Jorge Hereth — Centro-Oeste nº 87 (1º-fev-1994)
Comparando as escalas das normas do British Railway Modelling Standards Bureau (BRMSB) com as respectivas bitolas-padrão, vê-se que apenas a P4 e a OOO estão em escala correta (Quadro IV). A EM ainda se encontra bem próxima à dimensão exata. Porém as outras todas estão algo fora de escala. Isto se deve a motivos técnicos explicados em "A Escala OO Britânica" (CO-85/8). Os mesmos motivos também surgiram nas outras escalas. Quanto à representatividade, as normas britânicas não aceitam que as bitolas-padrão das diversas escalas representem qualquer bitola-protótipo que não seja a de 1.435 mm (padrão internacional). Nisto, seguem o mesmo raciocínio que as normas da NMRA.
Interessante é que o BRMSB não considera a escala S quanto à bitola-padrão de 1.435 mm. Isto é surpreendente. Não se pode esquecer que a escala S é inteiramente definida com base em medidas anglo-saxônicas. Mesmo assim, também na Grã-Bretanha a escala S encontra adeptos. Eles praticam o ferreomodelismo com base nas normas NEM ou da NMRA (CO-86/8). Por outro lado, ao BRMSB interessam 2 bitolas estreitas na escala S. Para as bitolas estreitas, as normas britânicas reconhecem representatividade de bitolas, seguindo em parte o mesmo raciocínio das NEM. É marcante como o espaço para representar as bitolas entre 762 e 914 mm é deixado em branco, apesar de existir nas montanhas do País de Gales a bitola de 800 mm. Neste caso, porém, os ferreomodelistas recorrem às NEM e/ou à sua própria habilidade. Na Grã-Bretanha existem muito mais escalas e bitolas do que as mencionadas na tabela. Apesar da representatividade admitida pelo BRMSB para bitolas estreitas, os ferreomodelistas britânicos costumam ser extremamente rigorosos com as bitolas estreitas de suas mini-ferrovias. Uma exceção é a SM-45, pois a bitola métrica não existe na Grã-Bretanha. Uma outra coisa que não consta na tabela são as bitolas largas: — Diversos ferreomodelistas ingleses fazem a Great Western Railway (GWR) da era vitoriana na escala de 1:76, com bitola de 28,0 mm. Até 1869, a bitola da GWR era de 2.134 mm (ver CO-65/12). Na Irlanda, ferreomodelistas representam a bitola irlandesa de 1.600 mm, na escala 1:76, com bitola de 21,0 mm. Este pode ser um aspecto interessante para quem quer representar a São Paulo Railway (depois EF Santos a Jundiaí) ou a Cia. Paulista (fase até 1948): — A bitola larga brasileira é idêntica à irlandesa, e estas ferrovias usaram (no caso da SPR, quase exclusivamente) material rodante de origem britânica. Na Grã-Bretanha existe um tipo de denominação para as escalas, diferente do que é conhecido internacionalmente (Quadro V).
Parece complicado, mas é super-simples:
Digamos que apareça a designação "3,5 mm scale". Significa que 3,5 mm no modelo correspondem a 1 pé no protótipo. Calculamos da seguinte forma:
Significa que trata-se da escala HO. Inversamente, podemos calcular a denominação a ser usada para a escala 1:220:
Significa que, em termos britânicos, a escala Z é denominada de "1,4 mm scale / to the foot", ou simplesmente, "1,4 mm scale". Não conheço nenhum endereço onde se possa obter as normas britânicas. Em compensação, indico (mais uma vez) um livro que dá todas as informações necessárias a respeito do assunto:
Este livro é indispensável a qualquer ferreomodelista interessado em ferrovias britânicas, mas também está cheio de informações para todos os ferreomodelistas. Casos especiaisExistem ainda inúmeros casos de relações escala / bitola que não constam de nenhum esquema de normas. Em tais casos, os respectivos fabricantes — ou os ferreomodelistas envolvidos — criam a norma (Quadro VI).
