Marcos Ahorn
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Apesar de várias vezes já ter merecido do Centro-Oeste um espaço em forma de matéria ou comentário, estou certo de que muitos companheiros ainda desconhecem o que é esse tal de live-steam.
O próprio motor a vapor e seu princípio de funcionamento são pouco conhecidos da população em geral, sendo ligados ao passado, a velhas fotografias amareladas, e às "marias-fumaças".
Ora, na Europa, por exemplo, desde o fim do século passado existem fabricantes de máquinas a vapor em miniatura — em sua maioria (por motivo de custos) estacionárias.
Os modelos vão desde uma caldeira vertical e um cilindro único que faz girar um volante (como o que meu pai possui, feito artesanalmente por um tio meu nos anos 30), até modelos com caldeira horizontal, regulador automático de rotação com balancins (para manter constante a rotação mesmo com variações de pressão) e um volante conectado a um pequeno gerador, ou a miniaturas de máquinas operatrizes, como serras, furadeiras etc.
Tudo, imitando com perfeição uma fábrica ou oficina de fins do século XIX, quando o motor a vapor era responsável pela geração de energia elétrica para a iluminação das fábricas, e acionava as máquinas por meio de correias.
Tais modelos foram muito populares na Alemanha, até a II Guerra Mundial.
No museu Märklin, em Göppingen, pude ver em 1991 vários ferreomodelos deste fabricante — alguns, verdadeiramente grandes e complexos, naturalmente destinados a aficcionados possuidores de gordas contas bancárias.
Aliás, entre os brinquedos antigos de maior cotação nos dias de hoje, está um veículo de bombeiros Märklin, com bomba d'água acionada por motor a vapor.
Naquela época o ferreomodelismo também se expandia muito, embora estivesse mais ao alcance dos ricos, e nem sempre se ativesse à representação fiel dos protótipos. Afinal, era um brinquedo...
Era lógico, então, que vários fabricantes desenvolvessem locomotivas realmente a vapor, para suas mini-ferrovias.
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Cabe ressaltar que até cerca de 1935 a menor escala era a O.
Verdadeiras obras-primas, estes modelos a vapor eram aquecidos a álcool. Uma vez em funcionamento, seguiam em velocidade constante, até não terem mais pressão para continuar andando. Geralmente, era o álcool que acabava.
Esta dificuldade de controle (quem conseguiria abrir ou fechar o registro de vapor com o monstrinho andando?...), aliada à pequena autonomia, limitaram seu uso àqueles papais que justificavam seus gastos apontando a locomotiva como um brinquedo altamente educativo.
Não esquecer o risco que o álcool representava para a integridade daqueles pisos de linóleo, e das próprias casas.
Enquanto os remediados se contentavam com um trenzinho movido a corda, os integrantes das classes mais altas travavam enormes discussões sobre o uso do vapor ou da eletricidade para movimentar os modelos de locomotivas a vapor.
Por fim, venceu o bom senso. E depois, a escala OO / HO viabilizou o surgimento de um ferreomodelismo com preços bem mais acessíveis.
No entanto, as locomotivas "a vapor de verdade" não desapareceram.
Ainda há espécimes sobreviventes daqueles tempos, notadamente da escala I, dando suas voltinhas por aí. É o caso de uma linda Pacific da Märklin, de um amigo meu residente na Alemanha.
Também, ainda hoje são fabricados modelos — agora respeitando os protótipos — em escala I, ou até mesmo HO, para maquetes domésticas.
São muito caros, perfeitos, e produzidos por pequenos fabricantes. O maior deles talvez seja a Fulgurex, da Suíça. Os fabricantes adotam aquecimento elétrico (com resistências), a álcool, e até mesmo a carvão. Infelizmente, conheço-os apenas por catálogos, de forma que não posso oferecer maiores detalhes.
Também há interesse dos modelistas por motores a vapor para barcos; e as antigas máquinas estacionárias encontram boa receptividade, ainda hoje.
Wilesco, da Alemanha, é seguramente o maior fabricante de brinquedos a vapor ainda existente. Produz diversos tipos de máquinas estacionárias, motores para nautimodelismo, rolos compressores, tratores, carros de bombeiros, e todos os acessórios imagináveis.
Enquanto algumas máquinas estacionárias oferecem a opção de aquecimento elétrico, os motores para nautimodelismo também podem ser aquecidos a gás. No entanto, para todos os modelos, a opção básica é de aquecimento por combustível sólido, o chamado "álcool seco".
Trata-se de tabletes brancos, que são encaixados na fornalha; acendem-se com um fósforo; não têm chama (como o álcool); e não deixam resíduos.
Os "brinquedos" da Wilesco passam por vários testes de segurança. As caldeiras são testadas uma a uma, sob pressão de 5 bar (aprox.
5 kg/cm2
Por várias vezes, tive oportunidade de ver esses "brinquedinhos" funcionando. São de dar água na boca!
No Brasil, há um fabricante de máquinas estacionárias, cujos modelos são encontrados em lojas como Lupatelli.
E quanto ao "verdadeiro" live-steam — como fazem o Arnaldo Bottan e seu irmão Pedro, construindo cada peça da locomotiva a partir do zero, exceto 2 ou 3 peças compradas do exterior?
Bom... Há que levar em conta que os dois fazem em ferro fundido até mesmo as rodas de suas locomotivas.
Na Europa, várias vezes vi, em exposições, rodas, manômetros, visores de nível, injetores de vapor, tijolinhos refratários, e até caldeiras prontas e/ou em kits.
A quantidade de itens prontos para montar, ou para usinar no torno, fresadora etc., é tão grande, que é muito fácil fabricar sua própria locomotiva.
Há clubes específicos de live-steam, e um deles sempre está presente em qualquer exposição, levando adultos e crianças para "dar uma voltinha" num circuito oval — isso no inverno, pois no verão a diversão é ao ar livre, existindo até ferrovias live-steam itinerantes, que cobram ingresso pelo passeio.
Tive a oportunidade de conversar bastante com o Arnaldo Bottan, e de me maravilhar observando as obras-primas deste eletricista de profissão, e engenheiro ferroviário de coração. É incrível o know-how que teve de juntar para conseguir produzir suas locomotivas.
Tive a honra de ser convidado para trabalhar com ele, mas a falta de tempo, devido às constantes viagens, me impediu de aceitar. Fica, no entanto, a vontade de fabricar minha própria locomotiva a vapor, seguindo os conselhos do mestre Arnaldo.
Conhecendo as dificuldades que o Arnaldo e o Pedro têm — por estarem sozinhos —, quase caí de costas ao ler, no CO-87/16, o artigo do Moysés Naime Neto, de Duque de Caxias, RJ...
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