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Concluiu-se, em 1904, a última batalha da prolongada guerra pela “ferrovia para Cuiabá”, ou (quando convinha) “ferrovia para o Mato Grosso”.
É nesse contexto que o traçado da Estrada de Ferro de Goiás sofre nova alteração, pelo Decreto nº 6.438 [27 Mar. 1907] agora, com início na cidade de Formiga, onde os trilhos da EFOM haviam estacionado desde 1905, “ou outro [ponto] mais conveniente da Estrada de Ferro Oeste de Minas” até Leopoldina, à margem do rio Araguaia.
O sentido geral da ferrovia, agora francamente SE-NW, passaria pela cidade de Goiás [MIVOP, 1907] e, provavelmente, seguiria o vale do rio Vermelho para atingir a colônia de Santa Leopoldina (próxima a Jurupensém).
Foi acrescentado um ramal, de sentido leste-oeste, de algum ponto dessa linha tronco para Uberaba. Trata-se da Linha de Uberaba, na parte sul do Triângulo Mineiro, paralela à divisa com o estado de São Paulo. Esta linha poderia contrabalançar a penetração paulista (Mogiana) no Triângulo Mineiro o que se enquadra na interpretação corrente, na época, de uma “compensação negociada” na guerra pela “ferrovia para Cuiabá” [que não tardaria a ser transformada em “ferrovia para o Mato Grosso” dirigindo-se para Corumbá].
A EF Goiás mantinha a linha de Araguari a Catalão [não citada: MIVOP, 1907].
Enfim, mais uma vez, foi mantida a opção de um ramal sem prazo, nem garantia de juros para algum ponto navegável do alto Tocantins. Mera “possibilidade”, em aberto.
Nesta segunda alteração de traçado, onde Minas se teria compensado de uma “vitória geopolítica” paulista, fica bem claro quem paga a conta. A EF Goiás indenizaria a EFOM pelos 30 km de ferrovia que esta havia construído nos últimos 2 anos, desde quando seus trilhos tinham chegado a Formiga, em 1905. Indenizaria, também, o governo pelos estudos e levantamentos, já realizados, do traçado de Formiga em diante indicação de que o governo teria pago tais levantamentos à EF Oeste de Minas, ou a firmas de engenharia contratadas pelo próprio governo. Nada devendo o governo à EFOM por tais levantamentos, ela receberia da EF Goiás locomotivas etc., pelos 30 km construídos nos últimos 2 anos.
Algumas coisas ficam nebulosas [primeira fonte, rascunho inicial: MIVOP, 1907]. Na mudança anterior, tudo foi gracioso? Os levantamentos feitos pela Mogiana, de Araguari a Catalão [estudos definitivos chegaram a ser aprovados pelo governo; quando?], foram pagos pelo governo? A EFG os recebeu de presente, ou também teve de indenizar? Aliás, aqui já nem se fala mais nesse trecho de Araguari a Catalão! Nem devolução, nem repasse, nem continuação. Nada. Não ia mais ser feito, pelo novo contrato? [Obs.: Neste exato momento, mesmo ano e mesmo Relatório IVOP, a Ponte sobre o rio Paranaíba, no "Caidor"; mapa ilegível (procurar TIFF); sensação de que nem era ferroviária, nem ajudaria em nada a EFG. Pelo contrário! Tem todo aspecto de roubar sua carga e carrear para a Mogiana, em "Uberabinha"].
A lacuna é tanto mais interessante, porque não faltou papel, nem houve esquecimento, para o poder concedente e fiscalizador justificar a falta de cumprimento de contrato pela Mogiana! em um relatório sobre a EFG. Explica, singelamente, que, devido ao “alto preço quilométrico [da] construção do trecho de Uberaba a Araguari, não se animou a Mogiana a construir o ultimo trecho da sua concessão (Araguari - Catalão) [...] por ser este ultimo trecho ainda mais pesado do que os precedentes. Resolveu, portanto, a Companhia Mogiana estacionar em Araguari, esperando que a linha até este ultimo ponto, com sacrifício construída, se desenvolvesse”. A concessionária decidiu. Simples assim.
A partir de agora, a EFG que esperou 14 anos pela Mogiana e 17 pela EFOM terá 6 meses para apresentar os estudos de reconhecimento de Formiga até Leopoldina; e 2 anos para apresentar os do ramal do Tocantins este último, vale lembrar, sem prazo para ser construído, sem garantia de juros.
