General Electric do Brasil
Locomotivas C30-7 Cutrale-Quintella

Flavio R. Cavalcanti
Centro-Oeste DC-9-10 — 31 Jan. 1991

O texto do início de 1991 dá uma ideia da operação de marketing que cercou a entrega de 7 locomotivas Dash-7 (C30-7) Cutrale-Quintella à Fepasa para reforço de suas exportações de soja e farelo cítrico. Nem tudo se passou como previsto. Fica o testemunho de uma época [FRC, 27 Set. 2015].

«Marketing privado chega às ferrovias

«O marketing de uma grande empresa privada, a Cutrale-Quintella, aliado ao marketing político do governador paulista (e presidenciável) Orestes Quércia, conseguiu colocar os trens no maior espaço editorial da imprensa brasileira — proporcionalmente ao tamanho real da notícia. Afinal, não se tratava de nenhuma ferrovia mirabolante tipo "1001 noites".

«Trata-se da entrega oficial (10 Jan.) de 7 belíssimas locomotivas Dash-7 (General Electric do Brasil) de 3.000 HP e 180 toneladas, pintura branca, inscrições e logotipo Cutrale-Quintella (CQ), n° 7201 a 7207, que vão tracionar trens de soja e laranja (farelo cítrico) para exportação, no trecho da estação Boa Vista (Campinas) à estação Perequê (baixada santista), de 250 km.

«No dia seguinte, a notícia saiu em todos os principais jornais do País — sem contar os anúncios do governo Quércia (quase de página inteira, com foto 26 x 17 cm da loco n° 7203) e da General Electric (2/3 de página, com foto 19 x 12 cm, em outro ângulo). Press-releases com fotos (Kobayashi) da Dash-7 inundaram os jornais de norte a sul do País e, na semana seguinte, ainda eram usados pelos editores para ajudar a "fechar as páginas" de economia. A Istoé Senhor n° 1112, datada de 16 Jan., dedicou nada menos que uma página ao assunto, com uma bela foto colorida ao centro — e um texto que, nas últimas linhas, já não conseguia mais parecer natural.

«Com tanto marketing, quem sabe, a CQ não seria sensível à idéia da Frateschi lançar um modelo HO?

«Juntamente com vagões de pellets cítricos (CO-24/12) e outros, de visual igualmente leve e bonito, a CQ oferece ao modelista uma opção de trem que fazia falta no País — onde predominam o marrom sujo e o vermelho berrante.

«Trajetos

«Além de fornecer a carga e as locomotivas — verdadeiros out-doors Cutrale-Quintella, — a CQ está investindo na recuperação de 320 vagões da Fepasa e, de quebra, na recuperação de trechos de linha. O objetivo da CQ Comércio e Exportação, maior exportador brasileiro de soja, é substituir cerca de 40 mil viagens/ano de carreta, por rodovia, entre Campinas e Santos. No ano passado, a empresa respondeu por 1,3 milhão de toneladas de soja exportada.

«Numa segunda fase, com a remodelação de novos trechos, as locos CQ circularão num eixo de 700 km, cobrindo as regiões de Araraquara e Bauru.

«De acordo com a Revista Ferroviária Nov. 1990, pag. 15, desde 1982 (governo Montoro) a Fepasa vem investindo pesado no seu ponto crítico — o gargalo na descida da serra, — entre Campinas e Santos, para escoar todo tráfego originário das bitolas larga e métrica, através de uma linha moderna em bitola dupla (3 trilhos), rampas aceitáveis, curvas adequadas etc. Em fevereiro, completa a duplicação da "serra" e do "planalto" da Fepasa, aproveitando a previdência dos construtores da antiga Sorocabana, que fizeram os túneis e demais obras de arte com gabarito para 2 linhas paralelas. Qualquer um pode perceber que, em breve, a RFFSA / EFSJ vai ficar chupando o dedo.

«Até o final do governo, segundo a Istoé Senhor, Quércia também espera concluir a Hidrovia do Paraná-Tietê, que vem sendo construída — através de represas, eclusas, derrocamentos, sinalização etc. — há umas 3 décadas. As safras do Paraná (desde Guaíra), Goiás (desde São Simão), Mato Grosso do Sul e Minas Gerais poderão ser transportadas pela hidrovia até Piracicaba, a um custo até 70% mais baixo, e embarcadas pela Fepasa rumo a Santos.

«Como marketing político, portanto, a comparação da Fepasa com a RFFSA (cheia de pepinos), daqui a 12 ou 18 meses, será até uma covardia».

«» ª … •’ — “”

Busca no site