Em 1935 a Compagnie de Chemins de Fer Fédéraux de l'Est Brésilien — empresa de capital franco-belga que explorava as principais linhas
férreas do Estado da Bahia — foi encampada pelo governo federal e surgiu assim a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro — VFFLB.
Esta procurou levar a cabo uma série de projetos de recuperação e empedramento da via permanente, construção de novas estações, caixas
d'água para o abastecimento das locomotivas a vapor, recuperação e ampliação das oficinas, depósitos e estações, construção de casas
para os agentes de estação e pessoal de conservação da via permanente.
Em 1938 foi iniciada a duplicação da linha-tronco até o subúrbio de Paripe, cujas obras foram terminadas no final dos anos 40.
Também foi construída a grande ponte de Passagem, sobre a baía de Aratu, com 678 metros de extensão, substituindo a variante que
lá existia.
Foi projetada a ponte de São João, de 540 metros de extensão, sobre a enseada dos Cabritos, no subúrbio de Salvador, concluída em
1952, substituindo a variante de 3 km que contornava aquele local, visto que a antiga ponte de Itapagipe, construída pelos ingleses
em 1860, não apresentava condições de segurança para o tráfego dos trens
Já no início dos anos 40, a VFFLB estudava as possibilidades de eletrificar sua linha-tronco de Salvador a Alagoinhas e de Mapele
a Conceição de Feira, num total de aproximadamente 230 km, para aproveitar os lençóis petrolíferos do subsolo do Recôncavo Baiano
e as jazidas de gás natural da região de Aratu na geração de energia elétrica para as subestações projetadas. Este projeto foi levado
adiante, as obras foram iniciadas em novembro de 1948 e quase totalmente encerradas em 1954.
Neste meio tempo, a Leste Brasileiro introduziu, no ano de 1938, as
primeiras locomotivas diesel-elétricas a rodar no Brasil, que foram três unidades adquiridas a The English Electric Co., Inglaterra,
seguidas em 1940-42 de três pequenas manobreiras Davenport de 25 ton
e, entre 1943-44, de oito locomotivas Davenport de 44 ton.
A idéia da VFFLB era substituir, aos poucos, a tração a vapor da região do Recôncavo Baiano, aumentar a eficiência do transporte
ferroviário nesta região, de maior demanda, e deixar as locomotivas a vapor para as áreas mais distantes do Estado e que ficavam mais próximas
das regiões produtoras de lenha, diminuindo assim os gastos com o transporte deste combustível para uso da linha-tronco.
As locomotivas a vapor sofriam, àquela época, considerável perda de eficiência devido ao uso de lenha inadequada nas caldeiras, de
baixo teor calorífico, a despeito dos esforços efetuados por parte da administração da ferrovia em ampliar as oficinas e depósitos
e dotá-las com máquinas e ferramentas mais eficientes. Vale a pena lembrar que a rotunda do depósito da Calçada, em Salvador, foi
ampliada e modernizada em 1941.
Carros e vagões
No período de 1936 a 1944, construíram-se nas oficinas da Leste Brasileiro cerca de 76 carros de passageiros, dos quais 69 em Aramari,
3 em Periperi e 4 em São Félix.
No mesmo período construíram-se na Bahia 138 vagões de carga, sendo 131 nas oficinas de Aramari, 6 em Periperi e 1 no depósito da
Calçada.
Em 1944/Dez/31 existiam na Bahia 2.209,131 km de ferrovias em tráfego (incluindo ramais e sub-ramais) e mais 126,209 km de desvios
e triângulos de reversão.
Pintura
De acordo com dois antigos ferroviários que ainda trabalham nas oficinas Oswaldo Rios, em Alagoinhas (Humberto e José Hipólito) as
locomotivas Davenport B-B tinham as seguintes pinturas, alternadas:
-
Azul claro nas laterais até a altura dos pega-mãos e cinza claro na parte de cima
-
Toda azul claro ou toda cinza claro com logotipo LB entrelaçado
-
Esquema vermelho e amarelo da RFFSA até sua baixa
Não consegui saber ao certo até quando as locomotivas Davenport B-B estiveram em serviço. Entretanto, a relação de plantas da RFFSA
/ 4ª Divisão Leste ainda mostrava 7 destas locomotivas em 1975/Abril (n°s 603 a 609). Infelizmente, nenhuma destas locomotivas foi preservada
e todas foram sucateadas.
Bibliografia
-
Características das Locomotivas Elétricas, Diesel-Elétricas e Multiple Unit Cars, RFFSA / 4ª Divisão "Leste",
1975/Abril.
-
VFFLB, Relatórios dos Exercícios de 1943 e 1944, Tipografia da Leste, Salvador, 1944/Mar e 1945/Mar.
-
Cópia da pág. 342 do catálogo da Hitchcock Publishing Co., Chicago, USA, 1945, sobre a Davenport Locomotive Works,
fornecida por Márcio Hipólito, São Paulo.
Carros da VFFLB
em 1944/Dez/31 |
Espécie |
Série |
Qtd |
Administração |
A |
13 |
Dormitórios |
D |
12 |
Restaurante |
R |
17 |
1ª Classe |
B |
59 |
2ª Classe |
C |
79 |
Misto |
BC |
10 |
Chefe de trens |
E |
46 |
2ª e Chefe de trens |
CE |
6 |
TOTAL |
242 |
Dos quais 205 em serviço e 37 em reparos |
- Model Railroader Cyclopedia Volume 2 — Diesel Locomotives, Kalmbach Publishing Co., Waukesha, WI, USA, 1989 (4ª edição).
