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Ferreomodelismo
Locomotiva GP-50 descarrila o primeiro vagão

Alexandre Santurian — Centro-Oeste 62 (30-Dez-1991)

Recebi em Jul/4, pelo Sedex, uma locomotiva GP-50 com as cores da Denver & Rio Grande Western, que adquiri do Lupatelli. Comprei já usada, por Cr$ 13 mil, e foi uma pechincha.

Suas rodas RP-25 são muito boas e entram sem problemas nas grades Frateschi ref. 4188 — que têm um raio de curva bem pequeno (36 cm) —, mesmo em alta velocidade.

É uma linda máquina, equipada com volantes (flywheel), e de rodagem muito macia, se bem que um pouco mais barulhenta que as da Frateschi. Mas me agradou muito, pelo seu estilo e perfeição na reprodução dos detalhes.

Havia pedido ao Josias, do Lupatelli, para instalar o engate Märklin — tipo Atma / Frateschi —, que ele fixou na caixinha do Kadee, no corpo da loco.

Nas curvas, o primeiro vagão descarrilava, justamente porque a caixa de fixação do engate Kadee não oferece abertura suficiente para que o engate Märklin tenha todo o jogo lateral necessário.

Pensei em fazer uma pequena adaptação entre os engates — com clips de papel, ou com arame —, mas aí, teria de operá-los à mão.

Retirei o corpo plástico da loco (fixada por encaixe) e desmontei o engate Märklin, com a caixa de fixação Kadee. Então, pude estudar o ângulo de giro que a caixa permite ao engate.

Com uma faca Olfa, desbastei cerca de 0,5 mm nas laterais da abertura do corpo plástico, por onde passa a caixa Kadee (Fig. 1). Tive o cuidado de não deixá-las tortas, e não quebrar algum detalhe. Esta medida (0,5 mm) é aproximada, pois não tenho paquímetro.

Com o desbaste das laterais da abertura, aumentei o espaço por onde a caixinha Kadee faz o jogo lateral, durante a operação em curva.

Depois, desbastei levemente os cantos de trás da caixinha Kadee, para que não encostassem demais no corpo da loco. Ao mesmo tempo, aumentei o jogo lateral da caixa.

Também observei que o engate Märklin tinha a extremidade levemente dobrada para cima, com o pino do engate voltado para dentro do anel (Fig. 2).

  

Com alicate, nivelei o anel na posição horizontal e, em seguida, puxei o pino mais para fora. Assim, haveria uma folga maior entre o pino do engate Märklin e o anel do engate dos vagões Frateschi. O resultado foi satisfatório nas curvas ref. 4219, menos apertadas.

Entretanto, nas grades ref. 4188, o descarrilamento do primeiro vagão continuava. Imaginei que a causa estaria no fato do engate Frateschi situar-se no truque, sendo ambos — vagão e truque — relativamente leves.

"Vagão-madrinha"

Para testar essa hipótese, engatei à loco uma gôndola GFS ref. 2025 Frateschi, com sucatas Phoenix coladas sobre um contra-peso de madeira. É um vagão bem mais pesado, e ficaria sendo um "vagão-madrinha" — menos sujeito ao descarrilamento —, com os outros a seguir.

Com isso, estou rodando a GP-50 à vontade, inclusive nas curvas ref. 4188 Frateschi da minha maquete, até mesmo na 4ª marca do Controlador CT-5300, sem um descarrilamento sequer. É claro que o engate Märklin e a caixa Kadee fazem as curvas em seus ângulos máximos, mas dá para funcionar bem.

Há um "porém" — o sistema funciona para tracionar o trem, mas não para empurrar. Com o jogo lateral do engate Märklin e da caixinha Kadee da GP-50, o anel do engate Frateschi se solta e volta a ocorrer descarrilamento do primeiro truque do vagão.

