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Maquetes de ferreomodelismo
Projeto para 3,5 m2 com "oval" e triângulo

Flávio R. Cavalcanti — Centro-Oeste n° 81 (1°-Ago-1993)

A típica "primeira maquete" dos ferreomodelistas norte-americanos é um traçado "oval" — circuito circular esticado — no tamanho de 4 x 8 pés.

Escreve-se 4' x 8', e significa cerca de 1,2 x 2,4 metros (2,9 m2). Esse tamanho deve-se ao tamanho das folhas de madeira compensada (plywood) que se encontram nos EUA.

No Brasil, o tamanho mais comum de compensado é 1,6 x 2,2 metros. Embora tenha uma área maior (3,5 m2), o formato largo não traz muita vantagem. É mais prático projetar um circuito "oval" com maior comprimento — pois facilita a disposição dos pátios, ramais etc. —, do que com maior largura.

Mas o compensado não tem obrigação de permanecer inteiro. Você pode retirar 50 cm na largura, sobrando então um retalho de 2,2 x 0,5 metros. Serre esse retalho pela metade, e terá 2 peças de 1,1 x 0,5 metro. Como a peça principal ficou com 1,1 x 2,2 metros, você pode montar sua maquete com 3,2 x 1,1 metros (Fig. 1).

Corte da folha de compensado para dar formato alongado

Esta é apenas uma possibilidade. Existem infinitas variações.

A única recomendação que eu daria, é: — Pesquise uma alternativa envolvendo poucos cortes. Evite planejar um verdadeiro quebra-cabeças!

A largura de 1,1 metro é suficiente para sua primeira maquete. O livro "Ferrovias para Você Construir" (Vol. 2), da Frateschi, oferece 7 projetos para 1,05 x 2,05 metros. Esticá-los — para aproveitar um comprimento de 3,2 metros — é fácil.

Com essa largura, você precisará ter acesso pelos 2 lados da mesa. Uma pessoa de até 1,70 metro de altura pode alcançar 1,1 metro de distância — mas trabalhar na fixação dos trilhos, fiação, empedramento, paisagem etc., já são outros 500. Eu diria que 80 cm é a maior distância que convém arriscar. O ideal é fazer seu projeto pensando em trabalhar — no máximo — até 60 cm da borda da mesa.

Isso não é uma regra! Existem detalhes que podem facilitar — ou piorar — a situação.

Se a mesa da maquete está a 80 cm de altura do chão, você terá o alcance máximo. Se for mais alta, o alcance diminui — mas você pode fazer uma banqueta de 20 a 50 cm de altura, para aumentar a sua própria altura.

Projeto das linhas

Existem motivos para você projetar sua ferrovia com 1,2 metro de largura. De cada lado, você pode atingir 60 cm, com comodidade para trabalhar na maquete. E com isso, você pode usar curvas um pouco mais abertas.

Futuramente, quando adquirir alguma loco americana de 12 rodas — ou um amigo levá-la para rodar na sua ferrovia —, você dará graças a Deus pelo dia em que evitou as curvas ref. 4188, cujo raio de 36 cm é um pouco apertado.

Corte da folha de compensado para dar formato em "L"

O projeto apresentado aqui, seguiu esta opção. Retira-se 40 cm na largura do compensado, e acrescenta-se esta peça na ponta, formando um "L". Com isso, o comprimento principal da mesa atinge 2,6 metros (Fig. 2).

A Figura 3 apresenta o projeto das linhas para esta mesa em "L".

Todos os Aparelhos de Mudança de Via (AMVs) são ref. 4200 / 4900 da Frateschi — por isso, não é necessário indicá-los no projeto.

Todo o projeto pode ser realizado usando somente as seções rígidas (trilhos) da Frateschi. Porém, não é um projeto para iniciantes.

Eu recomendaria usar grades flexíveis ref. 4880 / 4980. Isso reduzirá bastante o número de emendas — pontos onde sempre há risco de mau-contato elétrico, agora ou no futuro.

A reta de trás, no "oval", utiliza a mesma sequência de grades 4110 + 4055 + (3 x 4045), conforme a reta de dentro na parte da frente.

