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    EFMM - Estrada de Ferro Madeira-Mamoré
   

Como fotografar maquetes & ferreomodelos

Centro-Oeste n° 95 — 1° Mai. 1995

Estou lhes escrevendo para ver se vocês resolvem um problema: — Qual o tipo de lente ideal para se fotografar maquetes?

Tenho usado uma lente de 58 mm, e não tenho obtido bons resultados (Ermírio Coutinho, Curitiba, PR).

Ainda não dominei a difícil arte de fotografar maquetes — e tremo só de pensar no custo de todo o equipamento que os entendidos dizem ser necessário.

Naturalmente, estamos falando daquelas fotos maravilhosas — onde a mini-ferrovia parece "de verdade" — e não de uma lembrança para o álbum de família.

No entanto, alguns colegas nossos têm realizado fotos de ótima qualidade (ver CO-93/capa) — aparentemente sem necessidade de adquirir todo o equipamento recomendado.

Compreender — e ser criativo — talvez seja mais importante do que gastar muito dinheiro logo de cara.

O quê não usar

É ingrato tentar fotografar maquetes com uma câmara de visor paralelo (externo), que não mostra a mesma imagem captada pela objetiva.

Pior. Em geral estas câmaras "familiares" oferecem — quando oferecem — opções imprecisas quanto à abertura do diafragma (tipo "Nuvem", "Meia-Nuvem", "Sol") e noções vagas quanto à distância (tipo "Busto", "Pessoa", "Grupo-de-Pessoas", "Montanha").

É raro oferecerem qualquer opção de velocidade (abre-fecha) do obturador.

Por fim, a lente é fixa — não pode ser trocada pelo usuário — e não aceita acessórios como filtros, lentes de aproximação etc.

Se você usa uma câmara "familiar", leia a folha de instruções do fabricante, para saber quais distâncias correspondem a "Busto", "Pessoa", "Grupo-de-Pessoas" etc. — ou outros símbolos eventualmente utilizados.

Se o fabricante não informa, procure construir uma tabela, através de experiências práticas devidamente anotadas.

Ao fotografar sua maquete, meça a distância e regule a distância focal de acordo com essa tabela.

Se a máquina tem "foco permanente" ou algo assim, nada resta a fazer.

Em qualquer caso, porém, uma boa iluminação é fundamental. Dificilmente o flash embutido resolverá sozinho.

O quê usar

O equipamento básico para fotografar maquetes é uma câmara mono-reflex (single-lens reflex, ou SLR) de 35 mm (largura do filme).

Nestas câmaras, o prisma reflete a imagem da objetiva para o visor — ao disparar, o visor fica "cego" por um instante, para que a imagem atinja o filme.

O que o visor mostra, é o que a objetiva está captando — tanto no enquadramento da cena, quanto no foco (distância) do tema principal.

A mono-reflex de 35 mm tem a vantagem da objetiva (lente tubular) ser intercambiável (daí a sua pergunta); e oferece ampla variação na abertura do diafragma e na velocidade do obturador.

Estas câmaras costumam vir com objetiva de 50 mm — distância da lente ao filme — o que já permite fotos muito boas. Vai depender de alguns macetes e pouco equipamento extra.

Por serem o tipo de câmara mais comum — sem contar as "familiares" —, as máquinas mono-reflex de 35 mm contam com ampla gama de acessórios disponíveis no mercado.

Nos grandes jornais costuma haver uma seção específica nos anúncios classificados de Domingo, só para a compra e venda de câmaras e acessórios usados — muitas vezes, em ótimo estado, pois quem usa câmaras de 35 mm costuma tratar bem do equipamento (afinal, tem seu custo).

Aproximação

A menor distância para se obter foco com uma objetiva de 50 mm costuma ser de 50 cm — distância até o tema fotografado — embora algumas sejam capazes de focalizar até a 30 cm de distância.

Para se aproximar ainda mais de um modelo ou de um detalhe, você pode usar lentes Close-Up, que se atarracham à frente da objetiva — como um filtro — e são relativamente baratas. Existem lentes Close-Up +1, +2 e +3. Se você só puder adquirir uma, começe pela +2.

