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Dois instantes a caminho da formação de uma rede regional e inter-regional do Nordeste: (A) Em 1950, duas pequenas redes
em torno de Salvador e do Recife; e várias linhas isoladas, de interesse puramente zonal. (B) Em Jun. 1969, já conectada
ao Sudeste, mas ainda sem a ponte Propriá-Penedo, nem a ligação com o Piauí / Maranhão [cf.
Araújo, 1970]
Ferrovia Transnordestina*
A formação histórica da quase-rede de ferrovias no Nordeste
Flavio R. Cavalcanti (2006)
A formação de uma rede (ou malha) ferroviária de circulação interna regional e inter-regional do Nordeste ainda permanece restrita
às ligações abertas — de forma lenta, arrastada — em alguns períodos da história, culminando com a inauguração
da ponte Penedo-Propriá, que viabilizou o tráfego comercial de trens entre as antigas RFN
e VFFLB; e a abertura da linha férrea unindo as antigas EFSLT/EFCPi
à RVC, pelo Exército, em 1972, penúltimo ano do chamado milagre
brasileiro e da primeira metade do período militar recente. Desde então, praticamente não houve avanços.
Conjunto EFSLT / EFCPi
A EFSLT, inicialmente de interesse apenas local — 78 km
de Caxias a Flores, ligando a navegação do rio Itapicuru à do rio Parnaíba, nos primeiros anos da República
—, desenvolveu-se por mais 373 km, até São Luís, no período Epitácio Pessoa (1919-1922) [Para
que os primeiros trechos se inaugurassem um mês antes e três meses depois da posse (29 Jul. 1919), as obras devem ter tido
impulso em plena I Guerra Mundial (Venceslau Brás, 1914-1918); e/ou, possivelmente, no período anterior, do marechal gaúcho
Hermes da Fonseca (1910-1914)].
A EFCPi também se desenvolveu no período Epitácio
Pessoa (1919-1922) e primeiro ano do período Artur Bernardes (1922-1926), atingindo Piracuruca em 1923.
Só no primeiro período Vargas avançou até Piripiri (1937).
Em 1962 atingiu Campo Maior; Altos em 1965; e Teresina em 1968, quando foi desmembrada da RVC
e incorporada à EFSLT.
Ligação à RVC
A ligação de ambas à RVC (trecho Oiticica-Altos),
foi retomada no período Castello Branco (ministro da Viação Juarez Távora, 1964-1967), a cargo do Exército, que a entregou em 1972.
Formação da RVC
Lançada inicialmente para ligar Sobral ao mar, em Camocim, a linha de Sobral se desenvolveu no início
da República (+87 km), e novamente no período do marechal Hermes (1910-1914), quando os trilhos avançaram 120 km
de Ipu a Crateús.
No período Venceslau Brás (1914-1918) avançou 37 km na direção do Piauí, atingindo Ibiapaba
(1918); e em 1932 chegou a Oiticica.
O ramal de Itapipoca desenvolveu-se ao longo dos períodos Venceslau Brás (1914-1918), Epitácio
Pessoa (1919-1922) e Artur Bernardes (1922-1926), parando em Umari em 1927.
No primeiro período Vargas avançou até Itapipoca; e se completou em 1950 (período Dutra) — encerrando
o isolamento da linha de Sobral e abrindo a perspectiva de conexão da RVC
ao conjunto EFSLT / EFCPi.
A EF Baturité, inicialmente de interesse apenas local, expandiu-se no início da República,
perdendo força com a política restritiva de Joaquim Murtinho, e parando em Senador Pompeu (1900).
No período Afonso Pena (1906-1909) / Nilo Peçanha (1909-1910) os trilhos avançaram mais 126 km, atingindo Iguatu
em 1910. Avançaram mais 75 km no período Venceslau Brás, chegando a Lavras (1917); e 48 km com Epitácio
Pessoa, até Ingazeiras (1922).
Com a aproximação da Coluna Prestes, o período Artur Bernardes (1922-1926) viu estenderem-se mais 62 km de trilhos
até os domínios do padre Cícero [também foram concedidos fuzis Mauser e a
patente de capitão da Guarda Nacional para Lampião; mas, de posse das armas, este não se interessou em combater
os militares revoltosos].
O ramal da Paraíba avançou 99 km com Artur Bernardes (1922-1926), atingindo Souza em 1923.
No primeiro período Vargas — inicialmente ministros da Viação José Américo de Almeida; e da Agricultura
Juarez Távora —, os trilhos avançaram mais 125 km, atingindo Pombal em 1932 e Patos em 1944.
Na década de 1950 chegou a Campina Grande, tornando possível o tráfego de trens entre o Ceará e o Nordeste
oriental.