O grande número de grades ref. 4055 e 4045 — para ajuste — é um dos motivos para recomendar o uso de seções flexíveis, que serão cortadas nos tamanhos exatos, sem tantas emendas.

Ímãs de desengate

Mesmo para quem usar grades rígidas, minha sugestão é instalar ímãs embaixo dos dormentes, num buraco dentro da cortiça e/ou do compensado.

Eu desmancho fechos magnéticos para armários de cozinha etc., e uso os ímãs que vêm dentro deles. O tamanho do ímã varia conforme a marca do fecho para armário. Todos têm bastante força, de modo que podem ficar bem abaixo dos dormentes. Por isso, prefiro os mais curtos, diminuindo o risco de desengatamentos acidentais. O fato de ficarem escondidos, não atrapalha em nada. Quando você recua a composição devagar, nas manobras, ouve-se claramente o clic dos engates se abrindo.

O centro do ímã deve ficar a 5,5 cm da emenda do AMV ref. 4200 / 4900 Frateschi. O fato da via férrea ser curva, não afeta essa geometria.

Curvas de transição

Na Figura 3, são indicadas as seções em apenas uma das curvas de retorno do "oval" — a outra curva é um espelho perfeito, exceto no caso em que a curva ref. 4222 é substituída por um AMV ref. 4200 / 4900, que produz o mesmo efeito.

Note que a locomotiva passará suavemente das retas para as curvas — e vice-versa — no circuito "oval".

No centro das curvas de retorno, estão grades ref. 4219, cujo raio é de 42 cm. Em seguida, vêm as curvas ref. 4083 e 4165, cujo raio é de 48 cm. E por fim, as curvas ref. 4222, cujo raio é de 85 cm.

Afinal, esse é o "trajeto" principal, onde o trem é deixado circular numa velocidade um pouco maior.

Nas áreas de manobra, o projeto não insiste na mesma suavidade. São usadas curvas ref. 4219 no canto mais afastado — e curvas ref. 4083 / 4165 em outros trechos —, sem nenhuma transição para a reta. Isso acontece nas ferrovias "reais", onde as manobras são feitas em baixa velocidade, por locomotivas pequenas.

Quando as locomotivas grandes andam "escoteiras" (desengatadas), também conseguem circular nas curvas mais fechadas dos pátios, devagar.

Percurso X Manobras

O funcionamento da mini-ferrovia pode ser acompanhado na Figura 4 — que mostra só as vias, os desengates, e os blocos eletricamente isolados (clique na Figura para ampliar).

Um traço, indica isolamento apenas num dos trilhos — por convenção, sugiro que seja o trilho alimentado pelo fio vermelho.

Dois traços, indicam isolamento nos 2 trilhos. É o triângulo de reversão de locomotivas, disfarçado na área de manobras da ponta menor do "L".

Por ser área de manobras, basta 1 único trecho com alimentação reversível. A locomotiva entra nesse trecho T-1, e pára. Você inverte a alimentação do trecho — depois inverte a direção no Controlador —, e a locomotiva pode seguir adiante.

Esse procedimento é extremamente "real". A locomotiva de percurso pára, para desengatar da composição.

O traçado foi disposto tendo em vista 2 pontos fundamentais: (a) Manobras, que dão vida à maquete; e (b) Trajeto em circuito fechado, que ninguém é de ferro.

Um feixe de manobras com 100 linhas paralelas é uma coisa impressionante, na vida "real", mas na maquete só faz sentido se não prejudicar o espaço para outros elementos. E falo de cadeira, pois já tive uma ferrovia com trajeto bastante razoável — mas só restou espaço para 1 único pátio. Você forma composições, depois desmancha composições... e não existe nenhum sentido nisso, embora seja uma atividade divertida. Mas cansa.

Neste projeto, as linhas de manobra foram espalhadas de modo que atendam 6 indústrias e/ou terminais de carga e descarga.

São 4 pátios dentro do oval; 1 pátio fora do oval, à esquerda; e 1 pátio duplo na ponta menor do "L". Portanto, cada vagão pode ter uma origem (carga) e um destino (descarga).

