Flávio R. Cavalcanti
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A "Época Atma" durou quase 1/4 de século, de 1958 a 1982 — quando a empresa entrou em concordata e suspendeu a área de ferreomodelismo.
A base principal, ao tentar fazer um levantamento dessa época, são os registros escritos. Isso favorece uma divisão da época Atma em períodos que acompanham os "ciclos" da escrita.
Talvez não seja tão arbitrário. A existência de publicações num momento — e sua inexistência em outro — é uma consequência dos acontecimentos gerais de cada período.
De 1957 a 1963 — possíveis limites do trem Atma movido a corrente alternada (CA) —, circula no Brasil a Mecanica Popular (EUA), em espanhol. Circula, desde muito tempo, a Model Railroader, conforme deduzo dos exemplares de 1947 que o amigo José Agenor tinha em duplicata.
No Sul, circula a revista argentina Hobby, dedicada a trabalhos manuais em geral, inclusive nauti e ferreomodelismo.
Essa literatura (e outras, que ignoro) oferece suporte a inúmeros modelistas isolados entre si, vivendo em mundos estanques, pois não lhes oferece a "ligação local".
A única "fonte escrita" de que disponho, sobre a Atma, nesse período, é o livro de instruções do seu trem de corrente alternada — abreviadamente, Manual CA — e o folheto de instruções do AMV. Vieram com o conjunto adquirido em 1961 por Carlos Alberto Pereira, Paraíba do Sul, RJ.
Sob vários aspectos, o "Manual CA" é mais completo e — principalmente — mais "adulto" do que o posterior "Manual CC". Além de maior, o Manual CA aborda mais aspectos do ferreomodelismo como hobby, propriamente dito.
Aborda questões importantes, do projeto e construção de uma mini-ferrovia — inclusive de maior tamanho e diferentes formatos, ao longo da parede etc. —, englobando a infra-estrutura de carpintaria, paisagismo (morros, lagos, túneis). Oferece projetos (sugestões) maiores e mais variados, embora a existência de uma única grade curva dê aos projetos certo "quadradismo". Estende-se mais detalhadamente sobre as ligações elétricas e situações especiais.
É mais "generoso", ensinando o uso de 2 baterias de carro (em substituição ao Controlador), para áreas sem energia elétrica, predominantes no Brasil dos anos 50. Recomendando que, ao abrir a embalagem, o consumidor confira se estão presentes todos os itens do conjunto — 6 grades retas, 12 grades curvas, Controlador, loco, vagões etc.
De 1964 a 1966 — quando a Atma já estava produzindo seu trem de corrente contínua (CC), com modelos mistos de metal e plástico —, a única literatura que encontrei foi o livreto Como montar e operar seu trem elétrico Atma HO, versão antiga. Refiro, abreviadamente, Manual CC-64 pois, na documentação da tralha arrematada, veio cópia de uma ordem bancária DF-Guanabara, de 1964.
É levemente diferente do Manual CC dos anos 80. Traz 3 cartas, respectivamente, "ao chefe do trem", à mãe e ao pai do chefe do trem; além de 2 folhas avulsas com curiosidades, tipo "Você sabia que...".
Na página 3, recomenda a rede de assistência técnica, que na versão dos anos 80 será substituída por "procure uma oficina especializada". Na página 5, apresenta 4 Controladores (ref. n° 10, 15, 16 e 35), que na versão dos anos 80 serão substituídos por um único (ref. n° 35). Na página 15, mostra a vista "explodida" do Controlador n° 35, indicando pontos de limpeza; isso não existe na versão dos anos 80.
Independente dessas variações, o "Manual CC" passa uma idéia menos generosa, no trato com o leitor. Há uma preocupação em afirmar que todos os conjuntos foram testados por 30 minutos, e em frisar que o consumidor não deve mexer onde não entende — como quem se previne contra reclamações ilegítimas.
De 1967 a 1969, a curta existência de uma revista chamada "Sport Modelismo" proporciona uma "janela" incrível, para se visualizar — de relance — um breve momento de todos os modelismos, no Brasil.
Iniciava-se o chamado "Milagre Brasileiro" — período de crescimento econômico, com muito dinheiro correndo, apesar da manipulação de índices que "roubou" aos salários metade dos... 23% de inflação anual! —, e por algum motivo a importação estava relativamente aberta.
Editada em SP/SP pelo aeromodelista Walter Nutini — que também foi gerente comercial da Revell no Brasil — a "Sport Modelismo" parece ter surgido na crista de uma onda fugaz de florescimento dos hobbies no País, no curto período em que a importação ainda estava aberta, e o dinheiro já estava correndo.
A primeira impressão, ao folhear-se os exemplares da SM, é que os hobbies no Brasil estariam se expandindo e conquistando adeptos num ritmo vertiginoso. Lojas vendendo e prosperando. Importadores e representantes de marcas estrangeiras, vibrando de entusiasmo. Clubes fazendo e agitando. Modelistas comprando, aprendendo e indo em frente.