Sente-se no ar que, agora, a coisa é séria.
Ora, Formiga não chegava nem perto de Goiás. Considerando uma distância de 1.018 km de Barra Mansa a Goiandira [aqui tomada como equivalente aproximado de Catalão, em distância], e de 436 km de Barra Mansa a Formiga, vale dizer que a Estrada de Ferro de Goiás deveria assumir mais da metade 582 km, ou 57% da ferrovia tronco de Barra Mansa a Catalão, concedida à EFOM, havia 17 anos, pelo Decreto nº 862, de 16 Out. 1890, segundo o “Plano da Comissão” (1890).
Somando: 582 km da EFOM até Catalão; 508 km de Catalão até Goiás; 800 de Catalão ao Tocantins. Total: 1.890 a menos que a EF Goiás não tivesse de construir, também, 90 km de Araguari a Catalão, caso em que sua gloriosa malha subiria a 1.980 km.
Uma potência ferroviária, se conseguisse construir.
A simbólica indenização que a EF Goiás 17 anos sem faturar, esperando Mogiana, EFOM pagaria a esta última, pelos 30 km de ferrovia construídos de Formiga em diante: “2 locomotivas do tipo «Consolidation», da fabrica Baldwin Locomotive Works, para bitola de 76 centímetros, iguais às que foram por essa fábrica fornecidas á Estrada de Ferro Oeste de Minas, em dezembro de 1889; 15 vagões plataforma, sendo 8 para bitola de um metro e 7 para a de 76 centímetros; 1.100 toneladas de trilhos de aço com os respectivos acessórios, sendo os trilhos de 25 quilos por metro corrente e o perfil e mais especificações fornecidos pela diretoria da Estrada de Ferro Oeste de Minas”.
O que era isso, para uma (futura) potência ferroviária? Uma merrequinha.
O pessoal da EFG deviam ter algum problema psíquico. Apesar da EFG ter pago pelo trecho construído pela EFOM, começaram, “imediatamente, a reconstrução do trecho de Formiga ao Arraial dos Arcos, com a extensão de 30 quilômetros, aproximadamente”. Coisa de fominha. Depois de 17 anos esperando, queriam (re)construir qualquer coisa, nem que fosse um trecho já construído, e pelo qual pagaram.
E a fome não era fraquinha, não. O contrato foi assinado em 24 de Maio, e em 31 de Dezembro “achava-se o leito pronto até Arcos, com excepção de um aterro por fechar, nas proximidades do quilômetro 24, e a ponta dos trilhos alcançava o quilômetro 19”. Não está indicado em qual mês de 1908 foi apresentado o relatório, na verdade ref. 1907. Em todo caso: “Num dos primeiros meses do corrente ano, foi entregue ao trafego esse primeiro trecho”. De acordo com o DNEF, o trecho de Formiga até Arcos, com 30 km, foi considerado pronto e aberto ao tráfego em 21 Abr. 1908 quase um ano após a EFG pagar pelo trecho recebido “pronto”.
[DNEF: trechos regularmente abertos, ano após ano -- exceto 1914 e 1915 -- até 1918, em Ouvidor]
Depois de construir o trecho que receberam construído e pagaram, nada melhor do que refazer o que ainda não estava concluído, recomeçar o já iniciado, reestudar o já estudado estudos já realizados, pelos quais também pagaram, claro: “Além de Arcos, embora existissem trabalhos de terraplenagem já feitos até S. Francisco, houve necessidade de abandonar o antigo traçado da Estrada de Ferro Oeste de Minas, por ficar a linha exposta a inundações. || A companhia mandou proceder a novos estudos, apresentando, em 24 de agosto, á aprovação do Governo o reconhecimento do trecho de Arcos a Soledade, á margem do rio S. Marcos, com a extensão de 528,800 quilômetros. Pelo aviso n. 331, de 3 de outubro, foram aprovados esses estudos”.
Antecedentes
EF Catalão a Palmas
Cia. Alto Tocantins
EF de Goiás
Logística de Brasília
4º trem experimental para Brasília
Chegada dos trilhos a Brasília
xx
1927
1954
1960
1965
1970
1984
1991
Mudancismo
Construção
Inauguração
Estação EFG
Henschel 2-8-8-4
Rio Negro nº 1 Batalhão Mauá
Histórico oficial até 1908
Contrato de 1907
Transferência do trecho Formiga-Arcos