Pode-se usar duas ou três lentes Close-Up, de uma só vez. Você deve atarrachar primeiro a(s) de número menor.

Note que cada lente Close-Up irá reduzir um pouco a luminosidade que chega até o filme, já que nenhum vidro é 100% translúcido.

Focalizando

A exigência seguinte que você irá enfrentar, é a chamada "profundidade de campo" — que significa a faixa de profundidade (distância) onde as coisas já-estão — ou ainda-estão — em foco.

Eis um exemplo, usando números fictícios:

Você focaliza a cabine de uma locomotiva, a exatos 50 cm da lente — mas o nariz da locomotiva (a 48 cm) e parte da traseira (até 55 cm) também aparecem nítidos na fotografia.

No entanto, os trilhos e a grama a menos de 45 cm da lente ficam desfocados ("embaçados"); e o mesmo acontece com um prédio mais atrás, a 60 cm, e toda a paisagem daí por diante.

Além de perder a nitidez e os detalhes da maioria da cena, a aparência fica terrivelmente irreal.

Para obter a maior profundidade de campo possível — colocar em foco toda a cena, se possível — você deve escolher a menor abertura de diafragma que sua câmara puder oferecer (Fig. 1).

Profundidade de campo: – Faixa nítida (clara) onde os detalhes já estão ou ainda estão em foco. Na área escura, os detalhes perdem nitidez.

  

Diafragma mais aberto: – Menor profundidade de campo. Partes da cabine ficam fora de foco.

Diafragma mais fechado: – Maior profundidade de campo. Cabine totalmente em foco.

Profundidade de campo: – Com o diafragma mais fechado, aumenta a faixa (clara) onde os detalhes são captados com nitidez. Obviamente, o foco é mais perfeito no ponto exato da distância focal (D).

Na minha câmara, a menor abertura é f/16, mas câmaras um pouco melhores oferecem f/22, e até f/32 — o número (divisor) segue na ordem inversa ao tamanho da abertura.

Menos luz X mais tempo

Até aqui, tratamos de duas providências cujo efeito colateral é reduzir a luminosidade que atinge o filme: — Acréscimo de lentes Close-Up (opcionais) e diafragma super-fechado (essencial).

Tudo isso exigirá baixa velocidade no obturador — ou seja, ele deverá permanecer aberto durante muito mais tempo, para a luz impressionar o filme de modo eficaz.

Em suma: a velocidade — variável — é subordinada à abertura mínima, que é fundamental. (Isso é o contrário do que ocorre na fotografia esportiva, onde a velocidade do "instantâneo" é fundamental, subordinando a variação da abertura de acordo com a luz disponível).

A regra básica é: — Menor abertura do diafragma (menor quantidade de luz por unidade de tempo) exige maior tempo de exposição à luz. — E vice-versa.

A menor velocidade para segurar uma câmara nas mãos, sem tremer, é 1/30 segundo. Melhor é não tentar com menos de 1/60 segundo. Isso é muito pouco, quando se usa o diafragma tão fechado — com ou sem lentes Close-Up adicionais.

Não tente compensar isso recorrendo a filmes de maior sensibilidade (tipo ASA 400), pois a perda de qualidade é muito grande — chega a tornar indistintos os contornos dos objetos fotografados, anulando o seu esforço para obter um foco "nítido" dos elementos da cena.

Para compensar a perda de luminosidade, você deve recorrer a velocidades críticas, em que o obturador permanece aberto por 1/2 segundo, 1 segundo — e até mais de 60 segundos.

(Para tempos de mais de 1 segundo, existe a "velocidade" B, que mantém o obturador aberto enquanto você continuar apertando o botão disparador. Trabalha-se com um relógio, contando os segundos. Ainda não comecei a fazer experiências desse tipo. Eliezer Magliano, por exemplo, já fez algumas experiências).

Tempos maiores do que 1/30 segundo exigem tripé e cordão disparador — a máquina permanece fixa, e você não encosta nela nem para disparar a foto.

O tripé não precisa ser milionário — o importante é que tenha certa firmeza.

