Eduardo Coelho – Centro-Oeste n° 76 – 1°-Mar-1993Muitos de nós, ferreomodelistas, passam de simples admiradores de trenzinhos de brinquedo, a colecionadores sérios de material em escala, geralmente sonhando com a construção de uma maquete onde possam exibir toda sua coleção. Alguns mais afortunados, eventualmente constroem suas maquetes, muitas vezes baseadas no melhor arranjo possível de tudo aquilo que já têm ou gostariam de ter — especialmente quanto a cenário e estruturas. A linha... deve ficar espremida da melhor forma possível, entre miríades de estações, pontes, cabines, depósitos etc., muitas vezes sem um sentido comum — exceto serem modelos de uma ferrovia (?) em escala. Por mais bem feita que tenha sido, esse tipo de maquete está longe de ter o jeito de uma ferrovia. O resultado é irreal e, com o tempo, tende a não agradar sequer ao seu criador. Isto é normal, especialmente quando o ferreomodelista aprofunda seus conhecimentos, adquirindo um contato mais profundo com o universo ferroviário. Vale lembrar que esta não é a regra, e existem muitos colegas muito satisfeitos com as maquetes que construíram — na medida em que servem perfeitamente à curtição do hobby de cada um. Não é o caso de criticar os colegas que por ventura tenham uma visão do ferreomodelismo diferente da minha, ou da sua. Uma idéiaPonha uma ferrovia na sua maquete. Se esta idéia lhe parece interessante, vamos examinar alguns tópicos que podem ajudá-lo a alcançar este objetivo. A) Observe como é uma ferroviaEsta idéia — óbvia — muitas vezes passa quase desapercebida, na medida em que, inicialmente, achamos mais importante saber o que uma ferrovia tem, do que observar como está disposto o que ela tem, e como aqueles itens se relacionam entre si. Observando um trecho ferroviário próximo de nós — ou em livros e revistas —, não será difícil ter uma concepção mais realista, de que nem sempre é conveniente ter de tudo em nossa maquete. A estação de uma vila pode ter apenas sua linha principal, um desvio para cruzamento, e caixas d'água em ambas extremidades. Imagine como esta vila pode estar ligada a uma cena vizinha, sem perder sua característica rural, nem interferir com as características da próxima cena. Um morro e um túnel pode ser uma boa solução — apenas para citar um exemplo típico.
B) Espaço não é problemaApós a observação detalhada do universo ferroviário, provavelmente teremos a impressão de que é impossível condensar tanto, em tão pouco espaço. Não se iluda — pois é isso mesmo! Se o nosso espaço é limitado, então vale a pena desafiar nossa imaginação, para escolher qual seria o ambiente (motivo) mais adequado aos nossos interesses. Por exemplo: — Se o forte da minha coleção são locomotivas a vapor, elas ficariam melhor numa maquete de 2,2 x 1,6 metros com um circuito oval e tudo que tem direito... — ou num diorama com a mesma área, tendo apenas uma rotunda (oficina), um girador (incrível, dá para colocar todas as locomotivas!) e uma carvoeira mecânica? Dioramas são uma grande solução para a falta de espaço. Sua primeira característica é ter apenas 1 cena (ou motivo) que atraia a atenção do espectador, em determinada posição. Com imaginação, até mesmo um circuito oval pode ser incluído num diorama. Imagine uma linha — dupla ou singela — sobre uma tábua de 2,2 x 1,6 metros. Para manter o objetivo de uma só cena em cada ponto de vista, vamos colocar uma parede (outra tábua) dividindo a parte da frente da parte de trás, de modo que as linhas desaparecem em túneis, nas 2 extremidades (Fig. 1). Sobre esta parede, podemos reproduzir uma vila do interior, com pequenas casas — cuidado para não ficar parecendo um mini-Rio de Janeiro —, com acesso à estação por meio de ladeiras ou escadarias. Como a vila está num plano superior, não podemos ver os trilhos do outro lado da parede, qualquer que seja nossa posição, reforçando o realismo da cena (Fig. 2). Ter apenas uma cena como motivo básico em cada posição, também é muito importante em maquetes grandes. Não adianta ter muito espaço, e acabar misturando dezenas de metros de linha, como um prato de spaghetti — além de reforçar a congestão visual com dezenas de estruturas sem um propósito efetivo. Maquetes menores abrem, mesmo, a possibilidade de serem operadas como ferrovias de verdade. Uma dica fundamental, em qualquer tamanho de maquete, é que a linha singela (única) parece sempre maior do que uma linha dupla ou tripla. Outro detalhe importante é o gabarito de pontes e — especialmente — túneis. Quando estamos começando, nossa tendência é fazer dos túneis verdadeiras cavernas, capazes de abrigar até o dragão da inflação. O portal de túnel não é feito para pôr a mãozinha — para emergências, faça um acesso removível (pedaço móvel da montanha). Túneis devem ter apenas o tamanho suficiente para as locos e vagões mais altos e mais largos. Repare como portais de túnel de tamanho realista melhoram sensivelmente o aspecto visual da maquete. Pessoalmente, prefiro fazer 2 túneis (portais) lado a lado, para vias duplas, pois acho mais convincente do que um portal maior. C) O mito do realAo contrário do que muitas vezes