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Os “antigos” trens turísticos puxados por locomotivas a vapor, a popular “Maria-Fumaça”, são um fenômeno recente, posterior à implantação generalizada da tração diesel-elétrica e ao sucateamento quase completo da frota de máquinas movidas a carvão e a lenha, ao final da erradicação de milhares de quilômetros de linhas e ramais considerados “antieconômicos”.
Embora fortemente influenciada pelo movimento de preservação da memória ferroviária, que começava a se articular em torno da ABPF fundada em 1977, por iniciativa do francês Patrick Dollinger, a criação desses “museus dinâmicos” representados por trens turísticos a vapor ganhou seu primeiro grande impulso através da RFFSA no curto período em que foi presidida pelo ferroviarista e preservacionista Osiris Stenghel Guimarães, quando a própria empresa estatal já estava nitidamente marcada para a extinção.
É verdade que já existiam ferrovias e trens turísticos no Brasil, porém sem motivação preservacionista, e sem tração a vapor.
1884 - Estrada de Ferro do Corcovado
1914 - Estrada de Ferro Campos do Jordão
196? - Trens turísticos Curitiba - Paranaguá
Desde o início, ainda no Império, a EF do Corcovado foi concebida para a exploração de um mercado "turístico", à imagem de serviços já então existentes na Suíça, por exemplo, e um hotel-restaurante era peça fundamental do projeto. Como "programa de lazer", esse “passeio” já era comum, a cavalo, desde a época da Independência. E só meio século mais tarde, na década de 1930, o monumento ao Cristo Redentor viria reforçar a segunda parte do roteiro, até o mirante no topo da montanha.
O projeto da EF Campos de Jordão também guardava semelhança com serviços existentes na Suíça, uma estância climática nas montanhas, para a cura de doenças pulmonares, e só a partir da década de 1960 teve seu foco mudado para o mercado de "turismo", embora já atraísse público por simples lazer.
Ambas foram eletrificadas ainda no início do século XX (1910, 1924), e a locomotiva a vapor é uma lembrança muito remota, ou mera atração eventual, um tanto “artificial”, e bem recente. E ambas haviam chegado ao fundo do poço, nas décadas de 1960 e 1970, em paralelo à erradicação de trilhos e sucateamento de locomotivas a vapor no resto do Brasil.
A antiga ferrovia Curitiba-Paranaguá, pelo contrário, foi construída para o transporte geral, visando a ocupação e o desenvolvimento econômico do planalto paranaense, vencendo a Serra do Mar, embora desde as décadas de (1930?) e 1960 já se investisse em alguns trens especificamente de "turismo".
Nos três casos, paisagens e clima “de montanha”, não a preservação da história ferroviária, nem o “trem a vapor”, eram a motivação principal.
Por esse mesmo enfoque, ferrovias realmente antigas, para Petrópolis, Teresópolis, as estâncias das Águas do Sul de Minas, também já haviam atraído bastante movimento “turístico”, em outras épocas, sem terem essa finalidade. Do mesmo modo, em sentido inverso, balneários e cassinos, porém, pouco ou nada restava, no final da década de 1970, frente ao alcance muito mais amplo da aviação e do automóvel particular.
Os museus e os trechos restantes da EF Madeira-Mamoré, da “Bitolinha” da EF Oeste de Minas e do antigo traçado da Cia. Mogiana de EF entre Campinas e Jaguariúna (VFCJ) foram “criações” bem mais recentes, em grande parte, fruto de esforços que começavam a se articular em torno da ABPF para salvar um pouco do que ainda restava do suceateamento de dezenas de milhares de locomotivas a vapor e do Programa de Erradicação de Ramais Ferroviários Anti-Econômicos, aprovado pelo governo Jânio Quadros (1961) e posto em prática como um trator pelos governos a partir de 1964.
1981 - Locomotiva nº 353 “Velha Senhora”
1981 - EF Madeira - Mamoré
1981 - S. João del Rei - Tiradentes
1984 - VF Campinas - Jaguariúna
Nesse grupo, enquadram-se a criação do Museu e Trem Turístico da EF Madeira-Mamoré em 5 Mai. 1981; e a criação do Museu e Trem Turístico da EF Oeste de Minas, em 28 Ago. 1981, fatos e datas de caráter mais “oficial” do que “efetivo”, desde então, sujeitos às oscilações de diferentes entidades públicas e estatais.
De maior visibilidade para o público em geral, talvez tenha sido a recuperação pela RFFSA da antiga locomotiva a vapor nº 353 da EFCB a “Velha Senhora” que passou a ser utilizada em excursões ferroviárias organizadas pela ABPF nos finais de semana.
Em 14 Jul. 1984, finalmente a ABPF inaugurou seu Museu e Trem Turístico VF Campinas-Jaguariúna, que, desde então, tem sido o percurso mais sólido e permanente, nessa área.
A posse de Affonso Camargo no Ministério dos Transportes e de Osiris Stenghel Guimarães na presidência da RFFSA no governo organizado por Tancredo Neves, com início em 15 Mar. 1985, foi o ponto de partida para a implantação de vários trens turísticos a vapor.
Em Dezembro daquele ano, já corriam vários trens turísticos da RFFSA embora apenas em caráter “inaugural”, ainda sem agenda regular:
1º Dez. 1985 - Fortaleza à Serra do Baturité
26 Dez. 1985 - Curitiba a Lapa
Janeiro 1986 - Tubarão a Criciúma
Para torná-los realidade, com operação regular, foi necessário recrutar ferroviários já aposentados, habilitados a reativar antigas oficinas de locomotivas a vapor, cujas peças precisavam ser feitas artesanalmente, para recuperá-las; além de remodelar trechos abandonados ou sem condições de segurança para o tráfego de passageiros.
Fev. 1986 - Curitiba a Lapa
30 Mai. 1986 - Ouro Preto - Mariana
19 Jul. 1986 - Conrado - Miguel Pereira
30 Set. 1986 - Paranapiacaba (Funicular)
Também foi ensaiado um trem a vapor entre a estação da Luz e Paranapiacaba, tracionado pela locomotiva nº 353 “Velha Senhora” da EFCB e, para as férias do final do ano, o governo paulista restabeleceu o percurso completo da Estrada de Ferro Campos do Jordão para fins turísticos.
A ideia da preservação ferroviária, ancorada em trens turísticos a vapor, parecia uma realidade estabelecida, com o Calendário Fresinbra 1987 “A volta da Maria-Fumaça”.
Trem do Corcovado
São João del Rei
Campos do Jordão
Ouro Preto - Mariana
Trem das Águas
Trem da Mantiqueira
Trem das Termas
Montanhas Capixabas
Barra do Rio Grande
Teleférico de Ubajara
Vitória - Belo Horizonte
São Luís - Parauapebas
A volta da Velha Senhora
São Paulo - Santos
Cruzeiro - São Lourenço
Trem da Mata Atlântica
Trem dos Inconfidentes
Trem Curitiba - Lapa