E pode ser de segunda mão. Esse é quase o único acessório que você pode comprar usado — sem susto — mesmo sem ser especialista. Basta alugar o vendedor durante 20 minutos, enquanto você testa todas as funções que o tripé se propõe realizar — ficar em pé, fixar a máquina em diferentes posições e alturas, apontar em vários ângulos — firmando bem em todos os casos.

Para quem puder, recomendo o melhor. Qualidade, aqui, é sinônimo de conforto. Tripés mais sofisticados permitem elevar e abaixar a câmara, apontar lateral e verticalmente, de modo macio e sem esforço. Podem ser usados em filmagens onde a câmara precisa mudar de altura ou direção com suavidade. Pense nisso, se sua família usa bastante a filmadora.

O cordão disparador pode ser deixado para depois — se sua câmara oferecer o disparador de retardo (mecanismo tipo relógio, feito para você correr e também aparecer na foto).

Nos primeiros tempos, é viável usar este mecanismo para não botar a mão — e tremer a máquina — ao bater a foto.

Iluminação

Feito isso, resta iluminar — e muito bem — a maquete.

O primeiro requisito para fotos com aspecto de "mundo real", é a dupla iluminação — com uma só fonte de luz, você teria fotos com "sombras lunares", totalmente pretas (Fig. 2).

Nosso mundo terrestre não é assim, por dois motivos: — (1) A atmosfera oferece uma luz difusa, vinda de todas as direções, de modo que durante o dia nenhuma sombra é tão negra; e (2) Nosso olho se adapta para ver nas áreas de sombra, mesmo que ao redor reine um sol de rachar — flexibilidade que o filme fotográfico não tem: ou se calibra para a luz intensa (e nada se "vê" na sombra), ou se calibra para a sombra (e o resto da cena "queima" o filme).

Para quem pode, a recomendação mais simples é meter a mão no bolso e adquirir 2 lâmpadas especiais para estúdio fotográfico, chamadas "photoflood".

A primeira lâmpada será o "Sol" da mini-ferrovia — deve ser mais forte (500 Watts) e ser posicionada mais perto da cena, num ângulo "solar" adequado. Vamos imaginar que ela fique à esquerda do fotógrafo, numa altura bem acima da maquete. Produzirá sombras visíveis.

A segunda lâmpada deve ser mais fraca (250 Watts) e barata. Deve ser posicionada do outro lado — à direita do fotógrafo, no nosso exemplo — e um pouco mais afastada, para que não possa gerar um segundo jogo de sombras. Ter dois sóis seria irreal, exceto para mini-ferrovias de ficção-científica.

A função da segunda lâmpada é "preencher as sombras" com um pouco de luz, de forma que mesmo o filme — que não tem a flexibilidade da nossa retina — possa mostrar o quê existe na sombra de uma árvore, por exemplo (Fig. 2).

Essa técnica de "preenchimento das sombras" foi usada por Antônio Marcello da Silva, com excelentes resultados, na foto de capa do CO-93. Se não me engano, pelo menos uma das fontes de luz que ele usou foi uma janela.

A lâmpada photoflood já é cara, por si só. Para melhor efeito, deve ser usada num suporte de altura variável; ter um refletor por trás (para direcionar a luz); e poder ser apontada mais para cima ou mais para baixo, para os lados etc.

Tudo isso tem seu preço adicional.

O suporte pode ser feito com uma boa ripa de madeira de 1,7 ou 1,8 m, e uma placa para servir de base e dar estabilidade ao conjunto. Faça um furo retangular na placa, para inserir a ripa vertical. Use quatro cantoneiras para fixar e firmar a ripa na placa (Fig. 3).

O refletor — aquele prato metálico atrás da lâmpada — pode ser comprado usado. Não vale a pena improvisá-lo a partir de uma cuia metálica qualquer.

Talvez seja melhor usar a lâmpada sem refletor nenhum — em especial, se ela tiver a parte de trás metalizada (espelho) para ajudar a direcionar a luz.

