Plano da Comissão, 1890
Cadê o plano ferroviário que estava aqui
Flavio R. Cavalcanti
Proclamada a República, nomeou o governo provisório
uma Comissão, encarregando-a da elaboração de um
Plano de Viação Federal, apresentado em 1890. Previu numerosas
estradas de ferro, sobretudo nas regiões Sul, Centro e Nordeste,
além de grandes linhas sem caráter econômico, como,
por exemplo, um longo arco entre Teresina e Manaus, inutilmente prolongável
pelas margens dos rios Negro e Branco [Vianna].
Criticado como exagerado ou excessivamente oneroso, o Plano
Geral de Viação do Governo Provisório foi
o primeiro a ter sua implantação iniciada de fato. Suas principais ferrovias foram concedidas à iniciativa privada
— pelo decreto nº 862, de 16 de Outubro
de 1890 — um mês antes da apresentação do relatório
final da Commissão. A República tinha exatos 11 meses.
Logo, porém, o plano ferroviário viu-se engolfado nas lutas do novo regime, atacado de um lado pela antiga oligarquia monarquista; e de outro lado pela nova oligarquia modernizante-conservadora, ansiosa por encerrar a ditadura e afastar republicanos
históricos, positivistas, militares, radicais, jacobinos,
abolicionistas,
nacionalistas, industrialistas, americanistas, reformadores sociais etc.
O Plano Geral de Viação foi concebido em conexão
com o projeto de imigração
à americana — atração de milhões
de colonos europeus pela oferta de terra, direitos civis, cidadania, liberdade
religiosa, liberdade de empreendimento.
De acordo com as instruções
recebidas, a Commissão de Viação Geral
estudou as propostas anteriores, e o plano resultante reflete esse aproveitamento
— na intermodalidade (ferrovia-hidrovia), na integração
das regiões, no entroncamento central no planalto goiano, na extensão
da EF Central do Brasil até
Pirapora, no lançamento do Tronco Sul.
Ao norte, se completaria a rede ferroviária do Nordeste
(Transnordestina), em conexão com uma linha prevista para avançar
gradualmente pela Amazônia (traçado similar ao da Transamazônica),
abrindo espaço à colonização do oeste também
pela população do Nordeste.
Ao sul, outras três linhas avançariam para oeste a partir
de Goiás, Triângulo Mineiro e Paraná. Mais tarde,
uma linha avançaria de Cuiabá para o norte, em direção
ao Amazonas (Cuiabá - Santarém).
As linhas horizontais (leste-oeste) lembram o Plano
Rebouças — que, dos anteriores, foi o mais ligado a um projeto
de imigração,
colonização e parcelamento
da terra.
Tão logo Deodoro substituiu Rui Barbosa pelo Barão de Lucena
[inicialmente acumulando também
a Viação / Agricultura], o Plano Geral de
Viação começou a ser bombardeado pelo próprio
ministério. Em poucos anos, a maioria das concessões foram
declaradas caducas — numa rapidez de chamar atenção — e
o Congresso tomou a si a discussão do assunto, sem jamais decretar
outro plano, em substituição.
Seguiu-se um período de política monetária
fortemente recessiva, que praticamente paralisou a implantação
de novas ferrovias por 10 anos, com a falência de inúmeras empresas; e ao final desse período
estava consolidada a política dos governadores (café-com-leite),
pela qual só candidatos governistas tinham sua eleição
reconhecida.
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