pensamos, o realismo de uma mini-ferrovia não tem que passar, necessariamente, pela reprodução fiel da ferrovia-protótipo, ou da região-protótipo. O fundamental é parecer real — ou seja, dar ao observador a idéia de que todas as cenas (motivos) e equipamentos podem ser reais, por existir uma coerência estética e funcional entre eles. A fidelidade a protótipos existentes pode ser fascinante, para ferreomodelistas experientes — mas não deve servir de bloqueio à atividade criativa da maioria de nós. É claro que, se já temos algum conhecimento de como é uma ferrovia-protótipo, não será difícil combinar modelos existentes, em cenas que pareçam reais. Um desafioCrie sua própria ferrovia. Já que podemos recriar uma realidade para nossa ferrovia em escala (parecer real), por quê não soltar a imaginação e criar uma identidade inexistente, para ela? Com um pouco de imaginação, veremos que não é difícil ambientar uma ferrovia em qualquer lugar — daqui ou do exterior —, tendo por base aquilo que mais nos interessa dentro do hobby. A grande vantagem dessa idéia é que, uma vez criada a identidade da nossa mini-ferrovia, podemos tentar combinar quase tudo, dentro da coerência estética e funcional. Podemos dizer que é uma mini-ferrovia de criação livre. Dentro desse conceito, podemos — por exemplo — criar ramais inexistentes, de nossas ferrovias-protótipo preferidas, inclusive conexões de diferentes ferrovias-protótipo. Inclusive, misturando um pouco de equipamentos fiéis à realidade, para dar o clima. Ou ainda, criar toda uma realidade inexistente. De um modo geral, as características mais importantes para criarmos nossa própria ferrovia imaginária, são: 1) Época + Motivos + Traçado = IdentidadeProcure ter uma idéia global de toda sua ferrovia imaginária — mesmo sabendo que, obviamente, só uma minúscula parte dela poderá ser representada em sua maquete. Defina quais os principais produtos da região — ou, inversamente, escolha uma região compatível com os produtos transportados por seus vagões preferidos. Por exemplo: — Minério, carvão, adubo, fertilizantes, cereais, carga geral, gado, carne, madeira... Verifique, também, se o cenário escolhido é compatível com a localização geográfica — ou vice-versa. Lembre que ficará estranho, se sua Union Pacific passar dentro de uma... floresta equatorial. Procure um traçado simples, dentro de suas limitações de espaço, inserindo-o num contexto compatível com as situações locais imaginadas. A época de sua mini-ferrovia é fundamental para compor sua identidade. É ela que situa todo o contexto dentro do tempo, sendo elemento fundamental para a escolha dos equipamentos — ou, inversamente, sua escolha dos equipamentos amarra determinada época. Sabendo escolher determinados motivos e/ou equipamentos, é possível uma flexibilidade temporal de, pelo menos, uns 30 anos — especialmente no Brasil... Mais uma vez, porém, imagine seu próprio espanto ao ver um exagero flagrante, como um TGV passando por dentro de uma vila do velho-oeste! 2) EquipamentosO material rodante (locos, vagões) e as estruturas são, muitas vezes, o elemento principal, desde a fase de concepção de nossa ferrovia em escala. Uma certa paixão por determinados equipamentos, geralmente, serve de base para todo um conceito e identidade — devendo, apenas, haver a preocupação de verificar a compatibilidade temporal e situacional entre eles. Ficará estranho se sua Consolidation der uma mãozinha a uma super-diesel C-40-8 para tracionar um trem de containers tipo double-stack. No entanto, se sua maquete tem ambientação moderna, lembre-se de que poderá fazer trens especiais de turismo, com locomotivas a vapor preservadas, sem ferir o contexto da identidade. Alguns equipamentos (protótipos) tendem a ter vida útil mais longa do que outros. Um exemplo são os guindastes de socorro a vapor — especialmente no Brasil. Tenha especial cuidado com a compatibilidade situacional entre os equipamentos e a via permanente. Procure conhecer um pouco das ferrovias-protótipo em geral, pois há situações que — nelas — são incompatíveis. Por exemplo, um pesado trem de carvão ou minério, com tração múltipla a diesel, passando sobre uma ponte de madeira treliçada, tipo velho-oeste. Esse tipo de ponte é funcionalmente adequada para o tráfego de trens leves. Para o tráfego de trens pesados — nas ferrovias-protótipo — , usam-se pontes e viadutos metálicos ou de concreto armado. Estes últimos são fáceis de retratar em madeira balsa, lixada e pintada com tinta PVA de parede (à base d'água) na cor de concreto. Estruturas como estação, depósito, armazéns etc. são parte fundamental da identidade de uma ferrovia. Mesmo que sejam de estilos diferentes, é importante que sejam relativamente compatíveis. Uma boa dica é escolher um padrão único de pintura para as estações — talvez outro diferente para prédios auxiliares, cabines etc. —, de modo a ancorar a identidade visual da ferrovia imaginada. O envelhecimento na pintura dos modelos certamente vai ajudar bastante a realçar o clima de sua mini-ferrovia. Dicas de projeto e desenho da maquete
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