Luzes & luzes

Estas são recomendações simples, universais, já que nem toda maquete pode ser levada para perto de determinada janela — dependendo da estação do ano — ou a janela é pequena demais, para iluminar uma área considerável da maquete.

Para um diorama ou um modelo isolado, a coisa muda de figura.

Pessoalmente, utilizo a luz do sol — com resultados bem razoáveis — para fotografar modelos em "close" de até 1/2 corpo, como se pode ver no CO-87 (capa), onde aparece com nitidez até a poeira nos dormentes sob o vagão Armour.

Porém, nunca obtive bons resultados ao ar livre. Se o céu está limpo, a luz solar direta deixa a foto muito "chapada", com sombras muito escuras. Se há nebulosidade, a luz difusa confunde contornos & detalhes do modelo fotografado.

A melhor iluminação solar, a meu ver, encontra-se numa mesa junto a uma janela por onde entra sol de manhã bem cedo — das 6h às 9h, no máximo.

Você tem luz direta (equivalente à primeira lâmpada) — e pouca luz difusa (vinda de todas as direções), já que o modelo não está ao ar livre.

Então, você pode produzir sua própria luz de "preenchimento das sombras", sob total controle seu: — Um retângulo de cartolina branca, refletindo parte da luz solar de forma um pouco difusa, porém direcionada a seu gosto (Fig. 4).

Se a janela está à minha esquerda, por exemplo, coloco a cartolina à direita.

Se não é suficiente para mostrar em detalhes a face sombreada do modelo, ao menos é o bastante para amenizar o contraste entre as áreas de luz e sombra.

Infelizmente, minha janela só oferece luz solar direta no verão, num curto período de 3 meses. Hoje, quando olho qualquer apartamento, a primeira coisa que verifico é a orientação das janelas em relação à bússola, para saber se tem bastante sol matinal o ano inteiro.

Enfim, várias formas de luz podem ser combinadas. Meu irmão fez ótimas fotos da minha EF Pireneus-Paranã tendo a luz da janela à frente (sem sol direto, claro) e um flash virado para cima — o teto serviu de refletor / difusor.

Vários colegas têm feito experiências com outras misturas. Flash fotográfico + luz de vídeo, por exemplo. Ou flash coberto com papel crepom, para não dar tanto reflexo no modelo. Ainda me parece mais simples combinar a janela com um flash virado para o teto ou a parede.

Ao calcular a luz do flash, lembre de contar 2 vezes a distância — — do flash ao teto e/ou parede, e do teto e/ou parede até o modelo ou maquete.

Filmes & cia.

Escolhida a fonte de luz, deve-se usar o filme adequado.

Filme para luz solar não deve ser usados com luz artificial — e vice-versa — pois a foto terá cores distorcidas.

Do mesmo modo, é difícil trocar as lâmpadas photoflood por lâmpadas comuns — por mais fortes que sejam — devido à distorção das cores na foto.

Luz fluorescente, nem pensar!

Teoricamente, tais distorções de cor podem ser corrigidas usando filtros adequados — ao custo de reduzir a luminosidade que atinge o filme.

Repito: — Não tente compensar a luminosidade ruim usando filmes mais sensíveis (ASA 400, por exemplo). Devido à granulação maior, os contornos ficam difusos, e você perde todo aquele esforço — lá no início — para obter cenas mais vívidas e nítidas.

Também não recomendo filme P&B. A revelação / ampliação é de menor qualidade, pois hoje todos os equipamentos automáticos são para cor — e a maioria dos cine-fotos brasileiros não acertam, quando fazem serviço manual.

Mesmo que a publicação seja feita em P&B, a foto cujo original é colorido apresentará melhor qualidade.

Pessoalmente, só uso Gold 100, típico para luz do dia — deu certo, e não gosto de ficar mudando — , mas filmes de menos de 100 ASA oferecem qualidade ainda melhor.

Algumas dicas

Há um aspecto crucial, na fotografia de maquetes e modelos com lâmpadas photoflood: — Elas aquecem demais o ambiente, devendo ser ligadas quando você já montou toda a cena, e já está pronto para bater determinada foto.

