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Ferrovias da Bahia
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Atualmente operado pela CBTU, o sistema de trens de subúrbio de Salvador compõe-se de material rodante já obsoleto e no limite da sua vida útil. Para se chegar aos dias atuais vamos voltar um pouco ao passado para lembrarmos parte da história da antiga Viação Férrea Federal Leste Brasileiro - VFFLB, como até hoje é conhecida pela população local, a atual SR-7 da RFFSA.
Em 28 de junho de 1860 era inaugurado o trecho ferroviário que ligava o bairro da Calçada ao subúrbio de Paripe, com uma extensão de 15,2 km em via singela e bitola de 1,60 m. Os trens eram tracionados por locomotivas a vapor, que percorriam o trecho após uma hora de viagem.
No decorrer do tempo esse trecho passou por uma série de reformas, como a mudança da bitola para 1,00 m na primeira década deste século, a aquisição das primeiras automotrizes diesel de fabricação alemã entre 1926~1929 e a construção de automotrizes diesel nas antigas oficinas de Aramari (próximo a Alagoinhas), a modernização das estações do subúrbio entre 1936~1943, a duplicação das linhas, a construção da ponte São João sobre a enseada dos Cabritos (inaugurada em 1952 e que substituiu a antiga ponte de Itapagipe, construída pelos ingleses) e a eletrificação, para que as locomotivas a vapor dessem lugar a modernas unidades elétricas. A duplicação das linhas até Paripe e a eletrificação ocorreram nas décadas de 40 e 50.
A Bahia já teve cerca de 230 km de linhas férreas eletrificadas: a partir de Salvador, iam até Alagoinhas e, pela Linha Sul, de Mapele até Conceição de Feira. Esses trechos eram percorridos por 13 locomotivas elétricas IRFA, de construção nacional e material elétrico Brown-Boveri e, no início dos anos 80, por 5 locomotivas elétricas Metropolitan Vickers de fabricação inglesa que vieram da SR-2. As locomotivas elétricas foram desativadas por volta de 1986~1987, visto que a eletrificação foi virtualmente erradicada na SR-7, somente restando o trecho do subúrbio operado pela CBTU. Os motivos principais do fim da tração elétrica na Bahia foram a baixa produtividade das locomotivas em função do volume de cargas tracionadas e os constantes furtos dos cabos elétricos da rede aérea, além da própria obsolescência do sistema e da falta de manutenção adequada.
Até 1972, os trens de subúrbio percorriam as linhas até o município de Simões FIlho. Depois passaram a ir até Aratu, Mapele e, a partir do início dos anos 80, somente até Paripe. A demanda atual de passageiros é menor do que há alguns anos, em virtude da crescente concorrência dos ônibus, que oferecem hoje um nível de conforto melhor pagando-se somente Cr$ 50 a mais do que o trem, se bem que este é mais rápido. As empresas de ônibus municipais estão atualmente remodelando suas frotas rapidamente com a aquisição de ônibus do tipo Padron, cobrando tarifas de Cr$ 450, enquanto o trem da CBTU custa Cr$ 400 desde há pouco mais de duas semanas, quando até então sua passagem custava Cr$ 270.
A via permanente, dupla, foi totalmente reconstruída em 1981~1982 e constitui-se de uma superestrutura de primeira categoria com as seguintes características:
Trilhos TR-45 soldados eletricamente, dormentes bi-blocos de concreto com taxa de 1.667 dormentes / km com fixação elástica isolante tipo RS e com velocidade máxima permissível de 70 km/h. O sistema é eletrificado com rede aérea de tração de 3.000V CC e alimentado por duas subestações retificadoras, sendo uma em Lobato (km 3,4), atualmente desligada por medida de economia, e outra em Periperi (km 10,8). Esta última atualmente alimenta todo o sistema e está tão sobrecarregada que somente permite o tráfego simultâneo de 3 TUEs formados por 2 carros-motores e 2 carros-reboque, cada.
No trecho Salvador-Lobato a sinalização é semi-automática, com o pátio da Calçada e a entrada do Lobato dotados de chaves de intertravamento do tipo elétrico e interligados por uma seção de bloqueio semi-automático, com sinaleiros anões para os pátios e sinaleiros altos nas linhas principais. A sinalização do trecho Calçada-Lobato é realizada através de um operador na cabine de sinalização da Calçada e outro na pequeníssima cabine do Lobato. Desta última estação até Paripe os trens são licenciados por telégrafo em código Morse e pelo sistema de talão, com troca deste último em Periperi.