De Natal a Salvador
Os trilhos que formam o tronco litorâneo de Natal a Alagoas também surgiram para atender interesses locais, no
século XIX, ligando alguns portos a determinadas áreas de produção para exportação. Daí
o traçado irregular, ora buscando o interior, ora novamente o litoral — subindo do nível do mar, em Recife, até
a cota de 564 m em Água Branca; tornando a descer à cota de 46 m em Lourenço de Albuquerque; voltando à
cota de 464 m em Anum; e baixando outra vez a 18 m em Colégio. Ligações ferroviárias improvisadas tentaram
transformá-los em um tronco, sem alterar suas características históricas:
« Na zona açucareira nordestina, as linhas orientaram-se de modo a servir as usinas e plantações
de cana. Algumas das vias, partindo do litoral, dirigiram-se para o interior, à procura do rio São Francisco ou dos currais
do sertão. Nunca, porém, atingiram o rio ou o sertão profundo, nem vieram a formar um sistema interligado, a não
ser por meio de construções precárias terminadas na década de 1950 » [Délio
Araújo,
A bitola métrica no sistema ferroviário brasileiro, UCG (dat.), Goiânia, 1970].
Tronco litorâneo "novo" — nunca saiu do papel [cf. Araújo,
1970]
Embora a VFFLB tivesse estendido seus trilhos até a margem do São
Francisco (Propriá) na década de 1910, a Great Western não se interessou em fazer o mesmo — o que só aconteceu
na década de 1950, quando finalmente os trilhos chegaram a Colégio.
No final da década de 1960 o DNEF e a RFFSA
estudaram a retificação do traçado entre Natal e Colégio, a ser reconstruído inteiramente na planície.
Foi, provavelmente, um dos vários projetos de custo modesto e resultado concreto, sepultados pela concentração de recursos
no mega-projeto da Ferrovia do Aço [que substituiu a retificação / duplicação
da Linha do Centro, também orçada a um custo bem menor].
A Linha de Propriá foi aberta nos períodos Afonso Pena (1906-1909) / Nilo Peçanha (1909-1910),
marechal Hermes (1910-1914) e primeiro ano de Venceslau Brás (1914-1918).
Na falta de interesse da Great Western, só no início de 1967 completou-se a ligação entre as duas margens
do baixo São Francisco — através de um anacrônico sistema de ferry-boat, com um custo operacional equivalente
a 100 km por trem. O ferry só foi substituído por uma ponte em [1972?].
A Ligação Iaçu-Bonfim avançou ao longo dos períodos Venceslau Brás,
Epitácio Pessoa e início do período Artur Bernardes. Só no primeiro período Vargas recebeu novo impulso.
As datas das estações próximas a Iaçu (1951) sugerem que foi completada no período Dutra (1946-1951).
Essa ligação encurtaria em 1.129 km o trajeto do Sudeste ao Maranhão, Piauí, Ceará, oeste do Rio
Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco — com a construção da Transnordestina.
No entanto, permaneceu sem grande utilidade, por falta de conexões a partir de Petrolina / Juazeiro — e acabou abandonada.
Lembrar que também evitaria o gargalo São Félix / Paraguaçu, seria fora de propósito. Esses projetos
não visavam tornar o gargalo aceitável.
Ligação Sudeste - Nordeste
A conexão ferroviária do Nordeste a todo o Centro-Sul do País ganhou certo impulso no período Epitácio
Pessoa, e foi uma das poucas linhas relacionadas à região que apresentou pequenos avanços, nas duas frentes, ao
longo de toda a década de 1920 — o que pode indicar a importância atribuída à ligação terrestre
com o Nordeste, mesmo antes dos ataques submarinos às linhas de navegação costeira durante a II Guerra Mundial.
No primeiro período Vargas os trilhos avançaram mais 60 km em cada ponta.
Do lado da Central do Brasil, de 1906 até 1910 o avanço da linha tronco havia se concentrado na direção
de Pirapora — prevendo-se o prolongamento dos trilhos em direção ao Planalto
Central (onde seria construída a nova capital) e dali até Belém do Pará.
Na década de 1920 mudou a diretriz, e os trilhos passaram a avançar em direção à Bahia, enquanto
a linha de Pirapora praticamente parou após o esforço de construção
da ponte ferroviária sobre o rio São Francisco.
______________________
(*) A CFN mudou sua denominação para "Transnordestina Logística
S. A." (TLSA). Para evitar confusão, este site mantém a sigla antiga para designar a empresa, e reserva a palavra "Transnordestina"
para indicar o projeto de interligações ferroviárias para integração da rede
no coração da região.
Ferrovias atuais do Nordeste: linhas desarticuladas entre si, exigindo grandes voltas entre os principais polos industriais
e de consumo. Polos do interior são fim-de-linha. A navegação do rio São Francisco não tem seqüência.
[Algumas linhas da região, embora assinalados em vermelho, estão fora de uso ou já não
existem]