Com o "fechamento" das importações, a economia cresceu ainda mais, mas aquela "onda" dos hobbies quebrou na praia. As vendas despencaram, algumas lojas fecharam, e a publicidade veiculada na SM caiu, retirando-lhe sustentação. Os últimos números tornaram-se mais espaçados e, em 1969, já não tinham data na capa.
Sob inúmeros aspectos, a SM de Walter Nutini foi a melhor revista que já tivemos no Brasil. Havia grande volume de publicidade, mas o espaço era ainda maior. Uma verdadeira avalanche de matérias técnicas e notícias, organizadas em diversas seções, cobrindo todas as modalidades — aero, nauti, ferreo, auto —, com grande número de fotos. Sua distribuição, porém, era limitada a um pequeno número de lojas, em poucas cidades e capitais. Não ia às bancas em geral.
De 1969 a 1979 — período em que o trem Atma parece ter vivido seu auge e seu declínio, em qualidade —, não encontrei publicações regulares.
Não só desapareceu a SM, como os clubes parecem ter entrado em recesso. A SBF (1960) e a AMF (1964) permanecem sem maquetes; e a ABMF desaparece com seu fundador.
Essa calmaria, porém, é enganosa. Nelson Mártyre e Nelson F. de Lima publicam em mimeógrafo um livreto sobre a EF Oeste de Minas (EFOM), em nome da SBF. Isso não acontece no vazio. A SBF não está arquivada (ou, pelo menos, alguns sócios não estão).
Sob essa calmaria aparente, a Frateschi continua construindo seu projeto de um modelismo brasileiro. Lança mais 4 kits decorativos; usina mais 4 moldes injetáveis — novos modelos de vagões —; e sua primeira locomotiva, a G-12 / G-8, com motor Oxford (de autorama) alojado embaixo do chassi, no "tanque de combustível".
Em 1977, lança sua grade básica de 22 cm. Alguma divergência entre Galileu e Celso Frateschi é superada, ambos passam a dedicar-se exclusivamente à fábrica, e traçam os planos para completar a linha de itens indispensáveis — grades, AMVs, Controlador —, melhorando os vagões e a loco já existentes.
Também em 1977, o francês Patrick Dollinger convocará pessoas, através de anúncio em jornal, para fundar a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF).
De 1979 a 1984 — período em que a Atma já podia se considerar fora do mercado —, volta a existir uma publicação regular, ainda que concentrada apenas na Frateschi — o Informativo Frateschi (IF). A partir daí, as coisas voltam a acontecer em outro ritmo.
Em 1979, a Associação Fluminense de Modelismo Ferroviário — AFMF, atual Clube do Trem — inicia a construção de sua maquete. Em 1980, a SBF inicia sua maquete no Ibirapuera. Em 1981, a AMF obtém uma sala na Estação da Central em BH; Tomás Reis funda a União Mineira de Modelismo (UMM), também em BH; e surge a Associação Gaúcha de Ferreomodelismo (Agafer), em Porto Alegre.
São 5 clubes que nascem, renascem ou entram em atividade concreta, em apenas 2 anos! Sintomaticamente, todos vingaram — como vingou o IF (44 números em 9 anos), atual RBF.
Em 1982, é fundada a Sociedade de Modelismo Ferroviário de Brasília (SMFB), com chamada em rádio FM.
Como para provar que a escrita acompanha os acontecimentos, em 1981, Antônio Marques lança em SP/SP seu Apontamentos sobre Ferreomodelismo em HO — primeiro manual brasileiro em mais de 20 anos.
Meses depois, ainda em 1981, a Frateschi lança a 1ª edição do livro "Ferrovias para Você Construir".
Apenas 8 meses depois, o manual Frateschi já estará na 2ª edição. Em 4 anos (81 a 85), chegará à 4ª edição.
Em 1982, surge em São Paulo a Esporte Modelismo (EM), sem qualquer relação com a antiga SM. Até o n° 17, será irregular, poucos anúncios, porém boas reportagens na área de ferreo.
A partir de 86, torna-se verdadeira máquina de anúncios e adquire regularidade (45 em 45 dias), chegando hoje ao n° 70, distribuído em Set/21 pp.
A Atma entra em concordata em 1982, e o trem elétrico tem sua produção suspensa. Em 1984, fará a última leva de 5 mil caixas do "Kit-Trem".
Em 1983, Patrick Dollinger lança o "Boletim ABPF" — que jamais se tornou publicação regular. Sérgio Mártyre lança o livreto "EF Donna Thereza Christina — A Ferrovia do Carvão".
Em 1984/Dez, a SMFB lança a primeira edição do boletim informativo Centro-Oeste — 107 exemplares em mimeógrafo eletrônico.
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