Algumas vezes, manobrando bem devagar, consegui empurrar os vagões sem descarrilamento. O desengate nas grades ref. 4110-D Frateschi realiza-se sem problemas.

Outro "porém" — antes de engatar a loco ao vagão, é preciso centralizar manualmente o engate Märklin, para que o pino encaixe corretamente no anel do engate Frateschi.

O que fiz, portanto, é apenas um paliativo para compatibilizar uma loco americana com o material Frateschi. Valeu como experiência.

Futuramente, pretendo adquirir uma loco americana de rodagem C+C (diesel), se o preço estiver em conta, claro. Conversando com o Alexandre Garcia (não é o da Globo), ele informou que possui várias C+C americanas, com rodas tipo RP-25, e elas inscrevem-se bem nas curvas Frateschi, sem problemas.

Mas creio que a maquete dele não tem curvas tão fechadas quanto a ref. 4188. Ele ofereceu-se para emprestar algumas locos, para um teste na minha maquete (ver DC-21/4).

A idéia do "vagão-madrinha" foi dada pelo Alexandre Garcia (não é o da Globo), porém de outra forma. Teria um engate Kadee na haste do truque Frateschi, numa extremidade — e o engate normal Frateschi na outra, para acoplar os demais vagões da composição. A loco voltaria ao engate Kadee, instalado pelo primeiro proprietário.

Mas nem todos os modelistas encontram o engate Kadee. Na Bahia, por exemplo, não são vendidos.

Na minha opinião, a solução futura será, mesmo, adquirir os engates Kadee — no Rio ou SP — e truques metálicos Phoenix, que inclusive aumentam a aderência e situam o centro de gravidade dos vagões mais perto dos trilhos.

Sugestões

Esta matéria, já se vê, é anterior à que descreveu os testes com locos C+C, publicada no DC-21/4.

A série — que prossegue adiante — é um exemplo prático do que falamos sobre a compatibilidade do material rodante com diferentes raios de curva e AMVs, no CO-2/4 e CT-1/4.

Há uma correlação entre o tipo de rodas, o tipo de engate, e a compatibilização dos modelos com curvas super-fechadas, como a de raio = 36 cm — que é de uso quase universal, principalmente na Europa.

No Brasil, onde a maioria dos modelistas mal encontra espaço para um circuito "oval", a Frateschi — e antes, a Atma — optou por instalar o engate numa haste do truque, além de usar rodas tipo NEM (padrão europeu).

Quando se usa rodas tipo RP-25 (padrão americano) e engate Kadee (ou outro) fixado ao corpo dos modelos, a mini-ferrovia começa a apresentar exigências semelhantes às que existem numa ferrovia protótipo — o material rodante deve ser compatível com as curvas e AMVs da via permanente.

Independente de tudo isso, a série de testes do Alexandre Santurian já é interessante pelo simples fato de refletir algumas dificuldades enfrentadas quando o modelista adquire material estrangeiro.

Embora o material Frateschi forme a esmagadora maioria das "frotas" HO brasileiras, nada menos que 2/3 dos leitores têm, pelo menos, algum material estrangeiro.

Pessoalmente, eu não conhecia esse engate Märklin "triangular", para fixação no corpo do modelo através de uma caixa Kadee. A meu ver, esse formato "triangular" é inconveniente, exatamente por reduzir o jogo lateral permitido pela caixa de fixação Kadee.

Além da alternativa que o Alexandre Santurian aponta como a mais adequada para seu gosto — futura adoção de engates Kadee em toda frota —, agora também existe o engate híbrido Kadee / Frateschi (DC-13/2), produzido pela Phoenix para o lançamento de seus próprios vagões.

Em resumo, é um engate tipo Frateschi — apenas, menor e mais discreto —, porém instalado numa caixa de fixação igual à do engate Kadee. Sua grande vantagem é que a caixa pode ser colada ou aparafusada ao corpo do modelo, já preparando-o para futura instalação do engate Kadee (FRC).

  

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