É claro que você irá acendê-las várias vezes, antes disso — inclusive para verificar o posicionamento — mas não as mantenha ligadas por muito tempo, devido ao desgaste (são caras); e, acima de tudo, para não empenar os modelos e kits de plástico, sensíveis ao calor.

Não vou entrar em detalhes quanto ao equilíbrio exato entre abertura do diafragma e velocidade do obturador — eu mesmo, prefiro confiar no fotômetro embutido na câmara, e até hoje não aprendi aquelas continhas simples de regra-de-três. Se você preferir um fotômetro externo, logo aprenderá a fazer as contas.

O macete de ouro é "amarrar" cada tentativa — "cercar o bicho", como diríamos no Brasil. Se as contas mandam usar determinada velocidade, use-a! Mas bata outras 2 fotos — uma com a velocidade imediatamente acima, e outra com a velocidade imediatamente abaixo.

Por exemplo: — Se o fotômetro (ou suas contas) recomenda velocidade 1/15 segundo, bata uma segunda foto com 1/8, e uma terceira com 1/30 segundo.

É provável que pelo menos uma das três fotos ficará boa.

Afinal, a preparação da cena, com posicionamento da câmara, tripé, lâmpadas e tudo mais, toma um tempo danado.

Vá anotando numa caderneta os detalhes da iluminação, a abertura e a velocidade de cada foto — numere-as — e mais tarde compare os resultados com as anotações. Isso é uma forma de aprender mais rápido, e a um custo menor.

Outra regra de ouro — na minha opinião — é comprar filme de 12 quadros. Fotografar maquetes & modelos é um longo aprendizado, e você avançará melhor se fizer 12 fotos hoje; revelar e avaliar o resultado; bater outras 12 fotos amanhã; idem, idem; e outras 12 depois de amanhã.

O preço do filme (pelo número de fotos) é um pouco maior, mas o prejuízo revelando 12 fotos insatisfatórias — e procurando fazer melhor amanhã — é muito menor do que ao revelar 36 fotos de uma vez, e só então perceber que pode fazer melhor na próxima tentativa.

Cercar o bicho, ir devagar, anotações, canja de galinha — não fazem mal a ninguém.

A grande-angular

Lentes usadas são uma alternativa econômica, quando estiver familiarizado.

Na medida em que obtiver bons resultados — e julgar que compensa ir mais adiante (e ainda sobrar algum troco no bolso) — poderá pesquisar com calma uma objetiva de 28 ou 35 mm (Fig. 5).

É a chamada "grande angular" (wide-angle lens).

O fato da objetiva ser mais curta — aproximando a lente do filme — permite captar panoramas mais amplos da mini-ferrovia, mesmo que você não tenha espaço para fotografar de longe.

De quebra, a grande-angular dá maior profundidade à cena — e amplidão e profundidade são exatamente o que precisamos, para fazer fotos onde a mini-ferrovia pareça "real".

Este efeito é o contrário do provocado pela teleobjetiva, que estreita a cena e encurta sua profundidade, fazendo um longo trem 1:1 parecer pequeno, quando vem em direção ao fotógrafo.

Nossas maquetes já têm isso de sobra, com suas distâncias curtíssimas, e seu segundo plano — a linha de trás — quase grudado no da frente.

Mergulho fantástico

Fotos HO de impacto ainda maior podem ser obtidas com uma pequena adaptação — de preferência numa objetiva de segunda mão, cujo fotômetro não precisa funcionar — ensinada por John Glaab na Railroad Model Craftsman de 78/Abril, e revisada por Matt & Bob Cosic na Model Railroader de 94/Dezembro.

O objetiva pode ser comum (50 mm) ou grande-angular (28 ou 35 mm).

Comece cortando um disco de latão de 0,1 mm, com diâmetro 50% maior do que a abertura f/16, para evitar a entrada de luz em volta do disco.

Marque o centro exato do disco, com o compasso, formando uma pequena depressão. Com uma lima de joalheiro vá desbastando a "covinha" até começar a aparecer um orifício de Ø = 0,5 mm.

Vá checando o trabalho com uma broca nº 76 para obter a abertura final.

