Esgotada paciência com política rodoviarista, em 1930 "nosso querido diretor" teria enviado ultimato...

Mapas ferroviários de 1927
Enquanto isso, n’A Manha...

Flavio R. Cavalcanti
com informações de Claudio Figueiredo*,
testemunha não ocular da estória

… azedavam-se as relações do jornal A Manha com um de seus mais profícuos colaboradores, o “Dr. Vaz Antão Luís”.

Relações, por sinal, sempre complicadas.

O estopim teriam sido iníquas apreensões d’A Manha pela polícia, dando origem a “um grave incidente” entre o vespertino** e o presidente da República. Indignado, “o talentoso homem de letras” que dirigia o “hebdromedário” passou a pregar ideias comunistas, “em artigos primorosos”.

Estremecidas as relações, o “querido diretor” demitiu o redator chefe “Dr. Vaz Antão Luís”. Irritado, este “ex-companheiro”, aproveitando sua condição de presidente da República, teria ordenado ao Ministério da Justiça a apreensão do jornal [A Manha, 14 Out. 1927, apud Figueiredo].

Segundo A Manha, o “nosso querido diretor” redobrou então a virulência da linguagem — e a polícia teria redobrado a apreensão de suas edições:

“Depois de tantas apreensões, o nosso prezado chefe apreendeu também que não era negócio estar de relações cortadas com o governo (…). Assim, A Manha volta a ocupar seu posto de porta-voz do Catete (…), franqueando suas colunas ao estadista, que continuará a pontificar na terceira página em alentados artigos de bitola larga” [A Manha, 14 Out. 1927, apud Figueiredo].

O “Dr. Vaz Antão Luís” reassumiu, assim, suas funções de redator chefe, tratando imediatamente de esclarecer seus pontos de vista em um editorial entitulado “A Teoria e a Prática”:

“(...) encerrava em seu bojo (…) uma moção de desconfiança à minha atuação governamental, apresentando-me ao público como inimigo do Olho de Moscou. Sempre fui comunista, e se nunca preguei as ideias soviéticas, é somente porque eu não sou um teórico (...)” [A Manha, 14 Out. 1927, apud Figueiredo].

Em consonância, talvez, com os altos desígnios emanados de S. Excia., ao ser homenageado mais tarde com um jantar pelo “Dr. Vaz Antão Luís” e outros grandes vultos da época, o “nosso querido diretor” teve a oportunidade de se manifestar sobre a política rodoviarista. Diz A Manha:

“Foi uma verdadeira plataforma, o discurso do nosso chefe (…). Tipo completo do condottieri, rápido, incisivo”, disse o Robespierre nacional:

“Estou onde devo estar, ao lado do povo e das instituições!

“Abordando em seguida o problema das estradas de rodagem, exclamou, cheio de fé:

“Creio na dilatação dos corpos opacos pelo calor oficial!” [A Manha, 7 Nov. 1929, apud Figueiredo].

A paciência do “nosso querido diretor”, no entanto, tinha limites, como comprovou sua desassombrada atitude no último quartel de 1930, ao enviar categórico ultimato à política rodoviarista do “Dr. Vaz Antão Luís”.

... e assumiu o comando da revolução.

__________________________________
(*) Claudio Figueiredo. “As duas vidas de Aparício Torelly: O Barão de Itararé”, Ed. Record, 2ª Edição, Rio de Janeiro, 1988.

(**) Embora não fosse um jornal diário, A Manha costumava sair tarde. Em suas próprias palavras, era o único quinta-ferino que saía aos sábados.

Acompanhe no FB

Busca no site