A chegada da “ponta dos trilhos” a Brasília

Flavio R. Cavalcanti - 3 Fev. 2016

Marcar a “chegada da ponta dos trilhos a Brasília” era ponto de honra para o general Juarez Távora.

No dia seguinte, 15 de Março de 1967, encerrava-se o governo Castelo Branco (1964-1967); bem como a existência do Ministério da Viação e Obras Públicas (MVOP), que se preparava para dar lugar aos ministérios dos Transportes, do Interior, e das Comunicações.

Ali encerrava-se, também, a vida pública do general engenheiro, — que havia participado das revoltas “tenentistas” de 1922 e 1924, da Coluna Prestes, da Revolução de 1930, — quando brilhou como “vice-rei do Norte”; — tinha sido ministro do MVOP e da Agricultura no primeiro período Vargas, comandante da ESG, chefe do Gabinete Militar de Café Filho e candidato da UDN à Presidência da República, derrotado por Juscelino Kubitschek em 1955.

Era comum, obras de duração superior à de um governo serem abandonadas, depois de quase prontas, — como a rodovia Brasília-Fortaleza, aberta no governo JK, — e ficar apenas a versão de não terem sido feitas, (além do zunzum sobre onde o dinheiro teria ido parar). IPMs eram moeda corrente. Chefes de simples departamentos, ao sair, se precaviam levando cópia da documentação de seus atos (em especial, os dispêndios autorizados no exercício do cargo).

O grupo que assumiria com o novo governo, no dia 15 de Março de 1967, não era propriamente simpático ao grupo que saía com o final do governo Castelo Branco.

Marcar a chegada da “ponta dos trilhos” aos arredores de Brasília, — documentar e dar ao feito a maior visibilidade possível, — não era, portanto, uma ideia tão descabida quanto se possa imaginar.

Para isso, Juarez Távora fez uma última inspeção à ligação ferroviária Pires do Rio - Brasília, na manhã do dia 14. E na última reunião do presidente Castelo Branco com seus ministros entregou-lhe uma carta, anunciando que «os trilhos já alcançam o Núcleo Bandeirante, nesta capital federal (e onde espero entrar, ainda nesta tarde, numa locomotiva do Batalhão “Mauá”)» [“Balanço de fim de jornada”].

E de fato, na tarde do dia 14, — cercado de representantes dos ministérios da Guerra e da Viação, fotógrafos oficiais e “jornalistas do Rio, de S. Paulo, de Belo Horizonte e de Brasília”, — percorreu os últimos 20 km de trilhos assentados.

Rei morto, rei posto. Ainda não havia AI-5, nem censura prévia, — a imprensa do Rio e S. Paulo tampouco tinha compromisso com o governo encerrado, — e logo espalhou-se a notícia de que a locomotiva usada na suposta “inauguração” tinha sido trazida de caminhão até as proximidades de Brasília. Lançava-se no ar uma sugestão de que, na realidade, ainda não houvesse uma “ligação” da capital com a rede ferroviária do Sudeste.

Tanto não havia “ligação” ferroviária, que não houve “inauguração” alguma, no dia 14. A mensagem encaminhada pelo presidente Castelo Branco ao Congresso, naqueles dias, — com informações dos diversos ministérios, — dedica apenas 3 linhas, num trecho sobre atividades cívicas das Forças Armadas, para citar “o 2º Batalhão Ferroviário, prosseguindo o lançamento dos trilhos em demanda à capital federal, para integrar Brasília à rede ferroviária do Sul do País”. Em outra publicação oficial, é dito claramente que “a ligação ferroviária Brasília-Anápolis entrará em tráfego em 1968”.

As imagens sugerem um Domingo festivo. Não foi. Foi uma Terça-feira, dia de batente, ao final de 3 anos de arrocho monetário, falência (ou venda) de inúmeras indústrias nacionais surgidas nas épocas Vargas e JK. Teria sido feriado, esse dia? Posso estar enganado, mas me parece ver, à direita do viaduto, 2 caminhões com cobertura de madeira (e algumas janelas quadradas), do tipo que as construtoras usavam na época para o transporte de “candangos”. E alguns jeeps, típicos de empreiteiras ou órgãos oficiais envolvidos em obras fora da cidade.

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