Faça e solde ao disco 3 aros de fio de latão Ø = 0,4 mm (Fig. 6a), que irão mantê-lo flutuando atrás da lente (íris) da objetiva, como uma aranha no centro de sua teia (Fig. 6b).

Retire o vidro traseiro da objetiva, e teste a "aranha" no anel metálico em frente ao vidro traseiro. O orifício deve alinhar-se com o centro da lente.

Após lavar o latão com sabão, escureça-o com o produto adequado. Com epóxi, fixe as pernas da "aranha" no anel metálico. Recoloque o vidro traseiro.

Ao enquadrar a cena no visor, abra o diafragma. Verá ao redor da aranha.

A partir daí, você terá uma abertura fixa de diafragma, equivalente a f/96 — e uma profundidade de campo que vai de 3 cm da lente até dezenas de metros adiante, segundo Bob Cosic.

A exposição fica entre 11 e 16 segundos, dependendo da iluminação — no caso, um coquetel de lâmpadas, spots etc.

O resultado das fotos — a matéria de capa da MR-94/Dez — é a impressão de que você está dentro de uma enorme estação, com pesadas estruturas metálicas acima de sua cabeça, prédios gigantescos ao fundo, e verdadeiras locomotivas prontas para esmagá-lo.

Naturalmente, é preciso situar a câmara — aliás, o centro da lente — na altura exata em que estariam os olhos de um habitante HO da mini-ferrovia.

Tudo — do nariz da loco até os posters — está em foco, ainda que o autor admita tratar-se de um foco não tão perfeito quanto o obtido com equipamento fotográfico regular de fábrica.

Matt experimentou exposições de 10 a 20 segundos de duração, em intervalos crescentes de 2 segundos, até obter os tempos exatos. Na dúvida, cercou o bicho com 3 tempos em cada tomada (adiante).

Diz que o filme Fujichrome 64 ASA Tungstênio balanceado dá cores melhores em longas exposições.

O sol na cabeça

Quer você use lâmpadas photoflood ou janela solar, tenha na mente a milenar sabedoria do Tao: — É a escuridão que permite ver a luz.

Numa superfície totalmente amarela e iluminada pelo sol direto — como o vagão frigorífico Armour (CO-87/capa) — são as reentrâncias sombreadas que permitem distinguir todos os detalhes da lateral do vagão, tais como a escada, as dobradiças e o trinco da porta.

Se desde pequeno você aprendeu que — nas fotos de família — o sol deve estar atrás do fotógrafo (e na cara das vítimas), simplesmente... esqueça! Na foto do frigo Armour, ninguém veria nenhum detalhe do vagão, do truque ou das rodas, por pura falta de contraste luz / sombra.

O mesmo se aplica às fotos dos carros e vagões do José Augusto Neto, publicadas em P&B no CO-86/18.

Em todas as melhores fotos de modelos HO que já consegui fazer, o sol sempre esteve francamente à esquerda (sou destro), em ângulo quase paralelo à superfície fotografada — digamos, 10 a 15 graus, no máximo.

Em fotos de protótipos, chego a obter melhores resultados com o sol à frente e à esquerda (ou à direita), num ângulo de mais de 90 graus com a linha que vai da câmara ao protótipo. Um exemplo de sol à frente e de lado, é a foto de Nilson Rodrigues na capa do CO-83, mostrando em relevo de luz & sombra os detalhes do teto da GP-9L. Infelizmente, a gráfica estragou muito a qualidade daquela foto.

Não podemos girar os trilhos com uma loco 1:1 — nem mudar o trajeto do sol. Mas ir a um pátio ferroviário com sol alto, é programa de masoquista!

Tudo o que você encontrar lá, será sofrimento. Chega uma bela locomotiva — e irá embora muito antes do sol abaixar de novo. É melhor ir de manhã bem cedo (das 7h às 9h); e voltar no final da tarde (16h às 18h). O que cair na rede é peixe — com os truques e detalhes de freio devidamente iluminados.

Prefira trechos ferroviários onde o sol matinal ou vespertino possa alcançar os truques — e cuja via faça um ângulo favorável com a luz solar.

