Centro-Oeste - Trens, ferrovias e ferreomodelismo
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Concepção artística do VLT, anterior à montagem do primeiro trem para poder fotografar
Concepção artística do Trem do Cariri, antes de se ter o primeiro VLT Cariri / Bom Sinal pronto, para poder fotografar.
Observe a pintura — nada a ver com o amarelo de 2007, nem com o verde atual
Fonte: Metrofor, 31 Ago. 2007

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Metrô do Cariri
Trem, Tram, VLT ou Metrô?...

28 Set. 2009

O "projeto" foi lançado em (???), com o nome de Trem do Cariri. Desde Set. 2006, porém, os convênios e contratos já citavam TRAM - Transporte Rápido Automotriz. Posteriormente tornou-se conhecido como VLT do Cariri. Atualmente [28 Set. 2009], o governo do Ceará e a Metrofor - Companhia Cearense de Transportes Metropllitanos procuram firmar o nome de Metrô do Cariri.

O significado geral é o mesmo, embora correspondam a diferentes classificações adotadas por "especialistas". Mas sua escolha envolve boa dose de marketing político, atento ao imaginário popular, e da liberdade que as empresas têm, de inventar nomes de fantasia para enfeitar e vender seu peixe.

Trem, a rigor, é uma coisa ou conjunto de coisas, como, aliás, é de uso corrente no Nordeste, em Minas Gerais e nos dicionários — já que essas regiões (principalmente no interior) mantêm certas formas mais puras da língua trazida de Portugal em outras épocas.

Na linguagem escrita, atual, Trem costuma indicar um ou vários veículos que se movem sobre trilhos, ou sobre um trilho único — excluídos os velhos bondes, sabe-se lá por quê.

O VLT — Veículo Leve sobre Trilhos — é exatamente um trem, e muitas vezes é explicado, de forma simplificada, como um "bonde moderno".

Costuma ser mais leve do que os trens de carga da atualidade, ou do que a maioria dos trens de passageiros — "de Subúrbio" ou de média e longa distância. Mas o peso dos veículos não é o único parâmetro para distinguir o VLT — muitas vezes o adjetivo "leve" também é usado para indicar sua limitada capacidade de transporte, em comparação com um sistema de Metrô "típico" Aí, tende-se a misturar o peso dos veículos com a massa transportada pelo sistema. O Metrô faria um transporte de peso, ao passo que um sistema mais leve teria menor capacidade — o que não deixa de fazer certo sentido.

Mistura-se ainda um terceiro significado, ao calcular quanto o investimento em cada sistema poderia pesar no bolso, no orçamento etc. Isso talvez tenha sido mais comum no passado, quando era comum ouvir falar em "VLT ou Pré-Metrô" — dando a entender que o VLT seria uma solução econômica, "adequada" num dado momento, e que poderia mais tarde ser transformado em Metrô "de verdade", quando a demanda assim exigisse. O conceito "pré", na expressão "VLT ou Pré-Metrô", dava a entender que o seria uma preparação, uma porta para um futuro sistema de Metrô. Como se vê, entra aí uma boa dose de marketing (empresarial e político). Conversa de vendedor.

Em relação ao tradicional Trem de Subúrbio — muitas vezes cercado por muros tenebrosos, que praticamente dividem uma cidade em lado-de-lá e lado-de-cá da "linha do trem" —, o VLT se distingue pelo convívio amigável, compartilhando ruas e praças com as pessoas, carros etc., e sem exigir plataformas especiais (de mais de um metro de altura!). As pessoas embarcam e desembarcam de um VLT ("típico") ao nível das calçadas, ou da própria rua — com mais conforto do que em muitos ônibus.

A modernidade — quando se explica um VLT como "bonde moderno" — não vem só do visual. Mesmo o VLT mais fraquinho está anos-luz à frente dos velhos bondes, incluindo todo tipo de tecnologias e conceitos "novos", que a gente mal percebe. O baixo nível de ruído talvez seja o aspecto mais óbvio (depois do visual).

O Trem do Cariri se aproxima mais de um "VLT ou bonde moderno", sob muitos aspectos, a começar pelo grande número de passagens de nível — pontos onde automóveis, ônibus, caminhões, bicicletas etc. simplesmente cruzam a via férrea no mesmo nível dos trilhos —, do que a um Metrô propriamente dito.

Um Metrô não se define por andar embaixo do chão, nem só por ter "alta capacidade", embora sua "capacidade" esteja diretamente ligada a várias de suas características principais — como a linha exclusiva, dupla em toda extensão, em geral sem ligações de uma linha para outra ao lado, de modo que os trens possam circular com intervalos cada vez menores, sem risco de colisão — ao contrário da maioria dos trens de subúrbio tradicionais, que compartilhavam linhas com outros trens (de carga ou de passageiros de longa e média distância), em meio a inúmeras chaves de mudança de via, que exigem coordenação perfeita entre vários setores da empresa ferroviária para que não haja um desastre após outro.

Muitos desses conceitos sobre o que é trem, metrô, VLT etc. são imprecisos, variam de um país para outro, mudam com a passagem do tempo — e raramente se aplicam com facilidade às soluções específicas, desenvolvidas na prática, em diferentes lugares do Brasil e do mundo.

O Metrofor e a Bom Sinal parecem dispostas a lançar mais um pouco de confusão na selva dos conceitos e siglas, para desespero dos que gostariam de botar ordem na bagunça. O site do Metrofor afirma, por exemplo, que o Metrô do Cariri...

Consiste num transporte de média capacidade e grande conforto, que faz uso de VLT – veículo leve sobre trilhos, denominado TRAM – Transporte Rápido Automotriz.

Ou seja, um Metrô que usa um VLT chamado TRAM.

Esse Tram parece criação de marketing, um nome de fantasia. Foi lançado pelo Ceará e pela Bom Sinal, pelo menos desde 2006. Mas uma busca no Google [28 Set. 2009] não encontra muitos documentos, em toda a internet, contendo a exata expressão "Transporte Rápido Automotriz" — exceto os ligados à Bom Sinal — o que deveria acontecer aos milhares, se fosse utilizada por outras empresas, entidades, governos, universidades, especialistas etc.

Não por acaso, Tram é uma palavra inglesa, utilizada há mais de 100 anos para indicar bondes — e, há 200 anos, para indicar o sistema de vagonetas (sobre trilhos) das velhas minas inglesas de carvão.

Mas acabou por predominar o uso de Tram para indicar bondes, que se espalharam pelo mundo inteiro, principalmente a partir de 1905, movidos a eletricidade. Só no Brasil ficaram conhecidos como bondes. Em Portugal eram chamados eléctricos. No mundo inteiro, chamam-se Tram — e os trilhos e empresas, Tramways.

A sigla TRAM — será que a Bom Sinal já registrou? — soa como uma tentativa de difundir seu modelo de VLT como substantivo comum, tal como usávamos xerox para dizer cópia.

Para os governos do Ceará (tucanos ou cidistas), há todo interesse na difusão do conceito.

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