Maquetes de ferreomodelismo
Construindo um vagão limpa-trilhos
Flavio R. Cavalcanti
Centro-Oeste DC-18 — 5 Out. 1991
revendo as dicas do
Informativo Frateschi n° 14 — Junho 1981
Em apenas 5 parágrafos, 3 desenhos e 1 legenda, a Frateschi apresentava — há 10 anos — este projeto de um vagão limpa-trilhos, de autoria
de Christian Duch (Campinas, SP).
A legenda dava a receita de uso: "Limpar a linha 2 vezes por semana, circulando por ela o vagão limpa-trilhos com benzina".
A receita de construção ocupava os 2 últimos parágrafos:
"Este vagão é feito com a prancha ref. 2000 da Frateschi. A chapa de latão é encontrada em casas de artigos para artesanato, artigos
de couro, ou lojas de ferragens. A camurça deve ser colada à chapa de latão com cola Brascoplast".
"Deve-se regular a pressão do patim limpa-trilhos, de modo que uma locomotiva possa puxar o vagão com relativa facilidade".
No rodapé da página, um conselho: "Limpe os trilhos regularmente, evitando o mau-contato e a oxidação das rodas das locomotivas".
Material
Folha de latão com 0,2 mm de espessura. Dobrado e aparafusado debaixo do prancha, o latão curva-se (sob o peso) e esfrega nos trilhos,
sob pressão, quando o vagão anda.
Peso de 100 a 200 gramas, para evitar que o latão levante o vagão prancha. Pode-se usar mini-peças Phoenix pintadas e coladas, formando
uma carga (DC-17/11).
Retalho de camurça, colado ao latão do lado que tocará os trilhos. Usa-se cola de sapateiro (Brascoplast, Cascola etc.). A face
áspera da camurça deve ficar virada para fora.
Um par de parafusos W 3/32'' x 1/4'' — e respectivas porcas —, para fixar o latão debaixo do prancha. Para isso, deve-se fazer 2
furos no piso do vagão, nos locais adequados.
As especificações do material não foram difíceis de atender. Usei um parafuso mais longo, para agilizar a busca.
Difícil foi convencer o dono da Brasília Metais a recortar e vender uma lâmina pequena de latão.
Latão aceita lápis, caneta Bic e tesoura. Facilmente, você desenha e recorta nas medidas recomendadas.
Camurça não é difícil de achar. Pergunte ao sapateiro onde ele compra material. Lá, também se encontra a cola Brascoplast, ou Cascola.
Resista à tentação de substituir a camurça por qualquer outro material. Pano, solta fiapos. Borracha, solta borracha. Não há nada como a
camurça. Geralmente, é vendida em retalhos, a quilo. Dois ou três retalhos pesam pouco, custam pouco, e sobram para seus netos.
Polimento
Considero superada a recomendação de usar benzina. Ela só retira o óleo, que poderia proteger o trilho contra o oxigênio e, portanto, contra
a oxidação.
Não é lá essas coisas, para tirar aquela sujeira que realmente atrapalha.
Também considero superado o uso do Blem e do Varsol, recomendados em outros IFs muito antigos.
Na EF Pireneus — Paranã (IF-31, CO-6/6), dei um único polimento nos trilhos, com Brasso, tendo o cuidado de retirar muito bem o produto —
principalmente das laterais internas dos trilhos, onde poderia atacar o friso das locomotivas.
Não tem jeito: é no pano e no dedão, conforme o Jarbas limpava as pratas da casa. Entediante e cansativo. O único alívio é fazer isso antes
de assentar as grades na maquete.
Depois, termine a limpeza dos resquícios finais de Brasso, usando um pano (usei brim) com um pouco de WD-40. É um ótimo protetor contra a
oxidação.
Feito o polimento, o vagão limpa-trilhos deve estar pronto, para que todo esse trabalho não precise ser repetido tão cedo — no meu caso,
só voltei a polir pequenos trechos de 20 cm, aqui e ali, mais de um ano mais tarde.
Assim, a locomotiva nunca irá pisar a poeira das últimas 24 horas. Junto com algum óleo que sempre cai do motor e das engrenagens, essa poeira
"pisada" rapidamente forma uma crosta.
Ainda não tenho dados quanto ao respingo de óleo das novas locomotivas diesel 8 x 8 da Frateschi, cujo truque-redutor é fechado por baixo (e aberto
por cima).
Reserve uma escova de dentes para escovar a camurça, de vez em quando — principalmente, após limpar uma ferrovia sem uso há muitos dias.
Nos primeiros dias, a camurça retira o excesso de WD-40.
Mesmo no clima seco de Brasília, a camurça continuava embebida, um ano mais tarde. A cada dia, ela vai repondo mais um pouco de WD-40 nos
trilhos.
Opções?
Na segunda metade da década passada, a Frateschi experimentou produzir em série um outro tipo de vagão limpa-trilhos. Aliás, fez duas
tentativas.
Na primeira, foi usado o box ref. 2008, sendo o conjunto vendido pronto. Na segunda, o "patim" foi vendido em separado, para cada modelista
instalá-lo no vagão que preferisse.
A meu ver, o projeto industrializado pela Frateschi — muito diferente deste aqui — não aprovou.
A camurça vinha colada ao peso de chumbo, devendo o conjunto deslizar sobre os trilhos, debaixo do vagão.
O conjunto era preso ao vagão por lâminas compridas de latão, com um furo em cada ponta, para fixar entre o vagão e os truques.
Logo, ambas tentativas caíram no abandono.
Idéias, Dicas & Soluções
Centro-Oeste nº 63 (1º-Fev-1992)
Limpa-trilhos — No artigo do DC-18/5 sobre como fazer um vagão limpa-trilhos, é sugerido colar a camurça
diretamente no patim de latão flexível. Mas também pode-se colar — no latão — um velcro, aquela tira usada em certas marcas de
tênis, que prende ao encostar e solta ao ser puxada. Outros velcros podem ser colados em diversos materiais, como a camurça, flanela,
perflex etc. Assim, qualquer um desses materiais poderá ser preso ao patim metálico, conforme a ocasião (Itaí Cavalcanti, Rio,
RJ).
N. R.: A idéia é ótima, pois lembro que tive de construir 2 patins para usar na minha EF Pireneus — Paranã. A primeira camurça,
ao retirar o excesso de WD-40, ficou empapada e tive que fazer outro patim com camurça seca. É incômodo ficar aparafusando e
desaparafusando patins no vagão limpa-trilhos.
Mas não use feltro, flanela, perflex ou qualquer tipo de pano, natural ou artificial. A camurça oferece o atrito necessário
para a limpeza, não solta fiapos, não rasga, e não prende nos AMVs, nem nas emendas dos trilhos (FRC).
Naquela época, também adquiri um vagão limpa-trilhos Herkat, que na propaganda parecia uma maravilha: — Um patim circular, tipo enceradeira,
gira à medida em que o vagão anda. O vagão tem um tanque interno de plástico, onde se coloca um líquido para limpeza. O líquido vai descendo
aos poucos, e embebe o patim — feito de uma fibra semelhante a algodão. Seco, soltava fiapos. Molhado, soltava pedaços.
Além disso, o patim pegava irremediavelmente nas agulhas dos AMVs, e até em algumas emendas, onde deixei os trilhos afastados um do outro.
Para ser franco, não limpava absolutamente nada (FRC).