Revista "Nossa Estrada"
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Quando Alfredo Lupatelli ainda tinha sua loja na R. Capitão Salomão, 80, e os números dos telefones ainda tinham apenas 6 dígitos, a revista Nossa Estrada, da Fepasa, publicava uma reportagem interessante, com Sérgio Sipião Bezzi Bandini, um industrial de Jundiaí.
Bandini era, então, um ex-modelista, resistindo até mesmo a falar sobre o hobby. Ainda guardava uma pequena parte de sua antiga coleção, num quarto transformado em oficina. Mas há tanto tempo não mexia com os trens que, ao tentar demonstrar o funcionamento de certa máquina, na bancada de testes, simplesmente não conseguiu encontrar o controle adequado.
Já se vê que o repórter Afrânio Bardari, da Nossa Estrada, não estava para ouvir lorotas. Estava atento.
Em resumo, Sérgio Bandini entrou para o ferreomodelismo em 1949, logo após a II Guerra Mundial, quando nasceu seu primeiro filho. Queria "dar ao menino" o brinquedo que seu pai nunca pudera lhe dar. Adquiriu um trem a vapor na antiga Loja Gagliano — e não ficou só nisso. (Quanto ao menino, a reportagem não esclarece se, algum dia, chegou a pôr as mãos no "presente"...).
Comprava o que podia, quando podia. Logo, percebeu que poderia comprar muito mais, se comprasse trens usados, principalmente com defeitos. Consertava, pintava, foi reunindo todo ferramental necessário.
De repente, passou a ser solicitado para consertar os ferreomodelos de outros colecionadores, que na época — início dos anos 50 —, segundo ele, eram muitos. E explica por quê eram muitos:
A indústria americana, durante a guerra, havia se expandido muito. A Lionel, por exemplo, tinha crescido para fornecer material de guerra. Com a paz, era preciso voltar à produção normal — porém em maior quantidade, para não haver queda de faturamento. E era preciso dar emprego ao pessoal desmobilizado. A Lionel, por exemplo, voltou ao mercado com a produção dobrada, tornando-se a maior indústria de brinquedos do mundo, segundo Sérgio Bandini.
Além disso, o Brasil havia acumulado grande superávit de exportações, durante a guerra e, a seguir, com o Plano Marshall na Europa. Havia saldo, e a política era importar, para gastar.
O plástico também veio baratear os modelos, até então feitos apenas em metal.
Tudo isso, na explicação de Bandini, contribuiu para que, de repente, crescesse o número de colecionadores de modelos ferroviários no Brasil.
Dos pequenos consertos, Bandini começou a dar assistência técnica. Das compras e consertos de material usado, iniciou um pequeno comércio. Houve certo momento, afirma, em que o hobby lhe rendia mais do que ganhava como técnico de laboratório no DER paulista. Entre seus clientes, estava Eduardo Matarazzo, que tinha "uma das mais completas ferrovias em miniatura do mundo".
Nesta época, Sérgio Bandini afirma ter sido um dos primeiros homens do Brasil a negociar exclusivamente com miniaturas de trens. Não havia nenhuma loja especializada nesta área, no Brasil.
Ele acredita que, se tivesse continuado, acabaria tendo uma loja especializada, "como a que Alfredo Lupatelli tem hoje, na R. Capitão Salomão, n° 80".
"Alfredo, um ex-relojoeiro — conta Sérgio Bandini —, começou como ele, colecionando, consertando e vendendo miniaturas recuperadas, a outros colecionadores. Sua loja, a única do ramo em São Paulo, foi a primeira do País a operar só com miniaturas de brinquedos.
"Bandini vendeu a maior parte de sua coleção quando precisou construir a casa onde mora atualmente, na R. Anchieta, 164, em Jundiaí. Foi quando também estava instalando uma pequena indústria de chaveiros. Essa indústria também lhe tirou o tempo necessário para dedicar-se ao remanescente da antiga coleção, que tem guardada numa saleta no fundo da sua casa.
"Ainda com a mesma hesitação que tem, em falar dos seus tempos de colecionador, Sérgio resolve mostrar o que resta do seu hobby. Tão diminuta é a saleta, que dá idéia de que realmente não deve restar muita coisa, conforme ele diz.
"Porém, quando ele abre um armário embutido, quase oculto, percebe-se imediatamente a enorme quantidade de material que ainda possui. São milhares de peças de todos os tipos, e para todos os fins, que aparecem das gavetas de aço, que vai abrindo.
"Ainda há muitos vagões, tenders, AMVs e locomotivas de todos os tamanhos e bitolas. Lá também estão os antigos catálogos norte-americanos, e o fichário que pacientemente organizou, de todos os modelos que já teve.
"Cada ficha representa um vagão ou locomotiva, e nela consta — além da marca e o número da peça —, o preço que pagou e o preço por que vendeu.
"Em frente ao armário, um painel de controle que daria inveja a qualquer bom colecionador de hoje. O jogo de ferramentas importadas está pendurado ao lado e em cima do painel, no qual ficam três linhas de teste, onde os trens são experimentados e recebem, pelo comando, a determinação que se quer dar.
"Há tempos Sérgio não aciona aqueles controles. Nota-se isso quando ele não encontra o botão que comanda uma ação qualquer, que anunciou fazer com os trens. É a hora em que ele acrescenta:
"- Bem, já fiz o que tinha que fazer com estes bichinhos".
N. R. Agradecemos ao companheiro Moacir Costa a xerox dessa reportagem, que dá uma visão de como se passavam as coisas em nosso hobby, em épocas remotas (FRC).
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