O caso FrateschiDo material rodante Frateschi da bitola larga (1.600 mm), já tratei ao comentar as NEM (CO-86/8). Agora, chegamos ao material rodante Frateschi da bitola métrica. Todos sabemos que, muito tempo atrás, a Frateschi optou por aumentar a escala de seu material rodante, para dar-lhe um visual mais apropriado de bitola métrica. Para isso, escolheu o seguinte cálculo:
Resumindo, a escala do material rodante Frateschi de bitola métrica foi aumentado de 1:87 para 1:78,8. Esta escala já fica mais próxima à OO do que à HO. Temos no Brasil 5 bitolas diferentes:
Apesar do peso do transporte ferroviário brasileiro ocorrer na bitola de 1.600 mm, 90% das linhas do País apresentam bitola métrica. Desta forma, no ferreomodelismo brasileiro a bitola métrica não pode ser ignorada. No Brasil, a bitola métrica não é típica de ferrovias secundárias, mas serviço de linha. Outros paísesVejamos como este problema foi resolvido no ferreomodelismo de outros países com situações semelhantes:
Deve-se lembrar que, até 1886, a bitola padrão oficial era de 1.524 mm. Quem modela ferrovias do século passado, modela em HO, independente disso. Suíça — Este pequeno País, quase do tamanho do Estado do Rio de Janeiro, opera suas ferrovias em 8 bitolas diferentes: 1.435 mm, 1.200 mm, 1.000 mm, 850 mm, 800 mm, 750 mm, 600 mm e 500 mm. A bitola padrão costuma ser modelada em HO ou N. Para a bitola de 1.200 mm valeria o mesmo, embora nunca ninguém tenha se interessado em modelá-la. A bitola métrica goza de imensa popularidade, principalmente nas regiões alpinas. No Cantão de Grischun, a Viafier Retica (RhB) opera uma rede de 375 km, representando para aquele Cantão o que a Fepasa representa para o Estado de São Paulo. O centenário da RhB, em 1989, acabou causando um verdadeiro culto à HOm entre os ferreomodelistas de toda a Europa e inspirou o fabricante japonês Shinohara a fabricar trilhos Code 70 para esta bitola de 12 mm. Material rodante de 8 ferrovias é oferecido por fabricantes como Bemo, D&R, Ferro-Suisse, Railino, Elfer, Utz, Fulgurex, Lemaco e outros, em finíssima qualidade, para as escalas Om, HOm e Nm. Quanto às bitolas restantes, o interesse por elas é mínimo. Apenas para a WB (750 mm), o fabricante Liliput vendia um conjunto. Ainda se encontram alguns em lojas da Suíça. O caso do BrasilNo Brasil, então, pela lógica, a bitola métrica deveria manifestar-se no ferreomodelismo na forma de Sm (Sn3½) e/ou de HOm. Por que isto não ocorre? Embora tenha havido alguma produção local na escala O pela Metalma (193?-196?) e pela Erka (1948-195?), a fabricação em maior quantidade começou apenas nos anos 50, com a Atma (1950-1984). O ferreomodelismo, porém, já existia desde muito tempo, baseado principalmente em importações da Europa e dos Estados Unidos. O material rodante era de protótipos europeus e americanos. Os primeiros modelos de protótipos brasileiros apareceram no final dos anos 60, com a fundação da Frateschi. Naquela época, as bitolas estreitas estavam apenas começando a aparecer no ferreomodelismo, e a italiana Lima inundava o mercado sul-africano com modelos sul-africanos em HO — o que faz até hoje! — , alguma coisa fora de escala. Até aí, as importações e a Atma já haviam estipulado, para o ferreomodelismo brasileiro, a escala HO e a bitola de 16,5 mm. E a recém-criada fábrica brasileira de ferreomodelos, a Frateschi, pôde se virar neste dilema. Qualquer outro, provavelmente teria desistido. Mas não a Frateschi! Lançar material rodante brasileiro da bitola métrica em HOm teria condenado qualquer fabricante nacional à falência, pois o ferreomodelista brasileiro parece não querer abrir mão, nem da escala 1:87, nem da bitola de 16,5 mm: — Que todos aqueles que reclamam do "fora-de-escala" da Frateschi se questionem consigo mesmos! Então, a única saída possível seria um leve aumento de escala. Isto ocorreu, conforme o cálculo acima. Talvez a política sul-africana da Lima — sem cálculo concreto — tenha gerado a idéia. A escala de 1:78,8 — adotada pela Frateschi em parte de seu material — encosta na escala OO, porém não a é. Não podemos esquecer que modelos do fabricante suíço Hag e do italiano Rivarossi freqüentemente saem na escala aproximada de 1:80, sendo classificados como HO. Nem na Suíça, nem na Itália, os ferreomodelistas reclamam desta situação. Todos sabemos que o companheiro Celso Frateschi exporta locomotivas G-12 e U-20C, pintadas nas cores da New Zealand Railways (NZR) para a Nova Zelândia. Enquanto os ferreomodelistas brasileiros acham estes modelos grandes demais para HO, os neozelandeses acharam-nos pequenos demais para Sn3½. — "Apenas a bitola é correta" — era o comentário que se ouvia com freqüência na Nova Zelândia. No Brasil, também. Nas revistas neozelandesas de ferreomodelismo apareceram enormes artigos tratando do problema com seriedade e sem polêmica. Como me disse um ferreomodelista neozelandês: — "Um assunto só se torna polêmico quando todos procuram impor seus pontos de vista e ninguém tem argumentos para uma discussão madura". Resultado: — As locos Frateschi tornaram-se um grande sucesso comercial. Sabendo que a escala S é de 1:64 e que HO é de 1:87, façamos o seguinte cálculo:
A diferença entre 1:78,8 e 1:75,5 é tão mínima, que os olhos nem a percebem. Desta forma temos que concluir o seguinte: — O material Frateschi de bitola métrica / bitola do Cabo encontra-se numa escala que permite seu aproveitamento tanto em maquetes HO quanto em maquetes Sn3½, sem que a discrepância de escala seja maior do que a discrepância entre HO-OO britânica e OO britânica-Sn3½, podendo-se aproveitar os mesmos trilhos de bitola 16,5 mm tanto para HO quanto para Sn3½, e também para a OO britânica. Resumindo: — O material Frateschi 1:78,8 dá um visual satisfatório, tanto em maquetes HO quanto Sn3½. Agora, que cada um faça o seu próprio julgamento. Bitolas e escalas no ferreomodelismo
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