulista foi uma das últimas ferrovias a envolver-se com o objetivo de construir uma nova capital para o Brasil no planalto central de Goiás.
Somente às vésperas da eleição de Juscelino Kubutschek, a
CPEF
apresentou, oficialmente, sua proposta de estender suas linhas até o planalto central desde que o governo federal pagasse um preço exorbitante, e permitisse à
CPEF
usufruir de todas as vantagens do investimento que o governo federal pagaria.
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