Até o início do ano passado, os trens de subúrbio eram formados por 2 carros-motores e 3 carros-reboque, num total de 5 carros por composição. Em virtude da fadiga do material rodante e para não forçar os motores de tração, os trens hoje possuem 2 carros-reboque, cada.
Como somente 6 carros-motores rodam simultaneamente no sistema, teoricamente restam 12 em reserva. Vários realmente estão sendo reformados, mas com as mesmas características técnicas e com muita lentidão. Faltam peças de reposição e recursos para acelerar estas reformas, e os trens rodam como podem.
Horário de funcionamento: De Segunda a Sábado, das 5h00 às 22h30. Domingos e feriados os trens não circulam. A CBTU justifica que, quando os trens rodavam nesses dias, até há pouco mais de um ano atrás, a população sujava e depredava os carros quando voltava das praias do subúrbio, muitos visivelmente alcoolizados. Como o número de policiais ferroviários é insuficiente para fiscalizar adequadamente as estações e as composições, resolveu-se suspender as viagens nos domingos e feriados.
O sistema atual, projetado para uma demanda de 60.000 passageiros / dia, deixa muito a desejar, principalmente no tocante à qualidade do material rodante, em precário estado de conservação. Os passageiros viajam em veículos com portas quebradas, assentos arrancados, composições sujas, vidros quebrados e sistema de segurança danificado em conseqüência da falta de manutenção adequada e à depredação que os próprios passageiros provocam no equipamento. Este já está no limite de sua vida útil e a única solução seria a renovação de todo o material rodante. É bastante certo que o sistema de Salvador não está no rol de prioridades da CBTU.
Somente para exemplificar, todos os carros-motores não dispõem mais dos limpadores de parabrisa, pois a CBTU alega que a população os arranca, conseqüência da falta de educação de uma parte do nosso povo e da falta de policiamento nas estações. Quando chove, os maquinistas são obrigados a colocar suas cabeças para fora das janelas e correm o risco de levarem pedradas dos moleques que brincam à beira das linhas, principalmente no Lobato. É por isso que a maioria dos carros são equipados com grades nas janelas, para que o usuário não fique desprotegido.
A CBTU já fez campanhas de conscientização da população para não depredarem os trens, mas estas campanhas devem ser intensificadas. A srª Cloé, da assessoria de comunicação social da SR-7, certa vez afirmou-me que o povo não é tão mal-educado assim. Se tivesse um sistema de trens melhor e com carros novos, não o depredaria.
De qualquer forma, e isso atestei, os trens de subúrbio saem e chegam no horário, mesmo com todos os problemas descritos.
A manutenção do material rodante é feita nos depósitos do pátio da Calçada, que carecem de reformas e modernização em suas instalações e equipamentos. Pude apurar que nos tempos da VFFLB a manutenção era muito mais rigorosa e criteriosa. As oficinas de Periperi, hoje pequenas, ainda pertencem à RFFSA e serão entregues à CBTU ainda este ano, visto que a manutenção de locos e vagões da SR-7 está sendo transferida para as duas oficinas existentes em Alagoinhas.
O sistema de trens suburbanos de Salvador também é apoiado por 5 locomotivas diesel-elétricas U8B GE / USA, para o caso de panes no sistema elétrico ou defeitos nos carros-motores.
Número de estações do sistema: 8 (Calçada, Lobato, Almeida Brandão, Itacaranha, Praia Grande, Periperi, Coutos e Paripe).
A solução do sistema suburbano não é difícil, se bem que bastante custosa: renovação do material rodante, extensão da sinalização elétrica e automática para todo o subúrbio, criação e modernização das oficinas de manutenção, reforço na rede aérea de tração e o início de uma campanha sistemática de conscientização da população para a conservação dos trens e estações. Assim, se poderia até aumentar a demanda de passageiros.
Dados Históricos da VFFLB, de Alberto Cury Esper, ex-gerente de relações comerciais da SR-7
Seminário sobre as ferrovias do Estado da Bahia, 1987, Clube de Engenharia da Bahia, AELB e RFFSA
Ferrovias 1988, mapas da RFFSA
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