Para formar a composição, você busca os vagões na origem. Ao desmanchar a composição — após a viagem —, você leva os vagões para seus destinos.

Organize as coisas de modo que cada vagão possa atender 2 indústrias e/ou terminais diferentes.

Por exemplo, os tanques de uma pequena base de combustíveis podem abastecer 2 ou 3 indústrias consumidoras. Um armazém de secos & molhados pode receber os produtos dessas pequenas indústrias.

Mas não leve os vagões de uma indústria diretamente para outra. Inclua-os num trem, faça-o viajar, e só quando ele "chegar" distribua os vagões para seus destinos finais.

Operação

Em 3 pátios — sendo 2 duplos — , os vagões entram empurrados no sentido horário. Nos outros 3 — idem —, os vagões entram no sentido anti-horário. Este detalhe cria o primeiro quebra-cabeças na operação da ferrovia.

A linha dupla para cruzamento "P-1" / "P-2" permitiria que a locomotiva saísse de uma ponta do trem e fosse engatar na outra extremidade, invertendo a marcha para atingir os pátios que assim exigem.

Mas os 2 acessos que ligam o "oval" à ponta menor do "L", criam possibilidades de operação muito mais variadas.

Se o trem vem no sentido horário, entra pela haste de manobras "T-2". Isso desocupa imediatamente o trajeto principal. Mais tarde, a loco deixa a composição, e sai por "T-1". Ou se for o caso, entra no estacionamento "T-3".

Se o trem vem no sentido anti-horário, pode entrar por "T-1" e realizar a mesma operação — basta passar pelo cruzamento "P-2".

Acho essa possibilidade muito mais interessante. Por isso, sugiro não colocar nenhum ímã para desengate no cruzamento "P-1" / "P-2".

Isso também evita que o trem acabe perdendo vagões na passagem por "P-1" ou "P-2".

O bloco "M" de manobras permanece ligado ao trajeto principal "P". O mesmo pode ser feito com o setor "T" na área do triângulo de reversão.

Exceto pelo estacionamento "T-3" — que pode ser um abastecimento ou depósito —, não existe um verdadeiro pátio de locomotivas.

No entanto, são previstos 8 trechos isolados nos pátios "M-1", "M-2", "M-3", "P-1", "P-2", "T-1", "T-2" e "T-3", de modo que você pode ter 3 ou 4 locomotivas na maquete.

Manter umas fora do caminho das outras, é mais um "quebra-cabeças" na operação dessa pequena ferrovia.

Não que seja necessário entupir a maquete com 4 locomotivas. Mas, algo me diz que não custa nada, dispor dessa possibilidade.

Como se vê, o objetivo não é propriamente "facilitar" a operação. Acredito que não vale a pena investir numa maquete — para se cansar rapidamente, por falta de um desafio capaz de manter o interesse depois de pronta.

Quando você não quer manobrar — ou chegam visitas —, roda os trens.

Justamente para equilibrar, é que existe o circuito fechado — "oval" —, onde você põe as composições a rodar.

Por isso, existe espaço para manter 3 ou 4 composições formadas, que podem viajar alternadamente.

   
  

Bibliografia

• A Gretoeste: a história da rede ferroviária GWBR - 25 Abr. 2016

• Índice das revistas Centro-Oeste (1984-1995) - 13 Set. 2015

• Tudo é passageiro - 16 Jul. 2015

• The tramways of Brazil - 22 Mar. 2015

• História do transporte urbano no Brasil - 19 Mar. 2015

• Regulamento de Circulação de Trens da CPEF (1951) - 14 Jan. 2015

• Batalhão Mauá: uma história de grandes feitos - 1º Dez. 2014

• Caminhos de ferro do Rio Grande do Sul - 20 Nov. 2014

• A Era Diesel na EF Central do Brasil - 13 Mar. 2014

• Guia Geral das Estradas de Ferro - 1960 - 13 Fev. 2014

• Sistema ferroviário do Brasil - 1982 - 12 Fev. 2014

  

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