Palco & enfoque

Uma providência essencial, quando se deseja boas fotos, é fazer com que o leitor "entre" na mini-ferrovia. Fotos amplas podem dar uma idéia geral da maquete — mas impacto & realismo se obtêm "entrando" numa pequena cena, e tornando-a enorme, como o mundo 1:1.

Paredes nuas ao fundo, são um pecado capital. Mesmo o painel fixo na parede — excelente ao vivo e a cores — pode produzir resultados irreais, já que não acompanham as andanças da câmara.

Se mostram prédios vistos da direita, ficarão horríveis quando a foto for tirada da esquerda. Neste caso, a falta de um enorme painel fixo em sua maquete, pode até ser uma vantagem. Você usa um poster mais modesto, que possa ser colocado na posição correta, atrás da pequena cena a ser fotografada.

Basta pouca coisa, para esconder a junção entre o poster o o "chão" da maquete — e que em geral foge ao campo de visão de um "habitante" HO. Uma das grandes falhas em foto-hobby, é situar a câmara acima do "habitante" da maquete. O realismo cai muito.

O mesmo pode ser feito quando se fotografa um modelo isolado.

Caso não haja profundidade de campo para manter o fundo dentro de foco, a melhor alternativa é fotografar o modelo sobre uma cartolina azul, não muito clara. Obtém-se o efeito de "fundo infinito", que não exige foco, e pelo menos não compromete tanto a foto quanto a visão de uma parede, mesa etc.

A cartolina do "fundo infinito" pode ser fixada a uma parede com fita crepe, e apoiar-se sobre uma mesa encostada a ela, fazendo uma curva — o que evita a dobra em ângulo reto (Fig. 4).

Equipe técnica

   

     

Este artigo não teria sido possível sem o apoio de todos que têm me ajudado no mundo da fotografia.

O amigo Rubens C. V. Weyne, de Porto Alegre, há alguns anos teve a gentileza de selecionar e remeter 4 dos mais claros artigos sobre o assunto:

  • "How-To: Photography for the scale modeler", by Jack Gurner, Scale Modeler, sem data
  • "Model railroad photography: How to have fun with a hobby within a hobby", by Malcolm Furlow, Model Railroader, sem data
  • "ABCs of model railroad photography", by Jim Kelly, Model Railroader, 87/Setembro
  • "Photographing your dioramas", do livro "How to build dioramas", Sheperd Paine, Kalmbach Books.

Esses 4 artigos foram — ainda são — meu guia-prático em fotografia.

Marcos Ahorn mandou há anos o artigo "Fototips für Modellbahn-Fans — Ein Leitfaden zu guten Erfolgen bei geringem Aufwand" (Foto-dicas para fãs de mini-ferrovias — Um guia para o sucesso com poucos recursos), Märklin Magazin, 89/5, que traduziu para o português.

Eliezer Magliano escreveu 2 artigos (ainda inéditos) com seus conhecimentos na área. Dicas adicionais têm permeado os artigos sobre a decoração de sua maquete (RBF-4, CO-68, CO-77, CO-94).

Marcos Ahorn, Eliezer Magliano, Paulo José de Souza, Antônio Marcello da Silva, Kelso Médici — e muitos outros, cuja lista seria difícil reunir — têm mandado várias dicas ao longo dos anos, acompanhando fotos hoje incorporadas ao acervo do Centro-Oeste.

César Arruda, de Lorena, SP, foi quem chamou atenção para o incrível macete descrito por Bob Kosic na Model Railroader de 94/Dezembro (pág. 38 a 38a; pág. 82 a 85; e Capa).

Eduardo Coelho apresentou um roteiro completo sobre foto-reprodução de velhas fotos no artigo "Fotografando fotografias", Centro-Oeste DC-15/6.

Enfim, tenho aprendido muito com meu irmão Alberto R. Cavalcanti, cineasta formado pelas UnB / UFF e — desde muito antes — fanático por fotografia. Seu esclarecedor artigo "A iluminação em fotografia" foi publicado no Centro-Oeste DC-17/14.

 

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