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Trem turístico Cruzeiro - São Lourenço
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O trem turístico de Cruzeiro (SP) a São Lourenço (MG) seria uma experiência com prazo de 3 meses, — para avaliação, — que afinal nem começou.
A RFFSA vai operar o trem turístico experimentalmente, por 3 meses, e as prefeituras servidas pela estrada se encarregarão da promoção, propaganda etc. Após esse período, será feita uma avaliação, e se decidirá pela continuação ou interrupção [Francisco Conde. “Quadro de Avisos”. Centro-Oeste nº 79, 1º Jun. 1993].
A primeira viagem comercial do novo “trem das águas”, que liga Cruzeiro a São Lourenço (MG), será no próximo dia 17. A passagem custa US$ 15 (Cr$ 834 mil). O trajeto tem 80 km e a viagem dura 4 horas. O trem tem 160 lugares.
O orçamento apresentado pela RFFSA estipula em US$ 6.000 (Cr$ 360 milhões) o valor de cada viagem. De início, as viagens serão por três meses, num período experimental. Sua continuidade vai depender da viabilidade econômica.
Serviço - O “trem das águas” fará duas viagens semanais, com saídas aos Sábados e Domingos às 9h e retorno às 16h. A passagem deve custar US$ 15. Informações na Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (tel.: 0125-44-0696), na prefeitura de Cruzeiro (tel.: 0125-44-1555) ou na Estrada de Ferro Campos do Jordão (0122-42-1811) [“Trem das águas cruza a Mantiqueira”. Enio Machado. Folha de S. Paulo, Jul. 1993 (acervo Marco Giffoni)].
O não-início foi, ao que parece, uma não-notícia, — pois era comum 2 ou 3 amigos enviarem recortes de tudo quanto saía nos jornais; — e constato que o Centro-Oeste praticamente não tinha correspondentes na região, para acusarem o fiasco do projeto por testemunho próprio.
Ao lançar a seção Plataforma de Embarque, no Centro-Oeste nº 85 [1º Dez. 1993], o passeio foi incluído, e continuou constando, regularmente, até meados do ano seguinte:
Cruzeiro (SP) a São Lourenço (MG) — 9h aos Sábados e Domingos — Estação Ferroviária de Cruzeiro, R. Eng° Antônio Penido, s/n° — Duração total 6h15m — Paradas de 20 minutos (na ida) em Passa Quatro, Itanhandu e São Sebastião do Rio Verde — Três carros com poltronas estofadas — Total 154 lugares — Restaurante — Guia — Lanche incluído — Passagem US$ 15 ida e volta — Informações 0125-44-1555 [“Plataforma de Embarque”. Centro-Oeste nº 90, 1º Jul. 1994].
O hiato na publicação da revista, de Julho a Outubro, comprimiu três meses de correspondências numa única edição, com perda de detalhes. Por isso, hoje não sei quem avisou da “suspensão” do trem, nem quando, nem em que termos:
Cruzeiro (SP) a São Lourenço (MG) – Suspenso para manutenção da via permanente – Sem prazo para reiniciar a operação [“Plataforma de Embarque”. Centro-Oeste nº 91, 1º Out. 1994].
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Outra reportagem (do Estadão, com fotos), também no mês seguinte à viagem experimental, já falava do trem turístico com os verbos no tempo “presente”, como algo estabelecido, e não como algo ainda por começar.
Descrevia um trem formado por locomotiva diesel + 3 carros + restaurante + bagageiro, com direito a um conjunto musical da região atendendo pedidos de bossa-nova, música sertaneja, clássicos do samba e o que há de melhor da MPB.
Além de Cruzeiro, o trem parava (segundo a reportagem) nas estações de Passa Quatro, Itanhandu, São Sebastião do Rio Verde e São Lourenço, cada uma, com “quiosques de artesanato regional, grupos de dança típica e bandas” [Da janela do trem, serra com cenas de trincheiras. O Estado de S. Paulo, Jul. 1993 (acervo Marco Giffoni)].
Que o trem turístico nunca começou a rodar, garantem Bruno e Felipe Sanches, da ABPF Sul de Minas [“Cruzeiro 1991”, no grupo Trens_e_Fotos, 19 a 24 Set. 2011]; e Helio Gazetta Filho, da ABPF Campinas [no grupo ABPF - Oficial, Facebook, 23 Set. 2015].
Houve apenas a viagem experimental, e/ou para convidados, em 26 Jun. 1993 (um Sábado), de acordo com os dados impressos por Kelso Medici no verso da foto; e conforme explicado por carta:
Estive em Cruzeiro, SP, em 26 Jun., para a inauguração do trem para São Lourenço, MG. Na verdade, não foi uma viagem para turistas, mas para os prefeitos da região e convidados, inclusive o pessoal da ABPF. A finalidade era inspecionar a linha, levantar horários e preços das passagens.
Informações impressas por Kelso Medici no verso da foto |
Apesar de ter conseguido uma "carona", preferi seguir de automóvel e filmar o trem no percurso até Itanhandu, MG. Nas estações, muita gente, faixas exaltando a volta do trem, bandas de música e - como não podia faltar - discursos com brechas para propaganda política.
A composição foi formada por 1 carro bagageiro, 1 de 1ª classe, 1 poltrona-leito e 2 de administração (nesta ordem), tracionados pela G12 n° 4190 da SR-2, bitola métrica.
A venda de passagens ao público deverá estar aberta por volta de Jul/15 (Kelso Médici. “Quadro de Avisos”, Centro-Oeste nº 81, de 1º Ago. 1983).
