Nacional é ruim?
Qualquer pessoa que tenha superado a fase do desenho animado "eixo
do bem vs. eixo do mal" está habilitada a perceber
um aspecto relevante do mundo 1:1 — a falta de simetria nas relações
internacionais.
As condições de mercado não são idênticas
para um fabricante americano, europeu, inglês, ou de terceiro
mundo.
A "lógica", porém — e não esqueçamos
que a difusão de "lógica" é uma indústria global, sustentada
por interesses de âmbito planetário — muitas vezes
omite detalhes interessantes.
Manda a "lógica" que, no terceiro mundo, louvemos o produto do 1° mundo
e desprezemos o esforço de empresas que, afrontando condições
nitidamente adversas, tentam produzir aqui, gerando emprego e renda para
o seu, o meu, o nosso conterrâneo.
Na falta de uma lógica inversa, fica a sensação
de que os modelistas de 1° mundo encaram as imperfeições
de seus fabricantes como algo a esperar (e torcer) que seja corrigido.
Quem cultiva a filosofia Seicho-No-Ie, segundo a qual cabe a nós
atrair felicidade, talvez já tenha tido oportunidade de saborear
a deliciosa lógica — se não me engano, um texto do
pós-guerra — segundo a qual, a máxima felicidade
para nós e para os nossos advém de comprarmos produtos
nacionais.
Escrito no Japão, claro.
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Escala 1:87,0857142857142857142857142857143
Procon, revolta & etc.
Flavio R. Cavalcanti
A definição básica de que a escala HO constitui
uma representação do mundo reduzida em 1:87 é uma
simplificação relativamente grosseira — produzida em benefício
dos que (ainda) não são ferreomodelistas.
Um simples artigo sobre a história das escalas
e bitolas basta para evidenciar que nunca houve muita lógica
no assunto. Um segundo artigo, ou um
terceiro, dificilmente irão concordar totalmente com o primeiro,
aumentando ainda mais a confusão. Chega-se a duvidar, até,
se "HO" é uma "escala" ou uma "bitola".
Escalas e bitolas foram sempre lançadas por empresas 1:1, na dependência
de condições técnicas e comerciais de cada época
e mercado — e em competição férrea, umas com as outras.
Sobreviver tem sido muito mais uma questão de reduzir custos e
vender mais, do que de fabricar modelos estritamente em escala.
Daí o esforço de modelistas em estabelecer algumas normas
básicas — e mesmo então, surgem 3 padronizações
diferentes: NMRA (Estados Unidos), Morop / NEM (Europa continental) e
BRMSB (Grã-Bretanha).
Isso não impede que muitos modelos, de grandes fabricantes, deixem
de estar — parcial ou totalmente — fora da escala teórica.
Ao divulgar o projeto de Nilson Rodrigues para detalhar e colocar a G-12
Frateschi mais perto da escala 1:87 (Trens & Modelismo n°
34), José Agenor cita o caso das GP9, SD9 e GP35 Athearn — que
até hoje mantêm o corpo excessivamente largo com que foram
lançadas, há anos, embora hoje o fabricante disponha de
motores menores do que na época.
Mas note-se: – A referência é sempre a motores "técnica
e economicamente viáveis". O que é viável em
modelos para uma elite, pode não ser em modelos ao alcance da maioria.
Enfim, a confiabilidade de fornecimento continuado faz parte do cálculo.
Assim, dificilmente poderíamos imaginar um mundo 1:1 onde a escala
1:87 — ou qualquer outra — fosse exata até o último suspiro.
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