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Vagões da VFFLB
em 1944/Dez/31 |
Espécie |
Série |
Qtd. |
Frigoríficos |
F |
1 |
Para canas |
K |
73 |
Plataforma |
L |
202 |
Fechados |
M |
505 |
Gaiolas |
G |
87 |
Bordas altas / baixas |
O |
202 |
Para pedras |
P |
60 |
Para sal |
S |
20 |
Tanques |
V |
58 |
Para inflamáveis |
X |
27 |
Guindastes |
Y |
5 |
Autos de linha |
AL |
3 |
TOTAL |
1243 |
Dos quais 1139 em serviço e 104 em reparos |
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Características das
Locomotivas
Davenport B-B |
Modelo |
8-44 |
Fabricante |
Davenport Locomotive Works, divisão da Davenport Besler Corporation, Davenport, Iowa, Estados Unidos. |
Quantidade recebida |
8 |
Ano de fabricação |
1943 |
Recebimento pela VFFLB |
3 em 1943 e 5 em 1944 |
Mês e ano de entrada em serviço |
1944/Jan |
n°s 603, 604, 605 |
1944/Abr |
n°s 607, 608 |
1944/Mai |
n°s 606, 609 |
1944/Jun |
n° 610 |
Todas foram montadas em Salvador pelos técnicos e operários do depósito da Calçada |
Peso em ordem de marcha |
44.000 kg |
Peso aderente |
44.000 kg |
Peso por eixo |
11.000 kg |
Esforço de tração |
7.000 kg |
Força no engate |
5.640 kg |
Velocidade máxima |
35 km/h |
Raio de inscrição mínimo |
32 m |
Freio |
ar comprimido |
Tipo |
14-EL |
Fabricante |
Wabco |
Dimensões |
Distância entre engates |
10,3505 m |
Base rígida de cada truque |
2,1336 m |
Distância entre centros de truques |
5,0292 m |
Altura do centro dos engates |
0,6825 m |
Largura total |
2,742 m |
Bitola |
1,00 m |
Altura total |
3,7147 m |
Altura da plataforma |
1,35 m |
Motores diesel |
Fabricante |
Caterpillar |
Modelo |
D-17000 |
N° de motores |
2 |
Potência nominal |
180 HP cada |
total: 360 HP |
Rotação |
1.000 rpm |
Compressor |
Tipo |
CY4 |
Fabricante |
Wabco |
Óleo lubrificante |
71-TS |
Truques |
Tipo |
GSC |
Disposição |
B-B |
Diâmetro das rodas |
0,8382 m (33 polegadas) |
Bateria |
Fabricante |
Nife |
Tipo |
2RL-88 |
Tensão |
24 V |
Solução |
(KOH) alcalina |
Gerador de tração: |
Modelo |
184-E8 |
Fabricante |
Wabco |
Potência nominal |
2 x 170 HP |
Classificação: |
Gerador |
DC |
Rotação |
1.200 rpm |
Tensão máxima |
800 V |
Ampéres máximo |
425 A |
Campo Shunt |
30 A |
Motores de tração: |
Modelo |
908 G-2 |
Fabricante |
Wabco |
Classificação: |
Motor |
DC |
Enrolamento |
em série |
N° de polos |
4 |
Relação de transmissão |
75:13 |
Locomotivas da VFFLB em 31 Dez. 1944 |
Numeração |
Tipo |
Rodagem |
Qtd. |
VFF Leste Brasileiro |
3 |
Centiped |
2-4-0 |
1 |
8 e 9 |
Prairie |
2-6-2 |
2 |
10 |
Six Wheeler |
0-6-0 |
1 |
12 |
Mogul |
2-6-0 |
1 |
15 e 16 |
American |
4-4-0 |
2 |
5 e 21 a 25 |
Atlantic |
4-4-2 |
6 |
50 a 53 |
Automotriz |
B-B |
4 |
100-109 / 111-120 |
Consolidation |
2-8-0 |
20 |
200 a 279 |
Ten Wheeler |
4-6-0 |
80 |
300 a 305 |
Pacific |
4-6-2 |
6 |
400 a 406 |
Mikado |
2-8-2 |
7 |
500 a 506 |
Mountain |
4-8-2 |
7 |
600 a 602 |
(D. Elét) English Electric |
1-B-B-1 |
3 |
603 a 610 |
(D. Elét) Davenport |
B-B |
8 |
700 a 702 |
(D. Mec.) Davenport |
1-B-1 |
3 |
703 a 704 |
(D. Mec.) Brookville |
B |
2 |
EF Petrolina a Teresina |
1 |
Torney Coupled |
|
1 |
2 |
Tanque |
0-4-2 |
1 |
11 |
Mogul |
2-6-0 |
1 |
17 e 18 |
American |
4-4-0 |
2 |
282 a 284 |
Ten Wheeler |
4-6-0 |
3 |
EF Santo Amaro |
4, 6 e 7 |
Coupled |
|
3 |
280 e 281 |
Ten Wheeler |
4-6-0 |
2 |
TOTAL |
166 |
Das quais 60 estavam em bom estado, 44 em estado regular, 33 em mau estado, 24 em reparos e 5
aguardando reparos |
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