Vagões isotérmicos: frigoríficos e ferrovias
Frigoríficos no Brasil de 1911 a 1930
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Flavio R. Cavalcanti - Fev. 2013
O ferreomodelista brasileiro ainda dispõe de pouca ou quase nenhuma informação concreta sobre os vagões isotérmicos que podem ter rodado em nossas ferrovias durante a República velha, no período de 1913 a 1930, quando foram implantados os primeiros abatedouros frigoríficos no país.
No entanto, é muito simples identificar as ferrovias em que tais vagões isotérmicos poderiam trafegar, os pontos de origem e destino, e até os caminhos possíveis, com grande probabilidade de acerto. Se ainda não temos os vagões, sabemos onde procurá-los.
A evolução econômica do conjunto também apresenta certa simplicidade e organização.
Alguns grupos nacionais fundam frigoríficos, que vão sendo comprados juntamente com o Continental, estrangeiro por três grandes oligopólios norteamericanos (Swift, Wilson, Armour) e um grande grupo inglês (Anglo) que, em meados da década de 1930, chegarão a controlar 95% da capacidade nacional de abate e processamento de gado bovino e 87% da de suínos e ovinos [Suzigan; Szmrecsányi]. Isso esclarece qual participação no mercado poderiam ter a Cia. Pecuária e Frigorífica do Brasil (liquidada por volta de 1930) e o frigorífico Matarazzo e, portanto, qual presença os vagões com suas cargas poderiam ter nas ferrovias da época.
Ano |
Cidade |
UF |
Inicialmente |
Depois |
1913 |
Barretos |
SP |
Cia. Frigorífica e Pastoril |
Anglo (1923) |
1915 |
Osasco |
SP |
Continental Products Company |
Wilson (1917) |
1917 |
Mendes |
RJ |
Brazilian Meat Co. (Anglo) |
Anglo |
1917 |
Santana do Livramento |
RS |
Armour |
Armour |
1917 |
Santa Cruz |
RJ |
Anglo |
Anglo |
1918 |
Santana do Livramento |
RS |
Wilson |
Wilson |
1918 |
Santos |
SP |
Cia. Frigorífica de Santos |
Anglo |
1918 |
Barbacena |
MG |
Cia. Pecuária e Frigorífica do Brasil |
|
1919 |
Rio Grande |
RS |
Swift |
Swift |
1919 |
Rosário do Sul |
RS |
Swift |
Swift |
1919 |
Pelotas |
RS |
Cia. Frigorífica de Pelotas |
Anglo (1924) |
1921 |
Santo André |
SP |
Armour |
Armour |
1923 |
Jaguariaíva |
PR |
Frigorífico Matarazzo |
|
1930 |
Cruzeiro |
SP |
Frigorífico Bianco |
|
A lista dos abatedouros frigoríficos pode ser considerada bastante completa, e é mais provável que peque por excesso, do que por lacunas.
A Cia. Frigorífica de Pelotas (ou Cia. Frigorífica Rio Grande, ou Frigorífico Nacional), por exemplo, pouco embarcou, até ser fechado em 1926. Embora tivesse ramal ferroviário, é mais provável que fosse utilizado para o recebimento de vagões de gado. O objetivo do frigorífico era a exportação. Para isso, tinha trapiche próprio, além de uma barcaça com capacidade para 300 toneladas de carne, dotada de isolamento térmico e encanamento de amoníaco pelo sistema de expansão direta” [Paradeda], para levar a produção ao porto de Rio Grande, onde embarcaria para a Europa.
Também é pouco provável que o Swift de Rio Grande, ou a Cia. Frigorífica de Santos, embarcassem carne em vagões isotérmicos. Suas localizações eram estratégicas para a exportação por navios e totalmente inadequadas para atendimento ao pequeno mercado interno então existente (subir de volta a serra de Paranapiacaba, ou dar uma longa volta para atingir Porto Alegre).
Os demais 11 abatedouros frigoríficos, muito provavelmente, teriam de utilizar vagões isotérmicos ou próprios, ou das ferrovias gaúchas (Santana do Livramento, Rosário do Sul); da
CPEF
e/ou
SPR
(Barretos, Osasco, Santo André); ou da
EFCB
(Mendes, Santa Cruz, Barbacena, Cruzeiro).
Infelizmente, os luxuosos álbuns da belle époque são um pouco anteriores à implantação desses frigoríficos. Mas, mesmo Max Vasconcelos, já no final do período (3ª ed. 1928), tão minucioso do número de ruas, hoteis e linhas de ônibus das cidades servidas pela
EFCB
não faz menção ao grande frigorífico de Mendes (RJ); nem ao modesto estabelecimento de Barbacena (MG), àquela altura já em processo de liquidação.
Enfim, o frigorífico Matarazzo em Jaguariaíva (PR) teria de utilizar vagões isotérmicos próprios, ou da
EFSPRG
para chegar ao mercado paulista ou ao porto de Santos.
Vale notar que o Frigorífico Continental, embora adquirido pelo grupo Wilson em 1917, parece ter mudado de nome somente em 1934.
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