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Estrada de Ferro Campos do Jordão
Uma aventura na EFCJ - (I)

Marcos Roberto Ahorn
Centro-Oeste DC-2 — 28 Fev. 1990

Na segunda semana de 1990, liguei para o telefone que consta no Centro-Oeste TX-13 e falei com dona Sílvia, que reservou dois lugares na litorina para o percurso Pindamonhangaba – Campos do Jordão no dia 21. Aliás, liguei duas vezes e ela não estava, mas entrou em contato dois dias depois. A princípio, só havia um lugar vago mas, como houve desistências, foi possível viajarmos nesse dia. Ela ligou confirmando, no dia 16, e solicitou que enviasse um cheque de NCz$ 180 nomial à EFCJ. No dia seguinte, ligou confirmando o recebimento.

Domingo, 6 h da manhã, lá vamos o Cláudio e eu. Seguimos as instruções de dona Sílvia e chegamos à estação sem problemas — Via Dutra, trevo de Pindamonhangaba, seguir em frente 3 km e entrar à esquerda no primeiro semáforo.

Não há como errar, porque antes do semáforo há um viaduto que passa sobre a linha da RFFSA e dá para ver a estação da EFCJ, que fica em frente à praça central. Há um pequeno estacionamento dentro da própria estação.

O horário de saída é às 9:30 h e, como chegamos às 8:45 h, deu tempo suficiente para xeretar as oficinas, o armazém e a estação. Fiquei muito bem impressionado com o aspecto bem cuidado das construções e com a limpeza. Há até belos jardins e uma pequena praça, perto das oficinas.

O fato de a estação ser fim de linha, o estilo europeu e a existência de uma rua atravessando os trilhos entre a estação e o armazém e a oficina são um atrativo a mais para o ferreomodelista.

No prédio principal da estação há uma pequena maquete oval, onde circulam alguns modelos do material rodante da EFCJ. A escala parece estar perto da antiga IV, tão grande é a bitola. Há também várias fotos P&B mostrando a EFCJ nos tempos de sua construção e juventude.

Ao lado das oficinas — que incluem garagem, ferramentaria com várias máquinas-ferramenta e até uma tipografia, — há um girador, indispensável porque as litorinas só têm cabine para maquinista numa das extremidades.

Às 9:15 h embarcamos. Ficamos impressionados — assentos numerados e com encosto para a cabeça, carpete nas laterais e no teto, porta-copos… A automotriz saiu logo após, e um guia contava, através de um bom sistema de som, a história da ferrovia, citando dados sobre Pindamonhangaba e Campos do Jordão. Um garçom servia bebidas e refrigerantes.

Ainda no vale, onde é possível desenvolver uma velocidade maior, percebe-se claramente que a linha necessita de um re-nivelamento. A automotriz sacode bastante. A explicação dada pela guia é a bitola estreita (1,00 metro). Será que alguém já ouviu falar que no Japão roda-se a 160 km/h na bitola de 1,067 metro?

A linha férrea cruza muitas ruas e estradas e há uma bela ponte metálica de 160 metros sobre o rio Paraíba do Sul. Mas a paisagem torna-se mais interessante quando começa a subida — passagens estreitas, pequenos riachos… Há, pelo menos, um ponto de onde se pode ver o vale lá embaixo, muito verde, e Pindamonhangaba não parece mais que uma pequena vila.

Automotriz A4 na estação ferroviária de Santo Antônio do Pinhal

Às 10:55 h, chegamos a Santo Antônio do Pinhal, onde ficamos meia hora. A estação também é em estilo europeu e há um bar muito simpático, onde vendem-se geleias, compotas e outros pesadelos… Podem-se comprar também roupas de lã, numa das salas. Um conjunto de casas de ferroviários, uma subestação elétrica da ferrovia, um girador e um mirante com a estátua de Nossa Senhora completam o lugar. Novamente, tudo limpo e bem cuidado, denotando a preocupação de explorar o turismo a sério.

Infelizmente, nem sonhávamos que naquele dia não chegaríamos a Campos do Jordão — uma automotriz à nossa frente, fazendo o percurso Santo Antônio – Campos do Jordão, descarrilou e derrubou um poste de catenária.

Uma parte da nossa turma foi levada a Campos do Jordão de ônibus, e a outra resolveu retornar, devido ao horário imprevisível do retorno — mas com a promessa de nova viagem, gratuita. Ficamos no segundo grupo. Que graça teria, ir de ônibus?

Já eram 13:30 quando a automotriz deu ré para entrar no desvio que leva ao girador manual Ransomes & Rapier, London. Pelo visto, ele estava há tempos em desuso, pois o cadeado que o prendia teve de ser arrebentado — ninguém tinha a chave.

A volta a Pindamonhangaba ocorreu sem incidentes, e dona Sílvia nos aguardava para marcar as novas datas de viagem. A guia turística, mui gentilmente, dispôs-se a nos mostrar o interior da oficina, que de manhã só namoramos de longe.

Voltamos à Capital felizes por conhecer uma ferrovia brasileira que trata o passageiro turista como se deve. O pessoal mais parece de uma empresa privada, que de um órgão estadual. (…)

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