Outubro-2001
Estrada de Ferro Paulo Afonso – 1882-1964
Luiz Ruben F. de A. Bonfim
O que me motivou a fazer este trabalho foi um documento achado no porão
da casa da mãe de minha esposa na cidade de Paulo Afonso, na Bahia.
Era um documento datilografado com as páginas amareladas e danificadas
pelo tempo, datado de 20 de março de 1940 e sem assinatura. Tinha
o seguinte título: Estrada de Ferro Paulo Afonso (arrendada
a "The Great Western of Brazil Railway Company Limited"),
com capa de papel vergê cinza e acabamento de fita crepe na lombada.
Ao ler o documento fiquei curioso e convidei meu cunhado Cláudio,
fotógrafo nas horas vagas, para percorrer, fotografando, o trecho
que a ferrovia fazia e registrar o que restava dela. Fizemos cerca de
350 fotos, trafegando em condições precárias, em
estradas vicinais e picadas no que restou do antigo leito da estrada de
ferro. Apesar das dificuldades, que não foram poucas, estes foram
os melhores momentos do trabalho, pela surpresa do que íamos encontrando
no percurso da linha férrea a ser fotografado. Nas diversas vezes
em que fizemos o trajeto, terminávamos o roteiro na cidade de Piranhas,
em Alagoas, próximo à estação, hoje Museu
do Sertão, à beira do rio São Francisco, no quiosque
de Dona Cleonice, saboreando uma deliciosa peixada com pirão em
um gostosíssimo pitú no alho e óleo.
Na realidade o trabalho veio depois. Excluindo o primeiro documento achado
no porão, fui à procura de novos documentos que me informassem
sobre a ferrovia. Comecei pelo Museu do Sertão, em Piranhas, só
encontrando quatro fotografias e alguns objetos em exposição,
remanescentes da Estrada de Ferro. Já no Museu Delmiro Gouveia,
que está instalado na Estação Pedra / Delmiro, em
uma sala reservada (porque as outras salas estão ocupadas com objetos
da história da Fábrica têxtil e de Delmiro Gouveia),
encontramos um maior número de objetos: relógio, telégrafo,
bilheteria e fotografias das estações nos anos de 1982 e
1983, quando já estavam desativadas. Prosseguindo, fiz uma viagem
ao que é hoje a cidade de Petrolândia, pois a antiga está
inundada pela barragem de Itaparica, em Pernambuco. Encontrei no Centro
Cultural pertencente à prefeitura quatro fotos expostas sobre a
ferrovia, entre elas, a estação Jatobá.
Fiz vários contatos telefônicos, a grande maioria sem resultados,
mas finalmente chegou às minhas mãos o Jornal da Chesf que
continha um artigo escrito pelo engenheiro Antônio Costa Granja
sobre a Estrada de Ferro Paulo Afonso. Contatei-o em Recife, Pernambuco,
e ele me cedeu um documento que tratava da correspondência entre
o Escritório Central de Piranhas e o Presidente da Província
de Pernambuco, um documento valiosíssimo que tratava da questão
fundiária no trajeto em que estava sendo construída a estrada
de ferro (o qual está relatado neste trabalho, na íntegra).
Visitei ainda a biblioteca pública em Recife e em Salvador, em
oportunidades que me foram possíveis em virtude de meus afazeres.
Contatei a Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro,
de onde recebi um resumo da história da estrada, onde se encontrava
a "certidão de nascimento", isto é, o decreto
imperial que autorizava sua construção.
Neste período também chegou às minhas mãos
o jornal Tribuna de Alagoas do dia 5 de outubro de 1997, que está
reproduzido fielmente neste trabalho.
Ao ler o livro Lampião na Bahia, de Oleone Coelho Fontes,
encontramos sem dúvida alguma o relato mais fiel do que realmente
era viajar na estrada de ferro nos anos em que Lampião era o rei
do cangaço.
Quero registrar também as fotografias que me foram fornecidas
por Edvaldo Nascimento e o acesso que o Museu Delmiro Gouveia, através
de seu coordenador Adair Nunes, nos deu para inserirmos nesse trabalho
as fotos da restauração da leocomotiva Paulo Afonso e estação
Pedra / Delmiro.
Este trabalho não teve para mim nenhuma preocupação
de caráter acadêmico, que resultaria em análise sociológica
ou econômica. É puramente um levantamento histórico
com registro fotográfico comparativo da época (do que foi
possível levantar) e do que encontramos hoje, após 37 anos
da desativação da ferrovia.
Este trabalho foi realizado durante o primeiro semestre de 2001.
Luiz Ruben Ferreira de Alcântara Bonfim
Av. Apolônio Sales, 840
48608-100 Paulo Afonso, BA
(75) 281-1389
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