O transcontinental do Mercosul
Délio Araújo
Centro-Oeste nº 79 - 1º Jun. 1993
O governador da província argentina de Tucumán, Ramon Ortega, defendia uma idéia que talvez se torne realidade. Defendeu-a
tenazmente, até no Brasil.
Trata-se de estabelecer um corredor ferroviário definitivo, de transporte entre o Pacífico e o Atlântico.
O primeiro trem estava definido para deixar Antofagasta, no Chile, aproveitando a linha de Antofagasta a Salta (Argentina); e, via Bolívia,
chegar a Santos, no litoral paulista, após um percurso de 4.343 km.
O percurso total aproveita trechos já existentes nos 4 países percorridos. Por outro lado, o tempo exigido — 9 dias — evidencia
a baixa velocidade comercial da operação.
A Fepasa sediou nos dias 6 e 7-Abril, um encontro onde representantes do Chile, Argentina, Bolívia e Brasil estabeleceram a sistemática
do tráfego.
Esperava-se que, embora o trem seja promocional, possa atrair de 4.000 a 4.600 toneladas / mês. No futuro, talvez haja operação
semanal.
O trajeto de Santos - Bauru (Fepasa) - Corumbá (RFFSA) - Santa Cruz de la Sierra - Yacuiba (Bolívia) - Tabacal - General Martin
Miguel de Güemes - Salta - Santo Antonio de los Cobres - Socompa (Argentina) - Antofagasta (Chile) tem sua parte mais difícil
entre Salta (Argentina) - Socompa (fronteira) - Augusta Victoria (Chile) - Portezuelo. Esta parte cruza os Andes e, entre Augusta Victoria
e Portezuelo, atravessa uma das regiões mais inóspitas do planeta.
Ao que parece, data de 1884 a primeira idéia de ligar Antofagasta a Salta pelo passo ou garganta de Huaytiquina.
Conforme o projeto que vi nos EUA, há uns 30 anos, redigido em inglês, o ponto crítico seria o desfiladeiro do Huaytiquina,
em seu ponto mais elevado, a 13.780 pés (4.200 m) de altitude.
Um exemplar do New York Times de 1920, consultado na biblioteca do Congresso, em Washington, apresentava argumentos a favor desta ligação
entre o Chile e o norte da Argentina.
A economia de distâncias e tempo recomendava esta linha férrea, pois as ferrovias argentinas, ou começavam em Buenos
Aires, ou corriam da região de Salta para os portos fluviais de Formosa e Resistencia, no rio Paraná.
Consultando um mapa da Argentina, vemos que essa economia seria real. Veremos, também, as linhas para Formosa e Resistencia.
Por outro lado, concluiremos que o melhor trajeto para uma transcontinental que saísse de Santos seria pelo Paraguai, passando por
Foz do Iguaçu, Assunción, e com ligação para a linha de Formosa.
O Brasil sempre preferiu Santos - Arica, muito mais difícil, com uns 40 km só de cremalheira, entre Central e Puquias, o mais
longo trecho de cremalheira do mundo; e com o trecho Santa Cruz de la Sierra a Cochabamba — caríssimo — ainda por construir, sem previsão
de realização até hoje.
E o percurso seria mais longo do que por Salta e Paraguai.
A linha Antofagasta - Salta atinge altitudes mais elevadas do que a linha entre Mendoza (Argentina) e Los Andes (Chile) — mais conhecida
como Transandina.
A de Antofagasta também é conhecida como Transandino del Norte, porque Antofagasta e Salta estão nas regiões
norte do Chile e da Argentina.
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