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Ferrovias e ferreomodelismo
Engates: modelos e protótipos (I)
Marcos Bertossi
Centro-Oeste DC-14-15
(30 Jun. 1991)
I - Ferrovia
A evolução do sistema de engate está intimamente ligada ao desenvolvimento tecnológico da construção
de vagões.
Por volta de 1830, iniciou-se a grande diferenciação no desenho do material rodante americano e europeu, quando a Baltimore
& Ohio começou a utilizar carros de passageiros de 8 rodas — isto é, substituindo os eixos simples pelos truques desenvolvidos
pelo projetista Ross Winans.
O sucesso foi tão grande que, em 1935, a B&O já tinha mais de uma centena de vagões fechados — vagões
box, então chamados house, por seu estilo construtivo — sobre truques.
Com a evolução dos vagões, para transportarem cada vez maior volume de carga, os engates não poderiam deixar,
também, de evoluir. Na Fig. 1, vemos a evolução dos vagões norte-americanos tipo box, dos anos 1830 a 1946.
Os primeiros vagões tinham comprimento de 9 metros (30 pés), transportavam 9 toneladas de carga, usavam corrente e pára-choques
(topes) como sistema de engate e tinham caixa (box) de madeira, com vigamento e reforço nas laterais e cabeceiras.
Em 1870, tinham capacidade para 20 toneladas, caixa dupla de madeira com vigamento e reforço internos, sistema de engate por
argola e pino (link-and-pin), freio manual, truque arch-bar (truque de barras ou diamante) e infra-estrutura em madeira com tirantes
em aço.
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Com a virada do século, veio a época de maior evolução dos vagões, com o desenvolvimento do freio a ar
por George Westinghouse (adotado pelas ferrovias a partir de 1890), truques fundidos em aço (desenvolvidos pela Bettendorf Company
em 1903), infra-estrutura em aço, caixa simples em madeira com vigamento e reforços em aço, e engate moderno baseado
no desenho de Eli Janney — basicamente, o engate atual.
Com estas inovações, os vagões passaram a ter capacidade para 40 toneladas de carga, para um comprimento de 10,8 metros
(35 pés).
Os vagões do pós-guerra (1946), construídos pela Pullman-Standard, de 12 metros (40 pés) de comprimento, eram
totalmente em chaparia rebitada (aço), com capacidade para 50 toneladas, e abriram caminho para os de chaparia soldada.
EUA x Europa
Durante a movimentação dos veículos (locomotivas e vagões) que formam o trem, uns transmitem aos outros diferentes
esforços de tração e compressão, devido às mudanças de velocidade (aceleração, frenagem).
Para que não haja choques violentos, é necessária a utilização de sistemas elásticos, para amortecer
os esforços.
Estes sistemas elásticos podem ser distintos e separados — caso específico do material rodante europeu —, ou conjuntos com
o sistema de engate. Este último tipo chama-se Aparelho de Choque e Tração, adotado nos Estados Unidos e também
no Brasil (engate central automático).
Na Europa, o sistema de engate é do tipo "gancho", exclusivamente para realizar a tração (Fig. 2),
enquanto 2 amortecedores (topes), à direita e à esquerda, amortecem os choques. Várias ferrovias brasileiras utilizaram
este sistema, principalmente no século passado.
Já o sistema de engate central caracteriza-se por ter uma única peça de aço fundido, que exerce tanto o
esforço de tração quanto a função de amortecedor (Fig. 3). O elemento elástico é uma
mola interna helicoidal, ou amortecedor de fricção.
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Sistema americano
O acoplamento entre os vagões é automático (Fig. 4), por meio de um simples contato das mandíbulas, que
estão deslocadas para um lado (abertas), permitindo que uma encaixe na outra. Ao engatar, uma cas_tanha interna encaixa num orifício
interno à mandíbula do vagão seguinte (e vice-versa), impedindo que as mandíbulas se abram. Nesta situação,
as cabeças ficam presas uma na outra.
Para desengatar, puxa-se a barra que vai do engate até a lateral do vagão (Fig. 5), liberando a castanha e soltando a
mandíbula, que é automaticamente deslocada para o lado (aberta).
Conforme mencionado, atualmente as ferrovias brasileiras usam o Aparelho de Choque e Tração (engate central automático)
do tipo norte-americano — atualmente, os mais usados são o Alliance n° 2 modelo 512, o Alliance Full Size, Peerless, Cardwell,
Wanghmat e Tigtlok —, por garantir maior segurança, facilidade de manutenção e funcionamento perfeito, atendendo
às exigências dos atuais veículos.
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A Fig. 6 mostra o engate montado, do tipo Alliance n° 2, e aparelho de choque Peerless (sistema de fricção). Este
aparelho foi especialmente desenvolvido pela American Steel Foundries, na década de 30, para exportação — com peso
menor do que os normalmente utilizados na América do Norte, devido ao encurtamento do comprimento total.
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Na cabeça do engate existem vários componentes do sistema de engate e desengate automático:
- Mandíbula (garra) — É o dispositivo que sofre todos os impactos durante as manobras e permite o
travamento dos vagões entre si, durante o movimento.
- Castanha — É o responsável pelo travamento da mandíbula, quando esta se fecha.
- Levantador inferior — É a peça que se encaixa na castanha e é fixada ao rotor por um pino.
Quando acionada peloo rotor, levanta a castanha, destravando a mandíbula para o desengate.
- Rotor (girador) — Localiza-se na parte inferior da cabeça e, quando acionado pela alavanca, faz com que
se processe o desengate.
- Acionador da mandíbula — Tem por finalidade acionar a mandíbula no sentido de abertura, quando a
castanha é levantada.
- Alavanca (puxador ou varão de desengate) — Uma de suas extremidades é encaixada no rotor e a outra
fica pendente no suporte. É responsável pelo acionamento do levantador em conjunto com o rotor e este, por sua vez,
ao se movimentar, levanta a castanha e, simultaneamente, movimenta o acionador da mandíbula, possibilitando o desengate automático.
O engate Alliance n° 2 é constituído do aparelho de choque e tração do tipo Peerless, que é
um conjunto amortecedor para atenuar os choques e permitir o tracionamento dos demais vagões ligados entre si. Este sistema está
localizado na braçadeira de cauda, fundida no corpo do engate. O aparelho tipo Peerless é constituído por duas
molas e quatro cunhas de fricção (duas laterais, uma dianteira e uma traseira). As cunhas laterais possuem encaixe lateral
para receber as molas e servem par amortecer os choques e eliminar as folgas. As dianteira e traseira recebem os choques e esticões
(forças de compressão e tração), transmitindo-os às cunhas laterais, que os amortecem pela ação
das molas comprimidas.
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