O não-início da operação turística também foi noticiado na imprensa, (dois anos depois, pelo menos), embora datando a viagem experimental em Julho, e chamando-a de inaugural:
O trem de turismo fez somente uma viagem inaugural em Jul. 1993, mas a linha foi suspensa porque as prefeituras envolvidas no projeto não arcaram com as despesas de restauração dos 80 km de trilhos [Empresa planeja reativar trem de turismo para transporte de cargas. Folha de S. Paulo, 2 Jan. 1995 (acervo Marco Giffoni)].
Helio Gazetta Filho fez a viagem experimental e/ou de apresentação até São Lourenço; e informa que, dali, o trem seguiu para Três Corações [no grupo ABPF - Oficial, Facebook, 23 Set. 2015].
Helio, Bruno e Felipe citam, ainda, duas outras viagens experimentais ou de apresentação, em datas não especificadas, uma, com um trem que incluiu carro-administração e carro-leito; e outra, com uma litorina trazida de Curitiba.
Já tinha ficado para trás a primeira gestão de Osíris Stenghel Guimarães na RFFSA, nos anos iniciais da Nova República (1985-1987?), quando locomotivas a vapor foram restauradas quase simultaneamente, em diversas oficinas, e colocadas a tracionar trens turísticos criados, em rápida sucessão, em várias regiões do Brasil.
Após o governo Collor, a RFFSA tentava transferir, reativar ou até criar trens turísticos e de passageiros mediante contrato específico com empresas privadas e/ou entidades não-governamentais [Aviso. RFFSA. Diário Oficial da União, 14 Out. 1992].
É nesta nova fase que se tornou comum ver trens turísticos tracionados por locomotivas a diesel.
O projeto do trem turístico Cruzeiro - São Lourenço pertence inteiramente a esta segunda fase.
Vinha de longa data, com ou sem participação dos prefeitos de cada época, a movimentação da antiga ABPF Cruzeiro para a criação do trem turístico.
Mais de 2 anos antes, por exemplo, registrava-se que a ABPF-Cruzeiro já tinha contrato para utilização turística do trecho Cruzeiro - São Lourenço, bem como havia solicitado locomotivas a vapor da RFFSA que, naquele momento, não tinham utilização, nem futuro certo; e que a prefeitura de Cruzeiro prepara infraestrutura para oferecer mais conforto aos visitantes [Cruzeiro aposta no trem turístico. O Estado de S. Paulo, 3 Mar. 1991; Centro-Oeste DC-14-15, 30 Jun. 1991].
No segundo semestre de 1991, registra-se nova reunião do diretor da ABPF Cruzeiro, do prefeito de Cruzeiro e 2 vereadores com a RFFSA para reforçar a solicitação do trem turístico [Prefeito. Luiz Octavio (ABPF-RJ). Quadro de Avisos. Centro-Oeste DC-21, 30 Nov. 1991].
Em Mar. 1993, as notícias já indicam a participação também da EFCJ no projeto do trem turístico Cruzeiro - São Lourenço, que considerava potencialmente lucrativo. Já tinha agendado reunião com prefeitos da região, para 16 Abr., e previa que, se o acordo com os prefeitos for fechado, e o governo estadual autorizar, o trem poderá estar funcionando em 1 ano [Folha de S. Paulo, 28 Mar. 1993; Centro-Oeste nº 79, 1º Jun. 1993].
Em Mai. 1993, noticia-se que o trem turístico entraria em operação já no dia 5 Jun., sempre aos Sábados e Domingos, com 1 locomotiva diesel-elétrica, carro bagagem, 3 carros de passageiros e 1 carro-restaurante. Detalhes seriam resolvidos em 18 Mai., numa reunião dos prefeitos de Cruzeiro, Passa Quatro, Itanhandu, Pouso Alto, São Sebastião do Rio Verde e São Lourenço com dirigentes da EFCJ, ABPF e RFFSA:
“De acordo com o deputado Ary Kara José (PMDB), o governador Luiz Antônio Fleury Filho já autorizou a EFCJ a operar o ramal turístico, em conjunto com a RFFSA, atuando no controle e emissão de passagens e verificando a demanda de passageiros. Ao final dos 90 dias em que a RFFSA deverá explorar o trecho, se o movimento da nova linha for considerado rentável, a EFCJ ficará responsável pelo trecho, em convênio com a ABPF” [Jéfferson Mello, O Estado de S. Paulo, 14 Mai. 1993 (acervo Carlos R. Almeida)].
Somente no dia 7 Jun. 1993 o prefeito de Cruzeiro recebeu a confirmação da viagem de inspeção marcada para 26 Jun. e, apesar de tantas declarações de preparação, ao longo de 2 anos, sua reação parece ter sido a de reclamar da exiguidade do tempo:
De acordo com o jornal ValeParaibano de 9 Jun., até o dia 26, funcionários das prefeituras conveniadas — Cruzeiro, Passa-Quatro, Itanhandu, Pouso Alto, São Sebastião do Rio Verde e São Lourenço — trabalhariam para limpar e restaurar as estações do trecho.
As prefeituras têm 90 dias para promover — e conseguir — a demanda de passageiros, através de agências de viagens e sindicatos hoteleiros. Elas ainda pensam em promover espaços culturais nas estações, com comidas típicas, artesanato, folclore, para atrair turistas [ValeParaibano, 9 Jun. 1993; Quadro de Avisos. Centro-Oeste nº 80, de 1º Jul. 1993].
Não encontro menção à participação ativa de outras entidades da sociedade, como associação comercial, diretores lojistas, entidades patronais de hotelaria ou associações de artesãos, por exemplo fundamental para que um projeto turístico saia da dependência dos políticos para se tornar patrimônio da sociedade.
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