Flavio R. Cavalcanti - Jan. 2012O que Cristiano Benedito Ottoni propõe em seu livro “O futuro das estradas de ferro no Brasil”, de 1859, não é propriamente um "plano", nem "ferroviário" mas diretrizes para uma "rede brasileira de comunicações a vapor". Segundo Telles, Ottoni indica “as linhas gerais que deveria ter um plano de viação”. Por "linhas gerais", não se deve entender "linhas férreas" (embora aborde algumas), mas principalmente "critérios" a serem ferreamente seguidos e poucas sugestões específicas:
O esquema não é exato, pois o próprio Ottoni não sistematizou essas propostas, limitando-se a enunciar pontos que considerava fundamentais. Não usou, sequer, a palavra "critério". Escassez de recursos, desconhecimento detalhado do interior argumentos repetidamente utilizados para frear as tentativas de planejamento das ferrovias não seriam motivos para o Brasil ficar paralisado: “Definir desde já as grandes linhas, disse eu, e não disse traçá-las; bem conheço que essas extensas artérias não podem, sem grandes estudos, ser descritas com exatidão. Não temos cartas que inspirem confiança; existem dificuldades topográficas que não podemos bem apreciar (…). Há, contudo, extremos que notoriamente convém ligar; há pontos obrigados que se podem assinalar em cada linha; há vales de grandes rios que convém pôr em contato (…) se não podemos ainda traçar completamente na carta a nossa rede futura, podemos ao menos determinar algumas de suas malhas e definir os caracteres das grandes estradas, estabelecendo princípios reguladores das concessões garantidas, para que todas, no andar do tempo, convirjam para o grande fim. (…)” “Que mal nos fará formular o programa de 2.000 léguas e começar a execução somente de 100 ou 200?” A construção gradativa das ferrovias sempre atento ao desenvolvimento das primeiras para liberar recursos que garantissem as seguintes assume quase o aspecto de "cronograma de desembolso", embora sem menção a prazos, que seria irreal propor naquele momento.
Esboço de uma rede de ferrovias e navegação a vaporNuma primeira etapa, por exemplo, propunha cobrir a região leste do Brasil, ligando (norte-sul) e colonizando (leste-oeste) os vales das bacias atlânticas, do Rio de Janeiro até a Bahia; além de completar as ligações do Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro ao vale do rio São Francisco, na outra vertente da serra do Espinhaço. Com o desenvolvimento esperado da colonização, as ferrovias transversais (leste-oeste) provenientes do litoral atlântico tenderiam a ultrapassar a serra do Espinhaço e alcançar o vale do São Francisco, formando uma rede inicial, sobre uma extensa área, onde vivia parte considerável da população brasileira da época ainda em fase de reaproximação ao litoral, após a decadência do ciclo do ouro e dos diamantes. Essa rede de ferrovias e hidrovias a vapor, portanto, daria suporte ao redirecionamento da população e de seus investimentos para a ocupação agrícola das terras da mata Atlântica, em grande parte intocadas pela "civilização" o homem branco ou "catequizado". O desenvolvimento da agricultura, apoiado pelas ferrovias, deveria proporcionar a elas o retorno financeiro para que pudessem dispensar as garantias de juros, a serem aplicadas em novas ferrovias ou em sua expansão. Embora seja comum atribuir-se, indiscriminadamente, propósitos de "branqueamento" da população aos mais diversos defensores da imigração europeia no século XIX, o raciocínio de Cristiano Ottoni visava principalmente o choque cultural homens brancos trabalhando e cuidando da terra em pequenas propriedades, em um país onde o trabalho era considerado degradante ("coisa de escravo") e terra se desmatava em grandes extensões, sem qualquer cuidado, para depois descartar e desmatar mais adiante. Em outra etapa, no futuro, as ferrovias provenientes do litoral atlântico e com elas a colonização ultrapassariam o rio São Francisco, alcançando gradualmente outros rios navegáveis, cuja orientação também é aproximadamente norte-sul. A ligação do rio Paraguai ao rio Guaporé / Madeira, por exemplo, ficaria pendente do adensamento populacional. Mesmo assim, o gradualismo sugerido por Ottoni previa sempre a alternativa de começar por uma ligação ferroviária, adiando tanto quanto possível a custosa e demorada construção de canais artificiais para interligação de bacias por sobre os divisores: “o pensamento de ligar a navegação dos tributários do rio da Prata com os do Amazonas logo que avultar a população perderá todos os caracteres de utopia se, em lugar de um canal, se imaginar uma estrada de ferro”. Essa ressalva é quase padrão, nas propostas de Ottoni na ligação dos rios do oeste baiano aos afluentes do Tocantins ou do rio Parnaíba (Piauí / Maranhão).
Planos ferroviários
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